UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
FILIPE ARNONI
A HOSPITALIDADE EM ESPAÇOS GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY
DE PORTO ALEGRE (RS)
São Paulo
2023
FILIPE ARNONI
A HOSPITALIDADE EM ESPAÇOS GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY
DE PORTO ALEGRE (RS)
Dissertação de Mestrado apresentada
ao programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Hospitalidade, da
Universidade Anhembi-Morumbi do
Grupo Ânima Educação, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre
em Hospitalidade.
Orientadora: Profa. Dra. Valéria Ferraz Severini.
São Paulo 2023
Ficha Bibliográfica elaborada pela biblioteca UAM
Com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
A768h Arnoni, Filipe Gonçalves
A hospitalidade em espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly
de Porto Alegre (RS) / Filipe Gonçalves Arnoni – 2023.
236f; 30 cm.
Orientador: Valéria Ferraz Severini.
Dissertação (Mestrado em Hospitalidade) - Universidade Anhembi
Morumbi, São Paulo, 2023.
Bibliografia: f. 105-116.
1. Hospitalidade. 2. Dimensões. 3. Espaços Gastronômicos.
4. LGBTQIA+. 5. Porto Alegre. I. Título.
CDD 647.94
Bibliotecária Iara Neves CRB 8/8799
FILIPE GONÇALVES ARNONI
A HOSPITALIDADE EM ESPAÇOS GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY DE
PORTO ALEGRE (RS)
Dissertação de Mestrado apresentada ao
programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Hospitalidade, da Universidade Anhembi-
Morumbi do Grupo Ânima Educação, como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Hospitalidade.
São Paulo, __ de setembro de 2023.
Profª. Drª. Valéria Ferraz Severini
(Orientadora)
Universidade Anhembi Morumbi
Profª. Drª. Míriam Rejowski
Universidade Anhembi Morumbi
Prof. Dr. Leandro Brusadin
Universidade Federal de Ouro Preto
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço à minha orientadora, Profª. Drª. Valéria Ferraz
Severini, pela acolhida calorosa no Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade,
bem como pela paciência, disponibilidade, ensinamentos, conversas, parceria,
esperança e entusiasmo contagiantes, que tornaram esta jornada gratificante e
prazerosa.
Agradeço também aos professores e colegas, representados pelas pessoas da
Profª. Drª. Elizabeth Wada e do Prof. Dr. Airton Cavenaghi, pelo apoio e contribuições
ao longo desta pesquisa.
Expresso minha gratidão à Universidade Anhembi Morumbi pelo suporte por
meio da concessão de bolsas de estudo institucionais.
Meus agradecimentos se estendem aos entrevistados pela disponibilidade e
colaborações sobre a temática pesquisada.
Por fim, quero agradecer aos meus pais, que estão sempre em meus
pensamentos e em meu coração, pelo incentivo incansável na busca da evolução
pessoal por meio da educação, e à minha família – Bruna, Laura, Marcelo, Raul, Jorge
– e ao meu amor – Thomas – pelo apoio, incentivo e paciência ao longo de todo o
percurso.
Um novo tempo há de vencer
Pra que a gente possa florescer
E, baby, amar, amar, sem temer
Eles não vão vencer
Baby, nada há de ser, em vão
Antes dessa noite acabar
Baby, escute, é a nossa canção
E flutua, flutua
Ninguém vai poder, querer nos
dizer como amar
(HOOKER, JOHNNY. 2017).
RESUMO
Partindo do pressuposto de que a forma pela qual os territórios urbanos são
disponibilizados para o usufruto dos mais variados grupos sociais, incluindo a
população LGBTQIA+, pode indicar sua condição hospitaleira de cidade, este estudo
objetivo principal é investigar as dimensões da hospitalidade e as características dos
espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly nas grandes cidades capazes de
despertar sensações de acolhimento e bem-estar, bem como contribuir para a
cidadania nos espaços urbanos, considerando as perspectivas tanto dos anfitriões
quanto dos hóspedes. O estudo foi conduzido em três fases. A primeira consistiu em
uma investigação qualitativa exploratória, baseada em pesquisa bibliográfica e
documental, para desenvolver o referencial teórico. A segunda etapa envolveu
pesquisa teórico-empírica, combinando pesquisa bibliográfica e documental visando
identificar e mapear os estabelecimentos gastronômicos em Porto Alegre/RS. A
terceira fase compreendeu a coleta de comentários de usuários do Mapa LGBTQIA+
da Nohs Somos, entrevistas semiestruturadas com gestores desses estabelecimentos
e observação participante em seus espaços. Os dados coletados foram analisados
utilizando a análise de conteúdo, complementada pela triangulação dos dados com o
material teórico. Os resultados corroboram com os pressupostos de pesquisa, a partir
das percepções de anfitriões e hóspedes, sobre a presença de dimensões da
hospitalidade, territorialidade; simbólica; social: acolhimento; comensalidade;
sociabilidade e urbanidade, nos espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly de Porto
Alegre. Esses espaços podem ser caracterizados pelo atendimento acolhedor,
ambientação diferenciada, promoção de segurança e liberdade para manifestação dos
afetos, como também a conexão com os movimentos e ações sociais de relevância
para essa comunidade na cidade. Os espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly
desempenham um papel importante na promoção da inclusão e da cidadania para a
comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades. Esses espaços oferecem um ambiente
seguro e acolhedor onde as pessoas podem ser elas mesmas e expressar suas
identidades sem medo de preconceito ou discriminação.
Palavras-chave: Hospitalidade. Dimensões. Espaços gastronômicos. LGBTQIA+.
Porto Alegre.
ABSTRACT
Based on the assumption that the way in which urban territories are made available for
the enjoyment of the most varied social groups, including the LGBTQIA+ population,
can indicate its hospitable condition of city, this study aims to investigate the
dimensions of hospitality and the characteristics of LGBTQIA+ friendly food
establishments in large cities capable of awakening feelings of welcome and well-
being, as well as contributing to citizenship in urban spaces, considering the
perspectives of both hosts and guests. The study was conducted in three phases. The
first consisted of an exploratory qualitative investigation, based on bibliographical and
documentary research, to develop the theoretical framework. The second stage
involved theoretical-empirical research, combining bibliographical and documentary
research aimed at identifying and mapping food establishments in Porto Alegre/RS.
The third phase involved collecting user comments from the Nohs Somos LGBTQIA+
Map, semi-structured interviews with managers of these establishments, and
participant observation in their spaces. The data collected were analyzed using content
analysis, complemented by triangulation of the data with the theoretical material. The
results corroborate the research assumptions, based on the perceptions of hosts and
guests, on the presence of dimensions of hospitality, territoriality; symbolic; social:
welcome; commensality; sociability and urbanity, in LGBTQIA+ friendly food
establishments in Porto Alegre. These spaces can be characterized by welcoming
service, different atmosphere, promotion of security and freedom of expression of
affection, as well as connection with social movements and actions of relevance for
this community in the city. In conclusion, LGBTQIA+ friendly food establishments play
an important role in promoting inclusion and citizenship for the LGBTQIA+ community
in large cities. These spaces offer a safe and welcoming environment where people
can be themselves and express their identities without fear of prejudice or
discrimination.
Keywords: Hospitality. Dimensions. Gastronomic spaces. LGBTQIA+. Porto Alegre.
LISTA DE IMAGENS
Figura 1 – Mapa de lugares históricos da comunidade LGBT de Nova Iorque……….43
Figura 2 – Guias de estabelecimentos LGBTQIA+ friendly de Nova Iorque: Gay
Mapper e Mister B&B em 2022………………….………………………………………...44
Figura 3 – Mapa de estabelecimentos LGBTQIA+ friendly de Buenos Aires...............45
Figura 4 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em Palermo, Buenos
Aires...........................................................................................................................46
Figura 5 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em Palermo, San Telmo e
Recoleta, Buenos Aires.............................................................................................. 47
Figura 6 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em São Paulo durante o mês
de Junho de 2022 (1) ..................................................................................................49
Figura 7 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em São Paulo durante o mês
de Junho de 2022 (2) ..................................................................................................50
Figura 8 – Mapa do Guia Gay de Porto Alegre de 2005 do Grupo Nuances.............. 52
Figura 09 – Mural do Grupo Nuances na Cidade Baixa em homenagem à Negra
Lú............................................................................................................................... 56
Figura 10 – Página inicial do Mapa LGBTI+ da Nohs Somos em Porto
Alegre/RS...................................................................................................................61
Figura 11 – Mapa dos espaços gastronômicos classificados como LGBTQIA+ friendly
em Porto Alegre por usuários da plataforma Nohs Somos..........................................76
Figura 12 – Nuvem de palavras por recorrência dos comentários de usuários sobre os
espaços gastronômicos amigáveis em Porto Alegre...................................................77
Figura 13 – Mapa das coocorrências de códigos nos comentários
avaliados....................................................................................................................78
Figura 14 – Nuvem de palavras por recorrência das entrevistas de gestores dos
espaços gastronômicos amigáveis em Porto Alegre..................................................79
Figura 15 – Ambientações dos espaços amigáveis de Porto Alegre (1) .....................82
Figura 16 – Ambientações dos espaços amigáveis de Porto Alegre (2) .....................92
Figura 17 – Ambientações dos espaços amigáveis de Porto Alegre (3) .....................93
Figura 18 – Divulgações das colaborações de espaços gastronômicos amigáveis com
a Parada Livre de Porto Alegre...................................................................................96
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Roteiro de temático de entrevistas............................................................63
Quadro 2 – Caracterização das entrevistas................................................................65
Quadro 3 – Roteiro das observações participantes.....................................................66
Quadro 4 – Códigos de análise qualitativa das avaliações e entrevistas.....................68
Quadro 5 – Matriz de Amarração Metodológica..........................................................70
Quadro 6 – Resultados preliminares: espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly de
Porto Alegre por Região..............................................................................................74
Quadro 7 – Espaços gastronômicos classificados como LGBTQIA+ friendly em Porto
Alegre pelos usuários da plataforma da Nohs Somos.................................................75
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................12
2. DOMÍNIOS, ESPAÇOS E LUGARES DA HOSPITALIDADE........................18
2.1 CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA HOSPITALIDADE...............................18
2.2 A HOSPITALIDADE NAS GRANDES CIDADES............................................23
2.3 OS ESPAÇOS GASTRONÔMICOS COMO LUGARES DE
HOSPITALIDADE............................................................................................29
3. ESPAÇOS LGBTQIA+ FRIENDLY NAS GRANDES
CIDADES...............................................................................................................33
3.1 O DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO LGBTQIA+ NO MUNDO E NO
BRASIL...................................................................................................................33
3.2. OS ESPAÇOS SOCIAIS LGBTQIA+ FRIENDLY........................................37
3.2.1 Nova Iorque............................................................................................................42
3.2.2 Buenos Aaires........................................................................................................46
3.2.3 São Paulo....:..........................................................................................................49
3.2.4 Porto Alegre............................................................................................................51
4. METODOLOGIA ..............................................................................................57
4.1 ABORDAGEM, PROCEDIMENTOS E MÉTODO.............................................57
4.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DADOS.......................................................59
4.2.1 Primeira Etapa.........................................................................................................59
4.2.2 Segunda Etapa........................................................................................................60
4.2.3 Terceira Etapa.........................................................................................................62
4.3 PROCEDIMENTOD DE ANÁLISE DOS DADOS....................................................68
5. A HOSPITALIDADE NOS ESPAÇOS GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY
DE PORTO ALEGRE.............................................................................................72
5.1 DISCUSSÃO E RESULTADOS PRELIMINARES..................................................72
5.2 AS DIMENSÕES DA HOSPITALIDADE E AS CARACTERÍSTICAS DOS ESPAÇOS
GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY DE PORTO ALEGRE........................81
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................100
REFERÊNCIAS..............................................................................................105
APÊNDICE A - MAPA DOS ESPAÇOS GASTRONÔMICOS AMIGÁVEIS ÀS
COMUNIDADE LGBTQIA+ DE PORTO ALEGRE........................................117
APÊNDICE B - COMENTÁRIOS DOS USUÁRIOS ANALISADOS..............118
APÊNDICE C– TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 1...................................127
APÊNDICE D – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 2..................................134
APÊNDICE E – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 3..................................143
APÊNDICE F – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 4..................................148
APÊNDICE G – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 5..................................153
APÊNDICE H – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 6..................................162
APÊNDICE I – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 7...................................173
APÊNDICE J – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA 8.................................180
ANEXO A – TERMOS DE CONSENTIMENTOS...........................................188
ANEXO B – CARTILHA POA LGBT.............................................................196
ANEXO C – MAPA TURÍSTICO DE PORTO ALEGRE................................229
12
1. INTRODUÇÃO
A hospitalidade como campo de pesquisa busca a compreensão das relações
sociais entre anfitrião e hóspede, em um determinado tempo e espaço (CAMARGO,
2004; 2015; LASHLEY, 2000, 2015; SEVERINI, PANOSSO NETTO, 2022). Através
da oferta de abrigo, proteção, alimentação e entretenimento aos que estão fora de seu
hábitat (CAMARGO, 2004), a hospitalidade é uma prática identificada nas mais
diversas sociedades, sofrendo influência de diversos constructos socioculturais,
incluindo a ocupação espacial e as relações de poder. Severini e Panosso Netto
(2022) entendem que a hospitalidade, como paradigma de investigação das ciências
sociais aplicadas, possibilita uma forma alternativa e inovadora de investigação
socioespacial dessas ligações.
A partir da difusão das religiões monoteístas, principalmente judaico-cristãs, e
sua influência nas constituições dos Estados e das formações sociais, passou-se a
constituição da sociedade ocidental com base na matriz cidadã materializada no
núcleo familiar, monogâmica, patriarcal, heteronormativa e burguesa (CAETANO
ET.AL, 2018; NASCIMENTO, 2015). Na sociedade contemporânea, também
concebida como pós-moderna, as relações sociais estão caracterizadas pelo
individualismo, indeterminação, fragmentariedade e são marcadas pelos efeitos do
multiculturalismo, globalização, desigualdades, marginalização, constantes avanços
tecnológicos e de comunicação, onde busca-se fugir das relações indesejadas,
tornando-as efêmeras (GODBOUT, 1998; BAUMAN, 2001; GRINOVER, 2009).
Essa situação pode ser percebida com mais facilidade nas grandes cidades,
onde a “urbanidade” indica uma hospitalidade encenada e aponta a superficialidade
das relações sociais, segundo Camargo (2021). O autor entende que as relações de
hospitalidade ocorrem em seus interstícios, marcados pela inospitalidade quando não
pela hostilidade (CAMARGO, 2015), em uma sociedade marcada pela diversidade.
A palavra diversidade, do latim diversitas, representa diferença, variedade,
multiplicidade, pluralidade, podendo ser entendida como a construção histórica,
cultural e social das diferenças (BERNARDINO & VANZUITA, 2021; SILVA, 2021).
Nossas vivências sociais são estabelecidas por diversos atributos e suas
intersecções, por exemplo de orientação sexual, gênero, sexo, faixa etária, raça/cor,
etnia, deficiência, etc. (KOTLINSKI, 2021). Richardson (2018) defende que a
sexualidade desempenha um papel essencial na cidadania, sendo os direitos sexuais
13
um elemento significativo dos direitos humanos. Além disso, a autora destaca que a
sexualidade constitui um campo crucial na busca por equidade e justiça social
(RICHARDSON, 2018).
Em um sistema social complexo, esses aspectos designam o grupo majoritário
e grupos minoritários, de onde decorrem as relações de poder e hegemonia
(BERNARDINO & VANZUITA, 2021; HANASHIRO & CARVALHO, 2005). Tal
dinâmica se agrava quando o espaço urbano passa a sofrer modificações, perante um
modelo de desenvolvimento que alimenta uma ideia de cidade como somatória de
tecidos urbanos soltos que não se conectam e de territórios que possuem diferentes
formas de apropriação e relações de poder. Uma das consequências dessa falta de
recomposição socioespacial se mostra na forma de “guetos” ou territórios ocupados
pelas minorias, entre elas a comunidade LGBTQIA+.
Segundo Simões e França (2005, p.310), os guetos homossexuais são
“espaços urbanos públicos ou comerciais (...) onde as pessoas que compartilham uma
vivência homossexual podem se encontrar”, que segundo Puccinelli (2014, p. 171)
acabam “ressonando processos de disputa espacial, significações de segregação e
modos de inteligibilidade de apropriações”. Os autores dão ênfase às dimensões
políticas e culturais “em diálogo com concepções renovadas de territorialidades
itinerantes e flexíveis” (SIMÕES; FRANÇA, 2005, p.311). No Brasil, essas áreas
também são qualificadas como "manchas", diferentemente de outras partes do
mundo, onde existem guetos distintos como o Castro em São Francisco e Greenwich
Village em Nova Iorque, com fronteiras bem definidas de ocupação e utilização
(ALNEIDA, 2018; FIGUEIREDO; CAVEDON, 2012; PUCCINELLI, 2014).
Os acrônimos utilizados para designar as minorias decorrentes das diferentes
expressões de orientação sexual e identidade de gênero, e dos movimentos sociais
que lutam pela igualdade de direitos sexuais, tiveram uma evolução histórica
perpassando os termos “movimento homossexual”, movimento gay, GLS (gays,
lésbicas e simpatizantes), GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais)
LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), LBTQI (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais, queer e intersexo) ao LBTQIA+. Nele a letra L
representa as lésbicas, G representa os gays, B os bissexuais, T representa travestis,
transexuais e transgêneros, Q representa as pessoas queer, que não seguem o
modelo de heterossexualidade ou do binarismo de gênero, I representa pessoas
intersexo, A representa agêneros e assexuados, e o símbolo + representa a fluidez e
14
inclusão das demais identidades sexuais e de gênero (BORTOLETTO, 2019;
FACCHINI, 2020; OLSON; PARK, 2019; TADIOTO, 2016).
Optou-se por utilizar neste trabalho o acrônimo LGBTQIA+, em razão de sua
maior abrangência quanto as expressões contemporâneas da diversidade sexual.
Destaca-se, ainda, que os progressos sociais, políticos, jurídicos e espaciais da
população LGBTQIA+, através do reconhecimento como sujeitos na sociedade de
consumo e de exercício da sua cidadania, continuam em risco no Brasil e no mundo,
seja pelo avanço de uma onda conservadora e retomada da pauta de costumes
heteronormativos, seja pelos impactos econômicos e sociais causados pela pandemia
da Covid-19 nos espaços LGBTQIA+ friendly em atividade (GUARACINO; SALVATO,
2017; MORIN, 2020). Em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, esses
riscos são potencializados por uma cultura local sexista, de culto à virilidade de um
tipo masculino e heterossexual, imortalizado na figura do gaúcho (PASSAMANI,
2008), onde cerca de 2% da população se declaram homossexuais ou bissexuais
(IBGE, 2019).
São vastos os estudos sobre diversidade sexual e de gênero e da teoria Queer
nas ciências humanas e sociais aplicadas, como sociologia, antropologia, geografia,
assim como administração, marketing e turismo. No entanto são escassas as
investigações a partir do paradigma teórico da hospitalidade, em especial sobre a
perspectiva das dimensões da hospitalidade nos espaços sociais amigáveis à
comunidade LGBTQIA+.
Em conjunto com as vivências pessoais do pesquisador, seus processos de
aceitação e compreensão da própria orientação sexual, assim como as novas
percepções sobre as dinâmicas sociais em espaços gastronômicos, esse cenário
despertou o interesse em investigar as relações de hospitalidade nos espaços sociais
LGBTQIA+ friendly das grandes cidades brasileiras, em especial nos espaços
gastronômicos, como bares, cafés e restaurantes, na cidade de Porto Alegre,
buscando-se contribuir para o campo da hospitalidade na abordagem a cerca das
pessoas LGBTQIA+.
A pesquisa tem como objetivo responder a seguinte pergunta: “Quais as
relações entre hospitalidade, cidadania e a oferta de espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly no território de grandes cidades?”. Parte-se do pressuposto que a
forma pela qual os territórios urbanos são disponibilizados para o usufruto dos mais
15
variados grupos sociais, incluindo a população LGBTQIA+ friendly, pode indicar sua
condição hospitaleira de cidade.
Assim, o principal objetivo desta pesquisa é investigar as dimensões da
hospitalidade e as características dos espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly nas
grandes cidades capazes de despertar sensações de acolhimento e bem-estar, bem
como contribuir para a cidadania nos espaços urbanos, considerando as perspectivas
tanto dos anfitriões quanto dos hóspedes. Já os objetivos específicos são:
a) Verificar como dimensões da hospitalidade e características dos espaços
gastronômicos LGBTQIA+ friendly se relacionam na promoção de sensações de
acolhimento e bem-estar para os atores envolvidos, anfitriões e hóspedes.
b) Identificar e mapear os espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly Porto
Alegre/RS, enfocando aqueles que são referência para a comunidade LGBTQIA+;
c) Analisar as dimensões da hospitalidade presentes nos espaços
gastronômicos LGBTQIA+ friendly de Porto Alegre/RS, considerando as percepções
dos anfitriões e hóspedes.
d) Verificar como as características dos espaços gastronômicos LGBTQIA+
friendly são percebidas pelos anfitriões e hóspedes em Porto Alegre/RS;
Trata-se de pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, instrumentalizada
por meio de uma revisão da literatura, pesquisa documental, coleta de comentários de
usuários, e entrevistas semiestruturadas e observação participante em espaços
gastronômicos amigáveis à comunidade LGBTQIA+ de Porto Alegre. A base da
pesquisa é formada por uma ampla variedade de fontes primárias e secundárias,
incluindo livros, artigos científicos e matérias publicadas em sites, bem como dados
geográficos, fotográficos e documentais obtidos a partir da pesquisa de campo,
anotações de observação participante, comentários dos usuários da plataforma Mapa
LGBTQIA+ da Nohs Somos e entrevistas com gestores. Além disso, os resultados da
pesquisa também são frutos da análise de conteúdo, seguindo as técnicas descritas
por Bardin (2006), e de análise crítica por meio da triangulação dos diversos dados
coletados, em comparação mútua. A combinação dessas fontes de dados e análises
permite uma compreensão mais completa e abrangente sobre o tema em questão.
A dissertação está estruturada em 6 capítulos, sendo o primeiro esta
Introdução. No capítulo 2, "Domínios, Espaços e Lugares da Hospitalidade", são
explorados os aspectos históricos, teóricos e práticos da hospitalidade. Através de
uma pesquisa bibliográfica e documental, apresenta-se as origens da hospitalidade e
16
sua evolução ao longo do tempo, incluindo seus conceitos e fundamentos. Além disso,
são debatidas as diversas perspectivas sobre a hospitalidade na sociedade
contemporânea e sua importância para a construção de relações interpessoais e para
a promoção do bem-estar social. Este capítulo também destaca a relação entre
hospitalidade e espaços gastronômicos, como bares, restaurantes e cafés, explorando
como eles se tornaram locais de acolhimento e interação social para as pessoas. Em
suma, este capítulo visa a compreensão da hospitalidade em todas as suas
dimensões, como uma forma de compreender a importância desta prática na
sociedade atual.
No capítulo 3, de "Espaços LGTQIA+ friendly nas grandes cidades e dimensões
da hospitalidade", são apresentadas as discussões sobre o desenvolvimento dos
movimentos sociais da comunidade LGBTQIA+ a nível global e no Brasil. Além disso,
as questões relacionadas à importância dos espaços sociais para a comunidade
LGBTQIA+ e a sua evolução ao longo do tempo, incluindo a luta pelos direitos e a
aceitação social são exploradas. Também, são analisados os desafios e barreiras
enfrentados pela comunidade, bem como as oportunidades e avanços obtidos ao
longo da história. Este capítulo discute, ainda, as dimensões da hospitalidade em
espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly nas grandes cidades, como Nova Iorque,
Buenos Aires, São Paulo e Porto Alegre. Aqui são objeto de análise a importância dos
espaços gastronômicos como lugares acolhedores e inclusivos para a comunidade
LGBTQIA+ e como eles contribuem para a construção da identidade e da comunidade
desta população.
No capitulo 4 "Metodologia", são apresentado o processo metodológico
aplicado ao longo da realização desta pesquisa. Neste capítulo, inicia-se pela
descrição da abordagem teórica adotada, incluindo os procedimentos e métodos que
foram seguidos para garantir a integridade dos resultados. Além disso, são detalhados
os meios de coleta e de análise de dados, incluindo a utilização de fontes secundárias,
entrevistas com gestores de espaços gastronômicos de Porto Alegre de espaços
amigáveis à comunidade LGBTQIA+, e realização de observações diretas nesses
espaços.
No quinto capítulo, denominado “A hospitalidade nos espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly de Porto Alegre”, são apresentadas as discussões e resultados
acerca das manifestações da hospitalidade em espaços gastronômicos amigáveis à
LGBTQIA+ de Porto Alegre. A partir das categorias de análise estabelecidas
17
previamente, passam a ser discutidos os resultados da triangulação dos dados obtidos
nas entrevistas, reviews, observações, mapeamento e revisão da literatura. Por fim,
em Considerações Finais são apresentadas as percepções sobre os resultados, onde
busca-se compreender melhor o papel desses espaços na promoção da inclusão e
diversidade na sociedade contemporânea. Da mesma forma, são delineadas
possíveis áreas para pesquisas futuras, com potencial para aprofundar ainda mais
nossa compreensão das dinâmicas de hospitalidade em contextos diversos.
18
2. DOMÍNIOS, ESPAÇOS E LUGARES DA HOSPITALIDADE
2.1 CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA HOSPITALIDADE
O termo hospitalidade, contemporaneamente, é muito utilizado para definir o
setor de negócios e organizações que atuam no setor de turismo: alimentação,
hospedagem e viagens (BOTTORFF, 2013; COSTA, 2015). No entanto, o estudo da
hospitalidade envolve a compreensão das relações entre anfitrião e hóspede, e suas
características, tratando da interação humana pelo olhar do anfitrião (CAMARGO,
2004; 2015). Camargo (2004) apresenta duas escolas para o estudo da hospitalidade,
orientadas pelas tradições americana e francesa.
Segundo o entendimento dos estudiosos da tradição americana, a
hospitalidade é vista sob uma visão comercial, como contrato de troca, e descreve os
estabelecimentos e serviços relacionados à oferta comercial de hospedagem,
alimentação e bebidas, como hotéis, bares, restaurantes, cafeterias, lanchonetes e
etc. (CAMARGO, 2004; LASHLEY, 2015). Já segundo a linha francesa, a
hospitalidade está relacionada ao conceito de dádiva, com fundamento na tríade
maussiana de dar-receber-retribuir com foco nos espaços domésticos e públicos
(CAMARGO, 2004; FALTIN; GIMENES-MINASSE, 2019).
Surgem, ainda, duas propostas simultâneas de estabelecer conexões entre
essas visões sobre a hospitalidade com os trabalhos de estudiosos dos grupos de
Conrad Lashley e Luiz Octavio de Lima Camargo (CAMARGO, 2004), adotados neste
trabalho. Brusadin (2022) sugere uma terceira corrente, a(s) escola(s) brasileira(s) da
hospitalidade(s), considerando a vasta amplitude e a diversidade temática com que a
hospitalidade é ensinada e investigada no país.
O conceito de dádiva compreende “tudo o que circula na sociedade que não
está ligado nem ao mercado, nem ao Estado (redistribuição), nem à violência física”
(GODBOUT, 1998, p.7) ou “é o que circula em prol do ou em nome do laço social”
(GODBOUT, 1998, p.7). Desse modo, a dádiva é desinteressada de contraprestações
e espontânea (GODBOUT, 1998). Faltin e Gimenes-Minasse (2019) entendem que a
hospitalidade se traduz como uma forma atenuada de dádiva e compreende “um
vínculo entre dois homens estabelecido pela obrigação de compensação de uma
dádiva e contra dádiva” (FALTIN; GIMENES-MINASSE, 2019, p.642).
As práticas de hospitalidade, que consistem em fornecer abrigo, proteção,
acolhimento e manutenção de necessidades fisiológicas, como comida e bebida,
19
contribuíram para a formação de sociedades, estabelecimento de fronteiras e relações
com estrangeiros ou desconhecidos (BENVENISTES, 1995; MONTANDON, 2011;
PITT-RIVERS, 2012; RAFFESTIN, 1993). Assim, a hospitalidade está ligada às várias
facetas da interação humana. Bastos e Rejowski (2015) sugerem nove dimensões da
hospitalidade e suas variáveis, que estão presentes nos estudos de suas
manifestações:
a) ambiental: meio ambiente; b) cultural: patrimônio cultural, festa, tradição,
ritual, e mito; c) econômica: trabalho, gestão, marketing, perfil profissional e
serviço; d) educacional: ensino, treinamento e qualificação profissional; e)
material: espaços, equipamentos e arquitetura; f) política: poder e política
pública; g) religiosa: religiosidade; h) simbólica: estilo, imaginário; i) social:
acolhimento, comensalidade, comunicação, dádiva, etiqueta, sociabilidade e
urbanidade (BASTOS; REJOWSKI, 2015, p.143).
Ademais, as relações de hospitalidade surgem do estabelecimento de território
e fronteiras, que podem ser geográficas ou não, como normas, regulamentos, leis da
cidade e da hospitalidade, dicotomia entre interior e exterior e transposição dessas
fronteiras (SALLES et al., 2010). Raffestin (1993) assevera que o território surge da
apropriação, concreta ou abstrata, conduzida por um ator sintagmático, que realiza
um programa em qualquer nível, definido assim como “um espaço onde se projetou
um trabalho, seja energia ou informação, e que, por consequência revela relações
marcadas pelo poder” (RAFFESTIN, 1993, p.144), passando-se a constituir o
processo de territorialidade de um espaço, onde “a territorialidade adquire um valor
bem particular, pois reflete a multidimensionalidade do "vivido" territorial pelos
membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral” (RAFFESTIN, 1993,
p.158).
O autor ainda afirma que o “espaço é a ‘prisão original’, o território é a prisão
que os homens constroem para si” (RAFFESTIN, 1993, p.144). Nas mais diversas
dimensões da sociedade, momentos e espaços, todos constituem atores
sintagmáticos que produzem territórios, o Estado, organizações, grupos sociais, e até
os indivíduos, inscrevendo-os em campos de poder e de problemática relacional
(RAFFESTIN, 1993). A constituição do território é ato material e imaterial, onde são
estabelecidos limites físicos e regras morais, que definem uma interioridade e uma
exterioridade (RAFFESTIN, 1997). Afirma Raffestin que
Le passage de l'extériorité à l'intériorité suppose une autorisation ou une
invitation régulée par un rite, celui justement de l'hospitalité. L'hos- pitalité est
un rite qui autorise la transgression de la limite sans recours à la violence. Elle
20
est un « mécanisme » caractéristique des marges, de toutes les marges,
qu'elles soient matérielles ou non, de ces marges qui réalisent la
contraposition de la violence et de la convivialité (RAFFESTIN, 1997, p.166,)1.
Assim, a hospitalidade resta caracterizada como “un élément syntaxique dans
la vie sociale.” (RAFFESTIN, 1997, p.167)2, articulando o interior e o exterior, o
conhecido e o desconhecido, o localizado e o errante, o amigo e o inimigo
(RAFFESTIN, 1997). O autor ressalta, ainda, o fato de a hospitalidade estar enraizada
culturalmente, mantendo-se renovada em diversas formas, indo além da relação entre
o que recebe e o que é recebido (RAFFESTIN, 1997), podendo ser concebida “como
o conhecimento da prática que o homem mantém com o “outro”, mas através dele
mesmo” (RAFFESTIN, 1997, p.168). Quem acolhe é um hóspede em espera,
enquanto o acolhido é um anfitrião em espera, onde um pode assumir o papel do outro
(RAFFESTIN, 1997), situados “l'un et l'autre sont engagés dans un vaste système
d'échange dont les contreparties sont différées et assumées dans un processus
temporel indéfini” (RAFFESTIN, 1997, p. 168) 3.
Para Grassi (2011), a oferta da hospitalidade, nas mais diversas formas,
compreende a transposição dessas fronteiras, exemplificada através do rito da soleira.
Da mesma forma, ao acolher, ofertando abrigo, alimento ou bebida, reconhece-se o
outro como igual e abre-se sua passagem para adentrar ao território.
A acolhida passa a ser o momento inaugural e decisivo da hospitalidade,
acompanhada pelos rituais de contato e passagem, através de uma autorização ou
convite (BINET-MONTANDON, 2011; CAMARGO, 2015; GRASSI, 2011). Binet-
Montandon (2011) destaca a importância da acolhida como um ato que estabelece
um vínculo social entre o anfitrião e o hóspede:
Acolhida é uma construção do vínculo social, é um gesto fundador de uma
relação de hospitalidade, que coloca o hóspede em uma posição de
dependência em relação ao anfitrião e este em uma posição de
responsabilidade em relação ao hóspede (BINET-MONTANDON, 2011, p. 9).
1 Tradução própria: “A passagem da exterioridade para a interioridade supõe uma autorização ou um
convite controlado por um rito, justamente o da hospitalidade. A hospitalidade é um rito que autoriza a
transgressão do limite sem recorrer à violência. Ela é um “mecanismo” característico dos limites, de
todos os limites sejam materiais ou não”.
2 Tradução própria: “elemento sintático na vida social’.
3 Tradução própria: “em um vasto sistema de trocas cujas contrapartidas são diferidas e assumidas em
um processo temporal indefinido”
21
Esses códigos ritualizados de contato e iniciação ao espaço do anfitrião
evidenciam a carga simbólica do processo de hospitalidade, em que este torna-se
parte daquele que acolhe, sem perder o status de hóspede, em uma experiência de
alteridade de ambos (BINET-MONTANDON, 2011).
Essas características também constituem um instrumento de reforço da
hierarquia social, mantendo e reforçando as diferenças entre privilegiados e excluídos,
pois protege-se os equivalentes e mantem fora das fronteiras os indesejáveis e
vulneráveis (LASHLEY; LYNCH; MORRISON, 2007; LASHLEY, 2015). Pitt-Rivers
(2012) afirma existir uma assimetria entre anfitrião e hóspede, onde, ao entrar no
espaço do anfitrião, o hóspede fica adstrito às suas regras. Tratando, ainda das leis
da hospitalidade, o autor afirma que ambos possuem obrigações recíprocas, mas
diferentes, onde a inobservância acarreta em violação da hospitalidade (PITT-
RIVERS, 2012).
No entanto, alguns autores, como Jacques Derrida (2001) e Isabel Baptista
(2017), defendem a hospitalidade como incondicional, como um espaço de alteridade,
caracterizada pela “abertura primordial e incondicional ao outro, seja esse outro quem
for e por mais imprevisível e inesperado que seja o seu aparecimento” (BAPTISTA,
2017, p. 143), onde acolhida seja incondicional, como um momento de alteridade, de
se colocar no lugar do outro e entender sua existência.
Portanto, a hospitalidade seria expressada através do acolhimento integral do
hóspede, a partir da compreensão de suas necessidades e individualidades
(BAPTISTA, 2017). No mesmo sentido, Nouwen (1998) advoga pelo entendimento da
hospitalidade genuína como aquele que a generosidade e ausência da expectativa de
retribuição. Para ele, a hospitalidade compreende a liberdade e a amizade para com
os hóspedes, provendo ao hóspede um espaço espiritual, físico e emocional e
permitindo que as pessoas sejam elas mesmas (NOUWEN, 1998).
Diversos autores destacam a importância da hospitalidade, como uma
obrigação moral, social e cultural, em diversas sociedades ao longo da história do
homem (BENVENISTES, 1995; PITT-RIVERS, 2012; MONTANDON, 2011). Assim,
constituiu importante fator da criação de laços sociais e da sociabilidade, entendida
como a capacidade de estabelecer e fortalecer laços sociais e redes (BAECHLER,
1995), proporcionando a integração dos indivíduos e a coesão social (BINET-
MONTANDON, 2011; FALTIN; GIMENES-MINASSE, 2019). Para Camargo (2015, p.
50), deve-se “entender a hospitalidade como atributo do humano que serve para
22
mostrar que as propriedades de sociabilidade dos espaços não existem por si
mesmas”.
Além disso, a territorialidade também é importante para a formação de grupos
sociais, como a comunidade LGBTQIA+. Segundo Simmel (2006), a sociabilidade é
um fenômeno crucial para a vida social, tratando-a como a capacidade dos indivíduos
de se relacionarem uns com os outros, buscando a interação e o contato com o mundo
exterior. Segundo Simmel, a sociabilidade é a base para que os indivíduos superem
a solidão e construam laços que são fundamentais para a convivência em grupo
(Simmel, 2006).
A perspectiva de Simmel (2013) enfatiza a centralidade do espaço enquanto
fator preponderante nas dinâmicas interacionais. O espaço, na visão do autor,
constitui um elemento primordial no estabelecimento e manutenção das relações
sociais, permeado por suas dimensões sociais e culturais. Conforme asseverado por
Simmel (2013), o espaço atua como um veículo propiciador de comunicação entre os
indivíduos, viabilizando a troca de informações e a interconexão. Adicionalmente, ele
observa que a configuração do espaço possui a capacidade de exercer uma influência
direta nas interações sociais, delineando tanto limitações quanto oportunidades para
a troca e a comunicação entre os agentes sociais.
Existem opiniões divergentes sobre a autenticidade da hospitalidade em
atividades comerciais, sendo que alguns autores argumentam que a troca financeira
viola a essência da hospitalidade, tornando-a artificial (GOTMAN, 2009; RITZER,
2007). No entanto, outros estudiosos, como Telfer (2000), Lashley (2015) e Camargo
(2021), defendem que a hospitalidade genuína pode ser expressa por aqueles que
trabalham em setores comerciais, independentemente da contrapartida financeira
recebida. A hospitalidade verdadeira não se resume a um ato altruísta desprovido de
qualquer interesse, mas sim a uma relação que se estabelece com base na
generosidade, na empatia e no acolhimento, independentemente da existência de um
intercâmbio financeiro.
Faltin e Gimenes-Minasse (2019) destacam o importante papel da
comensalidade nas relações de socialização, identidade cultural, hospitalidade
convivialidade, bem como na construção e manutenção de laços sociais. A
comensalidade, também como dimensão da hospitalidade, também traduz valores e
regras de hierarquia social, de inclusão ou exclusão, pois compartilhamos a mesa com
23
aqueles que acreditamos como iguais (FALTIN; GIMENES-MINASSE, 2019; PITT-
RIVERS, 2012.)
Nesse sentido, Camargo (2015) demonstra que ao sair de casa, o indivíduo
passa alternar entre a posição anfitrião e hóspede de acordo com os espaços e
relações que estabelece ao longo do dia. Cabe lembrar ainda Baptista (2017, p.152),
que afirma que “seja qual for a modalidade de acolhimento que tivermos em
referência, doméstica, institucional ou comercial, o que está em causa é o fato de ser
um outro que chega e sua chegada constituir uma interpelação de alteridade
irrecusável”.
Com fundamento em uma visão sistêmica da sociedade, Santos e Perazzolo
(2012) propõe o conceito de corpo coletivo acolhedor, constituído a partir da interação
entre o conjunto de serviços, o organismo gestor e o capital de conhecimento e cultura,
dimensões fundamentais do tecido social onde ocorrem as relações de hospitalidade
e acolhimento, que personifica, dá forma e identidade à comunidade em um território.
Por isso, independente do tempo ou espaço em que ocorre a relação de hospitalidade,
deve-se receber o convidado através da perspectiva do acolhimento integral.
2.2 A HOSPITALIDADE NAS GRANDES CIDADES
Como já mencionado anteriormente, a hospitalidade como campo de pesquisa
busca a compreensão das relações sociais entre anfitrião e hóspede, em um
determinado tempo e espaço (CAMARGO, 2015; LASHLEY, 2015; SEVERINI,
PANOSSO NETTO, 2022). Severini e Panosso Netto (2022) entendem que a
hospitalidade, como paradigma de investigação das ciências sociais aplicadas,
possibilita uma forma alternativa e inovadora de investigação socioespacial dessas
ligações. Na sociedade contemporânea, também concebida como pós-moderna, as
relações sociais estão caracterizadas pelo individualismo e fragmentariedade, onde
busca-se fugir das relações indesejadas, tornando-as efêmeras (BAUHMANN, 2002;
GODBOUT, 1998; GRINOVER, 2009).
Segundo Severini (2013), a concretização da hospitalidade se dá no encontro
do anfitrião e do hóspede num determinado espaço, onde um recebe e o outro é
recebido. Lashley (2000, 2015) e Camargo (2004; 2015; 2021) buscam compatibilizar
as teorias da hospitalidade em suas abordagens, afirmando a existência das relações
de hospitalidades em diferentes tempos e espaços, ou domínios. Conforme Camargo
24
(2004; 2015), os espaços sociais da hospitalidade pertencem a quatro categorias
diferentes:
a) o doméstico - exercido na casa, em âmbito privado das pessoas;
b) o público - exercido na cidade, do cotidiano da vida urbana;
c) comercial - mediante remuneração de um produto ou serviço;
d) virtual - através dos ambientes virtuais decorrentes da internet e eletrônicos.
O autor propôs em seu esquema descritivo os tempos da hospitalidade: a
hospedagem, a alimentação, tendo o cuidado de acrescentar o entretenimento. Assim,
do cruzamento de tempos e espaços resultaram dezesseis possibilidades de objeto
de estudo na área. O objetivo é ilustrar a amplitude do campo de estudo da
hospitalidade, mas não encerrar o assunto de forma definitiva, pois, “o mais importante
é trabalhar sob o espaço, no nível das relações essenciais que sustentam tanto o
espaço quanto os fenômenos” (CAMARGO, 2015, p.43).
Por outro lado, Conrad Lashley (2004, 2007, 2015) atualizou seus estudos dos
diferentes domínios da hospitalidade, sendo estes: doméstico, cultural e comercial.
Cada domínio representa as características da atividade de hospitalidade, de forma
independentes e sobrepostas (LASHLEY, 2015). O domínio cultural diz respeito aos
contextos em que ocorrem os atos de hospitalidade, assim como a influência de forças
sociais e sistemas de crenças relacionados a eles.
Deste modo, estudo do domínio cultural fornece um conjunto valioso de
percepções a partir das quais é possível avaliar criticamente e reestruturar a oferta
comercial da hospitalidade, tendo em vista que as economias industriais
contemporâneas não mais tenham obrigações morais rígidas com relação à
hospitalidade e uma grande parte das experiências de hospitalidade ocorram em
contextos comerciais (LASHLEY, 2015). O domínio privado compreende a oferta de
hospitalidade no lar, e os impactos da relação anfitrião-hóspede. Para o autor, o
fornecimento de alimentos, bebidas e hospedagem nesse contexto representa um ato
de amizade: cria laços simbólicos, conectando pessoas que estabelecem vínculos,
comprometendo os envolvidos com o compartilhamento da hospitalidade (LASHLEY,
2015).
O domínio comercial refere-se à atividade comercial relacionada a
hospitalidade, com o objetivo de lucro (LASHLEY, 2015). As tensões e contradições
geradas por esse imperativo capitalista são claras quando se examina a estrutura dos
25
domínios "culturais" e "domésticos” em que as atividades de hospitalidade são
desenvolvidas. Destaca-se, segundo Lashley, que “as experiências concretas de
hospitalidade, em qualquer que seja o contexto, apresentam-se como o resultado da
influência de cada um desses domínios” (LASHLEY, 2015, p. 79).
A hospitalidade nas grandes cidades é uma qualidade que vai além da
observação direta. Tanto o estranho quanto o estrangeiro esperam ser reconhecidos
como pessoas dignas de acolhimento. CAMARGO (2015) enfatiza a importância de
verificar se esses encontros levam ao fortalecimento ou ao esgarçamento dos vínculos
sociais que foram inicialmente buscados. A regra evidente em um ambiente urbano é
a urbanidade, que esconde a inospitalidade e o anonimato. Ao seguir gestos formais
e evitar o contato com desconhecidos, as pessoas tendem a ter uma interação
impessoal e até hostil (CAMARGO, 2015).
Diante disso, as relações nas grandes cidades são marcadas por diferentes
graus de interação. Desde a hospitalidade neutra, onde ocorre uma ausência de
trocas, até a inospitalidade e hostilidade, onde o reconhecimento e o acolhimento são
negados ou até mesmo confrontados (CAMARGO, 2015). Contudo, também há
espaço para a urbanidade e a hospitabilidade. A urbanidade se refere ao encontro
agradável e eficiente, mas com interesses explícitos das partes envolvidas, enquanto
a hospitabilidade genuína marca encontros memoráveis, onde as leis da hospitalidade
são praticadas com espontaneidade (CAMARGO, 2021).
No entanto, mesmo nessas condições de inospitalidade, surgem os interstícios
hospitaleiros, onde o calor humano é surpreendente. A hospitalidade genuína nas
grandes cidades pode ser demonstrada por indivíduos que dedicam suas vidas a
reconhecer e servir os outros, como indivíduos desconhecidos que oferecem gentileza
e auxílio em momentos específicos (CAMARGO, 2021). Esses momentos mostram
que a hospitalidade surge nas sombras da inospitalidade predominante, resgatando a
amizade humana em uma sociedade cada vez mais hostil (CAMARGO, 2021).
As relações nas grandes cidades combinam hostilidade e hospitalidade. A
busca por proximidade e encontro, que promove a manifestação e a recriação de
vínculos sociais, é fundamental para combater a prevalência da inospitalidade. É
fundamental entender a dinâmica dessas interações para criar estratégias que
fomentem a hospitalidade genuína, tornando as grandes cidades lugares mais
hospitaleiros, amigáveis e coesos.
26
Os estudos de Grinover (2007, 2009, 2016), Ferraz (2013) e Severini (2013)
apresentam avanços nas pesquisas sobre a hospitalidade urbana, especialmente no
que concerne ao espaço público. Essas pesquisas se concentram em questões
importantes relacionadas ao urbanismo, arquitetura, política e gestão pública, que
estão todas ligadas à forma como as cidades são organizadas. Ao examinar tais
aspectos, os referidos autores nos ajudam a entender melhor os fenômenos da
hospitalidade no contexto urbano e como eles aparecem na vida pública das cidades.
O autor criou uma linha de pesquisa sobre hospitalidade urbana e em seu
primeiro estudo afirma que três dimensões principais determinam a hospitalidade de
uma cidade: acessibilidade, legibilidade e identidade (GRINOVER, 2007). Ao levar em
consideração essas dimensões em relação ao tempo e ao espaço geográfico,
podemos adquirir uma compreensão mais abrangente da cidade.
Posteriormente, em sua obra de 2013, Grinover reavalia as categorias para a
compreensão da hospitalidade urbana, incorporando novos temas, tais como
mobilidade, qualidade de vida, cidadania e urbanidade. Segundo Severini e Panosso
Netto
a cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais
estabelecidos na Constituição de um país; e o cidadão é o indivíduo que vive
de acordo com um conjunto de estatutos pertencentes a uma comunidade
politicamente e socialmente articulada. Quando os direitos e deveres são
respeitados e cumpridos naturalmente, tem-se uma sociedade mais justa e
equilibrada. Pensar em cidadania é pensar no modo de vida coletivo e,
consequentemente, na vida urbana (SEVERINI; PANOSSO NETTO, 2022,
p.530).
Essa extensão conceitual enriquece o estudo da hospitalidade urbana,
fornecendo uma visão mais ampla e atualizada dos elementos que impactam a
experiência dos residentes nas cidades. Temas emergentes são essenciais para
compreender a complexidade e a variabilidade das interações sociais e espaciais que
ocorrem nos contextos urbanos modernos.
A pesquisa de Ferraz (2013) destaca que a hospitalidade urbana é o produto
de uma combinação de sensações que emanam de características tangíveis, que
podem ser quantificadas, e intangíveis, que não podem ser quantificadas. Em razão
disso, pode-se compreender que “a hospitalidade urbana é resultado de uma
somatória de sensações derivadas de atributos tangíveis (mensuráveis) e de atributos
intangíveis (imensuráveis)” (SEVERINI; PANOSSO NETTO, 2020, p.12). Conforme,
Severini e Panosso Netto (2022), esses atributos são definidos a seguir:
27
a) Os atributos tangíveis são aqueles de ordem física e espacial que podem
ser identificados e incorporados em leis específicas de desenvolvimento
urbano.
b) Já os atributos intangíveis são de natureza psicológica e subjetiva e
dizem respeito as experiências anteriores e memórias de cada um e que,
de alguma forma, dialogam, ou não, com a cidade a ser visitada.
(SEVERINI; PANOSSO NETTO, 2020, p. 12).
Essa compreensão mostra quão importante é levar em consideração tanto
aspectos palpáveis como infraestrutura e serviços quanto aspectos subjetivos como a
atmosfera e as percepções das pessoas sobre o ambiente urbano. Uma visão mais
abrangente da experiência de hospitalidade nas áreas urbanas pode ser alcançada
ao considerar esse conjunto de elementos (SEVERINI; PANOSSO NETTO, 2020). A
autora, em sua pesquisa, concentra-se nos aspectos tangíveis da hospitalidade
urbana, que podem ser quantificados, classificados e cartografados pelos gestores
públicos (FERRAZ, 2013; SEVERINI; PANOSSO NETTO, 2020; 2022). Contudo,
ganham cada vez mais relevância os fatores imensuráveis da hospitalidade urbana,
responsáveis por gerar uma sensação de acolhimento e pertencimento, bem como
por estabelecer uma forte conexão entre a esfera comercial e a hospitalidade urbana,
enfatizando as questões de cidadania, territorialidade e sociabilidade.
Geertz (2008, p.17) define a simbologia como “uma abordagem analítica que
se concentra na interpretação de símbolos presentes nas expressões culturais”. Ela
procura compreender como esses símbolos carregam significados profundos e atuam
como condutores de sentido nas interações humanas, revelando as complexidades
subjacentes às ações e crenças dentro de uma cultura específica. Essa perspectiva
simbólica pode ser aplicada para analisar a urbanidade e a hospitalidade, explorando
os símbolos que permeiam as interações sociais e os espaços urbanos, revelando os
significados subjacentes à convivência e acolhimento nas cidades.
Sob a perspectiva da ética e cidadania da hospitalidade, Baptista entende os
lugares da hospitalidade como:
Os “lugares de hospitalidade” são lugares de urbanidade, de cortesia cívica,
de responsabilidade e de bondade. São lugares nossos que convidam à
entrada do outro numa oferta de acolhimento, refúgio, alimento, ajuda ou
conforto (...) são lugares de pertença e de posse, são lugares de autoctonia
e de afirmação identitária (....) Por definição, os lugares de hospitalidade são
lugares abertos ao outro (BAPTISTA, 2008, p.6).
28
Assim, para ela a hospitalidade dos lugares está conectada com o tipo de
socialidade que instauram, pois surge como categoria sociopolítica de relevância nas
organizações das cidades, em razão da diversidade cultural característicos das
sociedades contemporâneas e dos diversos espaços e serviços urbanos presentes
(BAPTISTA, 2008). Desse modo, Baptista entende que a hospitalidade urbana
“remete para o traço de caráter humano essencial que transcende qualquer inscrição
territorial ou comunitária” (BAPTISTA, 2008, p.10).
Logo, os espaços urbanos da sociedade contemporânea e a sua dinâmica
social, obrigam a repensar, atualizar e ampliar as leis e ritos da hospitalidade, como
forma de reinvenção da cidadania (BAPTISTA, 2008; GRINOVER, 2009). Os lugares
da hospitalidade, públicos ou de trânsito, como praças, mercados, cafés, parques,
centros comerciais, tornam-se “lugares de fruição de “tempo livre”, de leveza, de
convívio ameno, de encontro, de namoro, de recreio e de tagarelice, são lugares
densos do ponto de vista identitário (BAPTISTA, 2008, p.11), em contraposição aos
não-lugares, definidos pelos ensinamentos de Augé (2003) como desprovidos de
identidade e memória (GRINOVER, 2009).
Esta perspectiva define os espaços de hospitalidade urbana como todos os
espaços de uso comum e coletivo, incluindo todos os espaços privados de uso público
(SEVERINI, 2013). Enquanto os espaços públicos são caraterizados pelo acesso
comum à todos, de uso coletivo, que não exige reservas e nem possui horário de
funcionamento, os espaços privados de uso público são aqueles em que o acesso é
livre e permitido durante o seu período de funcionamento, mediante as regras
estabelecidas pelos anfitriões desses espaços (FERRAZ, 2013; SEVERINI;
PANOSSO NETTO, 2020). As relações entre os espaços privados de acesso público
e a “rua” são fundamentais para a experiência da hospitalidade na cidade (SEVERINI,
2013).
Tanto Grinover (2009) como Ferraz (2013) e Severini (2013) destacam que a
atual conformação social da cidade implicam em uma demanda grande e crescente
por esses espaços, que, por não constituir um ambiente privado nem obrigações, são
considerados neutros e mantêm o anonimato, modificando as manifestações e
relações de hospitalidade. Segundo o autor:
A hospitalidade, agora, é um modo de garantir a heterogeneidade da cidade
e a riqueza de sua sócio diversidade, que encontra sua forma quase que
determinante no espaço social e antropológico. Se esse espaço tiver uma
29
característica construída, estaremos chegando ao que podemos denominar
de lugar: uma rua, um jardim, que induz ao diálogo, à conversação, ao
encontro, um espaço público ou privado, onde se pratica a hospitalidade
(GRINOVER, 2009, p. 6).
Em conseguinte, Grinover afirma que se passou a valorizar a
espetacularização, como uma dimensão da experiência urbana, em que se busca o
prazer, diferença social, consumo e afirmação de identidades, tornando-se
descontínua, fragmentaria, episódica e incoerente (GRINOVER, 2009). Dessa forma,
o autor preleciona que
A pessoa escolhe lugares, estilos, imagens, códigos e os combina devido à
própria experiência pessoal. Transferido esse conceito à hospitalidade,
verifica-se que ela segue os comportamentos urbanos e fragmenta-se em
tantas hospitalidades quantos são os códigos, as imagens e as experiências
urbanas. Essa constatação fragmenta o conceito de hospitalidade clássica e
subverte o sistema já consolidado. Novas hospitalidades vêm preencher os
espaços urbanos, e tornar mais difícil ainda, a apreensão da totalidade da
cidade. Há inúmeras ilhas de hospitalidade construindo o mosaico urbano. O
lugar da cidade que se conseguiu fazer “próprio”, habitando-o, exprime uma
combinação de poder de compra, um capital cultural com suas competências
e gostos, um capital social, consideradas as relações interpessoais, grupos
de pertencimento, etc. (GRINOVER, 2009, p. 10).
Dessa forma, observa-se uma fragmentariedade na ocupação do território das
cidades, pelo processo de urbanização e expansão, que formam uma massa
fragmentada, um conjunto fragmentado de formas arquitetônicas, de experiências
culturais e de estilos de vida, de modo desordenado (GRINOVER, 2009). Raffestin
(1997, p. 144) assevera que o território surge da apropriação, concreta ou abstrata,
conduzida por um ator sintagmático, que realiza um programa em qualquer nível,
passando a ser assim “um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia ou
informação, e que, por consequência revela relações marcadas pelo poder”.
Da mesma forma, Raffestin entende a territorialidade como uma consequência
das relações de poder que derivam de um sistema que relaciona sociedade, espaço
e tempo (RAFFESTIN, 1993). Assim, a ocupação dos territórios nas grandes cidades
é influenciada pelas relações de poder existentes, o que resulta na fragmentação dos
espaços urbanos.
A fragmentação é resultado da apropriação dos territórios por grupos diversos
e heterogêneos, que compõem o tecido social dessas cidades. Cada grupo, por sua
vez, tem suas próprias relações de poder e interesses que influenciam a forma como
ocupam e utilizam o espaço urbano. Portanto, a ocupação do território é uma questão
30
complexa, que envolve diversos fatores sociais, políticos e econômicos que precisam
ser considerados para compreender de maneira mais profunda a dinâmica da
fragmentação urbana e as consequências disso para a vida nas grandes cidades.
2.3. OS ESPAÇOS GASTRONÔMICOS COMO LUGARES DE
HOSPITALIDADE NAS GRANDES CIDADES
Uma cidade hospitaleira, de acordo com David Bell (2007), é aquela que acolhe
e inclui os visitantes, estrangeiros e desconhecidos em sua vida urbana e comunidade.
Ele sustenta que a hospitalidade é uma característica essencial das cidades e
desempenha um papel significativo no desenvolvimento de comunidades saudáveis e
conectadas. Os restaurantes, tanto públicos quanto privados, desempenham um
papel importante nesse processo, pois oferecem um ambiente social e acolhedor para
as pessoas. O contexto da alimentação contemporânea, especialmente em grandes
centros urbanos, aumenta o uso de restaurantes, bares e outros serviços de
alimentação para realizar rituais de hospitalidade por diversos grupos sociais,
independentemente de a hospitalidade ser genuína ou encenada em
estabelecimentos comerciais (FALTIN; GIMENES-MINASSE, 2019).
O estilo de vida acelerado nas grandes cidades, juntamente com a necessidade
de realizar atividades sociais, faz com que a utilização de serviços de alimentação em
estabelecimentos comerciais seja quase que uma obrigação para grande parte da
população (FRANCO; REGO, 2005; OLIVEIRA, 2006). A comensalidade e a
hospitalidade estão estreitamente relacionadas, já que compartilhar a refeição em
conjunto assume um papel simbólico e ritual na sociedade, tornando-se uma forma de
partilha, troca e reconhecimento (FALTIN; GIMENES-MINASSE, 2019). A
hospitalidade é materializada através da convivência à mesa e da prática de
compartilhar a comida e o espaço de refeição (MONTANDON, 2011).
Costa (2015) destaca que o estudo da hospitalidade requer uma observação
das posturas e comportamentos dos comensais e que a convivência à mesa estimula
a virtude da hospitalidade. Além disso, a sociedade pós-moderna tem características
sociais e culturais que influenciam na alimentação contemporânea (FALTIN;
GIMENES-MINASSE, 2019). A conexão entre comensalidade e sociabilidade reforça
a importância da hospitalidade em espaços gastronômicos (SILVA, 2015). A
hospitalidade do anfitrião indica a forma como o serviço é oferecido e a percepção de
31
valor do hóspede/cliente, visando proporcionar uma experiência inesquecível
(STEFANINI, et. al, 2018).
Para Bell (2007) a hospitalidade em bares e restaurantes não envolve apenas
fornecer comida e bebida de qualidade, mas também criar uma atmosfera acolhedora
para os clientes, desde a decoração e a música, até a forma como os funcionários
tratam os clientes (BELL, 2007). O autor afirma a importância de criar uma conexão
emocional e pessoal com ele (BELL, 2007). Isso pode ser feito através de pequenos
gestos, como lembrar o nome dos clientes frequentes ou oferecer sugestões
personalizadas baseadas nas suas preferências. Lugosi (2013) argumenta que a
comida e a bebida são elementos importantes na construção de identidades
individuais e coletivas, pois refletem os valores, crenças e práticas de um determinado
grupo social.
Franco e Rego (2005) afirmam que a hospitalidade pode ter nuances variáveis
de acordo com o tipo de serviço prestado, o contexto em que é consumido e as
expectativas dos clientes. Faltin e Gimenes-Minasse (2015) destacam que os espaços
gastronômicos também são marcados pela forte presença da hospitalidade e
comensalidade, servindo como locais de encontro para comensais contemporâneos.
Por isso, é importante lembrar que as relações de comensalidade e hospitalidade
podem ser exercidas entre clientes/hóspedes, independentemente das práticas dos
prestadores de serviço ou atendimento.
Em sentido semelhante, Bell destaca que
the ways of relating that are practised in bars, cafés, restaurants, clubs and
pubs should be seen as potentially productive of an ethics of conviviality that
revitalizes urban living. The encounters in those spaces should, therefore, be
reinstalled in discussions of the ethics and politics of hospitality (BELL, 2007,
p.12)4.
Ainda, para esse autor os espaços gastronômicos desempenham papel
fundamental na revitalização de transformar áreas urbanas, tornando-as mais
atraentes, convidativas e inclusivas para todas as pessoas (BELL, 2007). Além disso,
a presença de espaços gastronômicos vibrantes e acolhedores, com horários diversos
de funcionamento, pode atrair novas pessoas, visitantes e moradores, assim como
4 Tradução própria: “as formas de relacionamento que são praticadas em bares, cafés, restaurantes,
clubes e pubs devem ser vistas como potencialmente produtivas de uma ética de convivência que
revitaliza a vida urbana. Os encontros nesses espaços devem, portanto, ser reinstalados nas
discussões sobre a ética e a política de hospitalidade”.
32
novos negócios para áreas urbanas que precisam de revitalização, ajudando assim a
criar um ambiente mais atraente e dinâmico (BELL, 2007). Da mesma forma, ele
argumenta que a criação de espaços gastronômicos amigáveis e acolhedores
favorece a construção de uma comunidade mais unida e coesa.
Lugosi (2009) propõe uma reflexão sobre a importância da co-criação em
ambientes hospitaleiros em espaços comerciais. O autor argumenta que a criação de
um espaço hospitaleiro depende tanto do design físico quanto das interações entre
consumidores e funcionários. Ele enfatiza que "as interações sociais que ocorrem
entre os clientes e os membros da equipe de atendimento ao cliente desempenham
um papel importante na criação de um ambiente hospitaleiro" (LUGOSI, 2009, p. 396).
Ao entrevistar funcionários e clientes de um bar em Londres, Lugosi destaca
que a equipe de gestão do bar trabalha para criar um ambiente acolhedor e
aconchegante. Eles se esforçam para "construir uma relação positiva com os clientes
para que eles possam se sentir confortáveis e desfrutar de uma experiência
agradável" (LUGOSI, 2009, p. 399). Segundo o autor, o envolvimento ativo dos
clientes na cocriarão do espaço é fundamental para melhorar a satisfação do
consumidor e gerar novas ideias e inovações. Lugosi afirma que "a participação do
cliente na cocriarão é fundamental para o sucesso da empresa, uma vez que permite
a adaptação do ambiente ao comportamento do cliente" (LUGOSI, 2009, p. 406).
O autor conclui que as empresas podem se beneficiar ao envolver os clientes
na criação de espaços hospitaleiros, pois isso permite que a empresa se adapte às
mudanças de comportamento do cliente e crie um ambiente que atenda às suas
necessidades. Lugosi enfatiza que a cocriarão pode levar a uma "maior satisfação do
cliente e inovação empresarial" (LUGOSI, 2009, p. 410).
O papel de espaços gastronômicos também foi abordado por Bell e Binnie
(2013), que salientam a importância da criação de espaços seguros e acolhedores
para a comunidade LGBTQIA+. Eles argumentam que os espaços gastronômicos,
com foco em bares e restaurantes, que são amigáveis para essa comunidade podem
ser um importante mecanismo de inclusão social e cidadania, auxiliando na promoção
de igualdade e de justiça para todas as pessoas, independentemente de sua
orientação sexual ou identidade de gênero.
33
3. OS ESPAÇOS LGBTQIA+ FRIENDLY NAS GRANDES CIDADES
São Paulo, São Francisco, Seattle, Tel Aviv, Nova York, Sydney, Rio de
Janeiro, Melbourne, Paris, Chicago, Brighton, Amsterdã, Montería, Londres e Berlim
são algumas das muitas cidades mundialmente conhecidas por serem LGBTQIA+
friendly, de modo semelhante diversas empresas também se identificam como
LGBTQIA+ friendly, buscando estabelecer uma postura baseada na diversidade e
igualdade entre seus funcionários e clientes (PORTO ALEGRE, 2015).
Neste capítulo, serão discutidos os movimentos sociais da comunidade
LGBTQIA+ em âmbito global e no Brasil, com ênfase na importância dos espaços
sociais para essa população ao longo do tempo. Serão explorados os desafios e
barreiras enfrentados pela comunidade, bem como as oportunidades e avanços
conquistados ao longo da história em termos de direitos e aceitação social.
Além disso, serão exploradas algumas dimensões da hospitalidade, em
especial territorialidade, sociabilidade, acolhimento, simbologia e urbanidade, nos
espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly de grandes cidades, como Nova York,
Buenos Aires, São Paulo e Porto Alegre. Será destacada a relevância desses locais
como espaços inclusivos e acolhedores para a comunidade LGBTQIA+, bem como
sua contribuição para a construção da identidade e da comunidade dessa população.
3.1. O DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO LGBTQIA+ NO MUNDO E NO
BRASIL
As diversas manifestações da sexualidade e identidades de gênero não são
novidade tanto na cultura ocidental como oriental, sendo socialmente aceita em vários
períodos na história da humanidade (MÜLLER, 2018; NASCIMENTO, 2015;
TREVISAN, 2000; VIEIRA, 2008). Todavia, a partir da difusão das religiões
monoteístas, principalmente judaico-cristãs, e sua influência nas constituições dos
Estados e das sociedades, passou-se a constituição da sociedade com base na matriz
cidadã materializada no núcleo familiar, monogâmica, patriarcal, heteronormativa e
burguesa (CAETANO; et. al, 2018; NASCIMENTO, 2015).
Assim, as relações entre pessoas do mesmo sexo e as diferentes expressões
de gênero passaram a ser consideradas pecado de sodomia, crimes e doenças, sendo
objeto de investigação das diversas áreas do conhecimento, como religião, direito,
34
medicina e psicologia como algo a ser reprimido (FOUCAULT, 2014; MÜLLER, 2018;
TREVISAN, 2018; VIEIRA, 2008). Com o início do século XX, através dos processos
de industrialização e urbanização, crescem as tensões e o desenvolvimento de
subculturas ligadas às relações homoafetivas e de gênero (MÜLLER, 2018). Em razão
da migração para grandes cidades, entende Salgueiro que
o crescimento das migrações trouxe para as cidades muito maior diversidade
cultural e étnica, enquanto a ética pós-moderna é relativamente eclética e
aberta à novidade e ao ‘outro’ permitindo maior expressão de estilos de vida
minoritários, seja de ordem cultural, sexual e étnica (SALGUEIRO, 2006,
p.18).
Desse modo, a ocupação socioespacial das cidades é caracterizada pela
diversidade social, onde os elementos de sexualidade e gênero, em que autores
destacam a importância das espacialidades de pessoas LGBTQIA+ nas grandes
cidades ocidentais ao longo do século XX (ALDRICH, 2004; VIEIRA, 2011). As
organizações em torno dos direitos dos homossexuais começaram na Alemanha em
1910, mas ganham força nos Estados Unidos da América a partir de 1940, sendo
impulsionadas pela politização da liberdade sexual nas décadas de 50 e 60, em um
cenário politico de repressão e intolerância (Simões & Facchini, 2008; Vieira, 2008).
No entanto, foi a partir de 28 de junho de 1969, com a Revolta de Stonewall
Inn, evento considerado marco internacional, que se observou a organização de
movimentos sociais sobre direitos dos LGBTQIA+ em todo mundo (MÜLLER, 2019;
SIMÕES; FACCHINI, 2008; VIEIRA, 2008). O evento aconteceu em um contexto de
marcante segregação socioespacial dos homossexuais, ocupando espaços
marginalizados, marcados pela presença de práticas ilícitas, como prostituição, tráfico
de drogas e a homossexualidade, considerados crimes (MÜLLER, 2019), bem como
a luta por direitos pelas minorias como negros e mulheres (MÜLLER, 2019; VIEIRA,
2008).
Na noite de 28 de junho de 1969, ao realizar uma batida em razão da oferta de
bebidas para homossexuais no Stonewall Inn, os policiais foram surpreendidos pela
resistência às agressões perpetradas, gerando a revolta dos frequentadores que
passaram a revidar jogando moedas, pedras, madeiras e garrafas nos oficiais, o que
ocasionou uma escalada violenta (MÜLLER, 2019; SIMÕES; FACCHINI, 2008). A
partir desses eventos, o dia 28 de junho foi reconhecido como o Dia Internacional do
35
Orgulho Gay em mais de 140 países, e é comemorado por meio de diversas paradas
(VIEIRA, 2008). Segundo Simões e Fachini, os atos significaram
uma mudança mais geral nas vivências de boa parte das populações de
homens e mulheres homossexuais, no sentido de tornar visível e motivo de
orgulho o que até então tinha sido fonte de vergonha e perturbação e deveria
ser mantido na clandestinidade. "O amor que não ousava dizer seu nome"
tinha saído às ruas, criara sua própria rede de trocas, encontros e
solidariedade, desenvolvera um senso mais positivo de autoestima pessoal e
coletiva (SIMÕES; FACCHINI, 2008, p. 45).
Apesar da existência de diversos registros de manifestações, grupos e coletivos
com a temática da homossexualidade e diversidade de gênero no Brasil desde o final
do século XIX, a literatura apresenta como na década de 1970 o surgimento do
movimento gay brasileiro, em meio ao contexto da ditadura militar, com a criação de
grupos e publicações, como o Somos e Lampião da Esquina, com identidade
“alternativa” ou “libertário” (FACHINI, 2003; GREEN, 1999; SIMÕES; FACCHINI,
2008; TADIOTO, 2016; VIEIRA, 2008). Ao mesmo tempo, espaços públicos
destinados a pessoas homossexuais expandiram-se nas grandes cidades (SIMÕES;
FACCHINI, 2008).
Para Fachini (2003), o segundo marco do movimento foi a epidemia de HIV e
Aids no Brasil e no mundo na década de 1980, chamada de “peste gay”. Ela revitalizou
preconceitos e hostilidades com homossexuais, levou ao declínio de grupos
organizados, mas também levou a discussões pública sobre a sexualidade, práticas
sexuais, e tensões internas da comunidade, com intersecções de hipocrisia, classe
social, gênero e raça (FACCHINI, 2003; VIEIRA, 2008).
Com o advento dos anos 1990 verifica-se o “ressurgimento” dos movimentos,
de forma mais estruturada e com conexões estatais, multiplicando-se as categorias
de referência do sujeito político, assim como as organizações de Paradas do Orgulho
pelo país (SIMÕES; FACCHINI, 2008). No Brasil, a partir de 1995, foi iniciado o ciclo
de marchas no Rio de Janeiro, seguido pelas primeiras Paradas realizadas em São
Paulo e Porto Alegre, no ano de 1997, abrangendo todo o território nacional
posteriormente (SIMÕES; FACCHINI, 2008; ANDRADE, 2018). A primeira edição da
Parada Livre de Porto Alegre ocorreu no Parque Farroupilha, reunindo cerca de 100
pessoas (GOLIN, 2017).
No mesmo período emergem os estudos sobre cidadania e a sua conexão com
a liberdade sexual e de gênero, a sexual citizenship (BELL, BINNIE, 2004; 2013;
36
RICHARDSON, 2017). Richardson (2017) sustenta que as estruturas tradicionais de
cidadania frequentemente ignoram as complicações da diversidade sexual e as
experiências dos grupos de pessoas marginalizadas na sociedade. Ao repensar a
cidadania sexual, o autor procura enfatizar os vários desafios enfrentados pelas
minorias sexuais, enfatizando como a identidade sexual de uma pessoa pode ter um
impacto significativo em como ela é incluída social e politicamente (RICHARDSON,
2017). Segundo a autora
Sexual citizenship goes beyond sexual rights; it involves political
recognition and social acceptance of diverse sexual identities,
desires, and relationships (...)The conventional citizenship
paradigm has often marginalized and silenced sexual minorities,
leading to a need for a more comprehensive understanding of
citizenship that encompasses sexual rights (RICHARDSON,
2017, p. 209-211)5.
Destacam Bell e Binnie (2013) que a cidadania Queer envolve a busca por
espaços onde as identidades e expressões de gênero e sexualidade LGBTQ+ sejam
respeitadas e protegidas. No entanto, esses espaços podem ser ameaçados por
questões como políticas urbanas, gentrificação, discriminação e normas sociais
predominantes (BELL, BINNIE, 2013).
As diferentes orientações sexuais e identidades de gênero ganham mais
visibilidade a partir dos anos 2000, com exposição da mídia, representatividade e
direitos assegurados. No Brasil passam ser reconhecidas a união de pessoas do
mesmo sexo, adoção por pessoas LGBTQIA+, nome social, alteração do nome civil,
criminalização da homofobia e transfobia, equiparadas ao racismo, doação de sangue
por homossexuais, políticas públicas de saúde e direitos humanos, como o Brasil sem
Homofobia (SILVA, 2018; NEVES, 2018; FACCHINI, 2018; GONÇALVES et. at., 2020;
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2022).
No entanto, é observado que esses avanços têm origem principalmente em
decisões judiciais e políticas públicas governamentais, o que reflete a dificuldade de
sua conversão em legislação federal devido ao conservadorismo presente no
parlamento brasileiro (SILVA, 2018; FACCHINI, 2018; TOITIO, 2016). Os direitos
conquistados podem se tornar “fragilizam-se sensivelmente ao sabor dos processos
5 Tradução própria: “Cidadania sexual vai além dos direitos sexuais; envolve reconhecimento político e
aceitação social de identidades sexuais diversas, desejos e relacionamentos (...)O paradigma
convencional de cidadania frequentemente marginalizou e silenciou as minorias sexuais, levando à
necessidade de uma compreensão mais abrangente de cidadania que englobe os direitos sexuais.”
37
transnacionais de politização reativa das moralidades e do campo religioso”
(FACCHINI, 2018, p. 6).
Esse avanço da pauta conservadora também é perceptível no campo
discursivo, como o combate à chamada “ideologia de gênero”, “kit gay” e educação
sexual nas escolas, como em atos de intolerância, tal qual o fechamento da exposição
“Queer Museu” no Farol Santander em Porto Alegre no ano de 2017 (FACHINNI;
SIVORI, 2017; TOITIO, 2016; SILVA, 2018; GIOVANAZ; FARIA, 2022). Destaca-se,
ainda, que mesmo diante de uma subnotificação dos dados, o Brasil apresentou um
aumento significativo no registro de violências contra pessoas LGBTQIA+ em 2022
(GONÇALVES et al., 2020; CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2022).
Sobre os acrônimos utilizados pelo movimento, do “movimento homossexual”,
perpassando o movimento gay, GLS, GLBT, LGBT, LBTQI ao LBTQIA+, Fachini
(2020, p. 63) assevera que a adição de novas categorias “apontam para um
detalhamento de experiências ou para complexidade”, o que não implica
necessariamente em risco de fragmentação porque
a dinâmica das articulações coletivas tem se dado, em grande medida, com
base na conexão entre experiência e interseccionalidade. Assim, têm se
conectado lutas relacionadas a diversas opressões, mas também tem se
reencantado a política, dado que nesse enquadramento associa estruturas
de poder a vivencias individuais. (FACCHINI, 2020, p.63).
A ampliação da visibilidade e a promoção de direitos têm suscitado discussões
sobre representatividade e interseccionalidade dentro do movimento LGBTQIA+, onde
as vivências socioespaciais das pessoas são marcadas por diversos marcadores
sociais, como gênero, orientação sexual, raça e classe social (FACCHINI; FRANÇA;
SANTOS, 2018; HANKE; ORNAT, 2016; DALPIAN; SILVEIRA, 2020). Cada letra do
acrônimo representa uma expressão da diversidade que a representa e diferencia das
outras, com suas peculiaridades, assim a identidade que a comunidade LGBTQIA+
carrega coexiste a de cada uma das siglas, sem sobreposições, mas sim
complementações (BORTOLETTO, 2019).
3.2. OS ESPAÇOS LGBTQIA+ FRIENDLY
Bell e Binnie (2013) discutem as maneiras pelas quais as comunidades Queer
têm enfrentado obstáculos ao buscar reconhecimento, inclusão e igualdade nos
38
espaços urbanos e como as cidades podem se tornar locais de prazer e de
pertencimento para pessoas queer, ao mesmo tempo em que autenticam suas
identidades e vivências. Para os autores, a cidadania Queer é definida como a busca
dos indivíduos LGBTQ+ por espaços e locais onde suas identidades e expressões de
gênero e sexualidade são valorizadas e protegidas (BELL; BINNIE, 2013).
Knopp (2003) argumenta que a sexualidade é uma dimensão fundamental da
experiência urbana e que os espaços urbanos são moldados por práticas e discursos
sexuais. Ele identifica três aspectos principais da relação entre sexualidade e espaço
urbano:
a) a territorialização - a sexualidade é usada para marcar e controlar o espaço,
por exemplo, os espaços gays e lésbicos são frequentemente territorializados por
meio de sinais visuais, como bandeiras do arco-íris, e por meio de práticas espaciais,
como a marcha do orgulho gay;
b) a regulamentação - a sexualidade é regulada pelo espaço urbano, onde os
espaços públicos são frequentemente heteronormativos, o que significa que eles são
dominados por práticas e discursos heterossexuais;
c) a resistência - a sexualidade também pode ser usada para resistir ao espaço
urbano, tendo como exemplo os movimentos de libertação queer têm desafiado a
heteronormatividade dos espaços públicos (KNOPP, 2003).
O autor conclui que a sexualidade é um aspecto fundamental da experiência
urbana e que os espaços urbanos são moldados por práticas e discursos sexuais e
sublinha a importância de compreender as relações entre sexualidade e espaço
urbano para criar cidades mais inclusivas e justas (KNOPP, 2003). No mesmo sentido,
Kiliç (2018) defende que a cidadania sexual abrange os direitos e as liberdades
relacionadas à sexualidade de indivíduos e ressalta que o ambiente urbano
desempenha um papel significativo na expressão e na busca da cidadania sexual.
Enquanto, Costa e Pires (2016) salientam esses espaços que são mais do que apenas
"guetos" ou "espaços seguros", mas sim espaços complexos e dinâmicos que
desempenham um papel importante na vida das pessoas LGBT.
No início dos movimentos sociais, os homossexuais eram relegados a espaços
marginalizados, frequentemente associados à violência e práticas criminosas, o que
os levou a se refugiar em guetos (MÜLLER, 2019; TADIOTO, 2016). De acordo com
Simões e França (2005, p.1), esses "são espaços urbanos públicos ou comerciais -
39
parques, praças, calçadas, quarteirões, estacionamentos, bares, restaurantes, casas
noturnas, saunas - onde as pessoas que compartilham uma vivência homossexual
podem se encontrar".
Contudo, é importante notar que o termo "gueto" se refere a uma área
específica dentro de um espaço urbano, caracterizada pela homogeneidade social,
limites territoriais bem definidos, controle de entrada e saída, além do reconhecimento
social pelos seus membros para que essa condição seja eficaz (ALMEIDA, 2018).
Esse termo também engloba a inibição social que ocorre quando os indivíduos
"guetificados" saem desse espaço (ALNEIDA, 2018; FIGUEIREDO; CAVEDON, 2012;
PUCCINELLI, 2014). Esse fenômeno pode ser observado em cidades nos Estados
Unidos e na Europa.
As espacialidades LGBTQIA+ nas grandes cidades brasileiras se manifestam
de várias maneiras, como manchas, pedaços, trajetos e circuitos. Isso permite que os
grupos identificados sejam visualizados de forma mais ampla (FIGUEIREDO;
CAVEDON, 2012). Nesses locais, os membros da comunidade LGBTQIA+ encontram
maneiras de se expressar e reivindicar sua posição na cidade, apesar dos desafios
que ainda existem em relação à identidade, dando-se ênfase às dimensões politicas
e culturais “em diálogo com concepções renovadas de territorialidades itinerantes e
flexíveis” (SIMÕES; FRANÇA, 2005, p.2).
Com o avanço das mudanças sociais e legais, a partir dos anos 1990, a
comunidade LGBTQIA+ tornou-se objeto de interesse tanto para o mercado quanto
para a mídia, sendo reconhecida como sujeito ativo na sociedade de consumo. Esse
reconhecimento gerou interesse e investimentos por parte de diversos segmentos da
sociedade, bem como impulsionou estudos de segmentação de marketing,
culminando no reconhecimento da comunidade LGBTQIA+ como uma força social,
política e econômica (NEVES; BRAMBATTI, 2019; NUNAN, 2015; SILVA; SANTOS,
2015; SIMÕES; FRANÇA, 2005; TADIOTO, 2016; TREVISAN, 200).
Além disso, as pesquisas avançaram na investigação das novas ofertas de
mercado que surgiam em decorrência das mudanças geracionais observadas dentro
da comunidade LGBTQIA+ e suas consequências nos padrões de consumo
(MISOCZKY et al., 2016; HO; OLSON, 2020; HO; KHAN, 2022; HO, 2023). Essas
análises são importantes para compreender como as transformações sociais
influenciam o comportamento do consumidor LGBTQIA+ e quais oportunidades e
40
desafios surgem para as empresas que desejam atender a esse segmento de forma
mais inclusiva e alinhada com suas demandas específicas.
Neste contexto, no Brasil, difundiram-se os espaços conhecidos como GLS,
sendo aqueles abertos para gays, lésbicas e simpatizantes, buscando desmantelar o
conceito de “gueto” e proporcionar uma nova visibilidade à comunidade LGBTQIA+.
Embora não se restrinjam apenas a esses indivíduos, tais espaços têm ganhado
abrangência em diversas regiões, impulsionados pelo crescimento das paradas do
orgulho, que passaram a ocupar os "centros" das cidades (SILVA; SANTOS, 2015;
SIMÕES; FRANÇA, 2005; TADIOTO, 2016; TREVISAN, 2000).
Os espaços LGBTQIA+ friendly surgem como uma adaptação do termo gay-
friendly, referindo-se a locais, marcas e produtos que respeitam a diversidade,
atendem a todos os públicos e são receptivos às pessoas LGBTQIA+ (CARVALHO;
et al., 2012). Esses espaços são caracterizados pela segurança e acolhimento para a
expressão livre da sexualidade e afetividade dos indivíduos (SILVA; CARVALHO,
2020). Adicionalmente, observa-se o surgimento da segmentação dos espaços
hetero-friendly, que são destinados ao público LGBTQIA+ e abertos a todas as
pessoas (NGHIÊM-PHÚ, 2018).
Contudo, assim como Guaracino e Salvato (2017) apontam as dificuldades em
identificar o público LGBTQIA+, uma vez que muitas vezes depende de alguma forma
de autoafirmação, a identificação de um espaço como LGBTQIA+ friendly também é
complexa, requerendo um convite autêntico e uma conexão genuína com o público
LGBTQIA+ por meio da ambientação ou comunicação, especialmente nas redes
sociais. O setor mercadológico direcionado à comunidade LGBTQIA+ tem suscitado
considerável interesse em constante ascensão, sendo frequentemente denotado
como "pink money" (BARUFFI et al., 2019).
O termo "pink money" é comumente empregado para abordar tanto o poder
aquisitivo dos indivíduos que se identificam como LGBTQIA+, conforme delineado por
Hughes (2006), quanto os seus padrões de consumo de produtos e serviços. Além
disso, o conceito engloba o segmento de mercado que se origina da exploração
estratégica desse nicho de mercado (BARUFFI et al., 2019). Dessa forma, o
posicionamento de marcas e empresas em relação ao combate aos preconceitos e ao
acolhimento genuíno, bem como a implementação de políticas de inclusão e
diversidade sexual e de gênero nas organizações, tornam-se fatores relevantes na
41
escolha dos bens e serviços consumidos pelas pessoas LGBTQIA+ (HO; OLSON,
2020; HO; KHAN, 2022; HO, 2023).
Na atualidade, uma das principais pautas do movimento LGBT brasileiro é a
batalha contra a homofobia, a lesbofobia e a transfobia, termos que englobam o medo
e/ou ódio em relação à homossexualidade ou às pessoas trans. Essas formas de
discriminação são frequentemente manifestadas por meio de xingamentos, exclusão
social, preconceito, discriminação e atos de violência (PORTO ALEGRE, 2015).
Desde olhares, comentários, piadas e brincadeiras até agressões verbais e físicas,
em razão das violências sofridas diariamente, as pessoas LGBTQIA+ acabam
“escondendo” sua sexualidade, mudam seu comportamento, evitam demonstrações
de afeto a fim de evitar agressões e homofobia em ambientes heteronormativos,
situação denominada como “passing” pela literatura (HO, 2023; MONTERRUBIO,
CASELIN, 2023).
Também é importante considerar o fenômeno do "pink washing", que
representa ações superficiais ou inautênticas adotadas por algumas empresas para
se mostrarem solidárias ao movimento, mas que não contribuem efetivamente para a
promoção da inclusão (CARVALHO et al., 2012; TRESSOLDI, 2021). Para serem
reconhecidos como espaços LGBTQIA+ friendly, Silva e Carvalho (2020) enfatizam a
necessidade de um envolvimento mais amplo, incluindo a contratação de pessoas
LGBTQIA+, programas de inclusão e treinamento da equipe.
Do mesmo modo, estudiosos ressaltam a necessidade de superar o perfil
estigmatizado associado ao público-alvo do mercado LGBTQIA+, que historicamente
tem se concentrado no homem cisgênero, branco, gay, culto, rico e magro (FRANÇA,
2103; MISOCZKY et. al., 2012; NUNAN, 2015; HANKEL, 2016; TRESSOLDI, 2021;
MOTA; LAURENTIZ, 2019; DALPIAN; SILVEIRA, 2018). Cada vez mais surgem
demandas por empoderamento feminino e da comunidade lésbica, bem como maior
reconhecimento dos desafios enfrentados pelas pessoas LGBTQIA+ negras, que
frequentemente enfrentam preconceitos adicionais (NGHIÊM-PHÚ, 2018). A exclusão
histórica de transexuais e travestis também é uma questão relevante que requer maior
inclusão e visibilidade (PUCCINELLI; REIS, 2017; GUARACINO; SALVATO, 2017;
TRESSOLDI, 2021).
Além disso, é fundamental reconhecer o papel significativo das novas
identidades sexuais e de gênero na configuração desses espaços. Compreender e
respeitar essas identidades torna-se essencial para promover uma inclusão genuína
42
e abrangente no mercado (SANTOS, 2018). Dessa forma, torna-se imprescindível que
as empresas e marcas estejam atentas a essas mudanças e avancem além de
estereótipos obsoletos, garantindo que suas estratégias de marketing e políticas de
inclusão sejam verdadeiramente reflexivas e respeitosas com a diversidade presente
na comunidade LGBTQIA+, proporcionando experiências autênticas e positivas para
todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de
gênero.
3.2.1. Nova Iorque
A cidade de Nova Iorque, situada no estado de mesmo nome, nos Estados
Unidos tem forte ligação com o desenvolvimento do movimento de direitos LGBTQIA+.
Conforme debatido anteriormente, a cidade foi palco da histórica Revolta de
StoneWall Inn, em 1969, protestos que deram origem às Paradas de Orgulho
LGBTQIA+, que ocorrem em todo mundo até hoje. Atualmente, a região metropolitana
de Nova Iorque, composta por Bronx, Brooklyn, Manhattan, Queens e Staten Island,
possui a maior população LGBTQIA+ do mundo, cerca de 706.000 pessoas
(WILLIANS INSTITUTE, 202).
Ademais, a cidade é um dos principais destinos turísticos do mundo, tanto entre
pessoas héteros quanto entre a comunidade LGBTQIA+, chegando a mais de 60
milhões de visitantes em 2019, enquanto durante parada do orgulho do mesmo ano,
em comemoração aos 50 da Revolta de StoneWall Inn foram 5 milhões de visitantes
e 4 milhões de expectadores do evento, período pé-pandemia da Covid19 (NOVA
IORQUE, 2022; NYC PRIDE, 2022). A territorialidade é uma dimensão importante da
sociabilidade da comunidade LGBTQIA+ em Nova Iorque. A cidade é conhecida por
ser um dos principais destinos para a comunidade LGBTQIA+ no mundo e por ter uma
longa história de luta pelos direitos e liberdades da comunidade (Johnson, 2019;
Smith, 2018).
Em relação aos lugares LGBTQIA+ friendly, a cidade tem por caraterística a
grande oferta de espaços públicos e privados de uso público relacionados à
comunidade: são praças, pontos turísticos, bares, restaurantes e bairros (NYC &
COMPANY, 2022). O escritório de turismo e promoção da cidade, New York City &
Company, possui um roteiro com 17 pontos de referência LGBTQIA+ na cidade,
dentre eles, destacam-se: Stonewall In – bar histórico e palco da Revolta de 1969;
43
Christopher Park – ao lado do StoneWall In, possui uma famosa escultura de George
Segal, Gay Liberation; Museu Leslie Lohman – de arte LGBTQIA+; NYC Aids
Memorial - homenageia os mais de 100.000 nova-iorquinos que morreram de
pandemia de AIDS; Lesbian Herstory Archives – museu e arquivo de preservação da
memória lésbica.
Figura 1 – Mapa de lugares históricos da comunidade LGBT de Nova Iorque
Fonte: NYC LGBT Historic Sites Project, 2022;
Cumpre destacar, também, a iniciativa do NYC LGBT Historic Sites Project, que
buscou mapear os lugares de importância histórica para a comunidade LGBTQIA+ na
cidade, com o objetivo de colocar luz sobre sua influência na sociedade e história
americana, muitas vezes suprimida, preservando sua memória. Assim, o mapa
interativo online identifica espaços públicos, privados de uso público e residências
relevantes para a comunidade Queer, tais como praças, bares, clubes, restaurantes,
44
organizações culturais e acadêmicas, conforme a Figura 1, do período anterior à 1850
até 1990, permitindo análise da expansão histórica dos espaços sociais das pessoas
LGBTQIA+ em Nova Iorque.
Sobre os bairros considerados LGBTQIA+ friendly na cidade, o site de
inteligência artificial Localize.city, que fornece aos compradores e locatários detalhes
importantes sobre imóveis na cidade, utilizando-se de um conjuntos de dados
públicos, incluindo censo, lista pública de empresas LGBT da Câmara Nacional de
Comércio Gay e Lésbica, desenvolveu um algoritmo que identificou a quantidade de
bares, locais, serviços sociais, organizações comunitárias e vários grupos dentro dos
bairros, para identificar os bairros LGBTQIA+ da cidade, quais sejam: em Manhattan,
Chelsea, Hell's Kitchen e GreenWich Village, no Brooklyn em Park Slope, Windsor
Terrace e a parte leste de Williamsburg/Buschwick, Bedford-Stuyvesan, no Bronx, em
Melrose/MottHaven, Fordham, no Queens, em Jacksons Heights (LOCALIZE, 2019).
O relatório lista que os bairros gay evoluíram de lugares ancorados por
serviços, bares e grandes comunidades Queer - como o Village e Chelsea - para
enclaves menores e mais difusos em todos os bairros (LOCALIZE, 2019), em razão
do processo de gentrificação apontado por Bell e Binnie (2004). Sobre a ocupação do
território pela minoria LGBTQIA+, o documento assevera que
The landscape of these LGBTQ-affirming enclaves has changed (...) In New
York City, Queer-friendly spaces are less stagnant and more transient, rather
than rooted in one place. The Village, because of the pricey real estate there,
is no longer leading a counter cultural movement, and in some ways is not
hospitable to the city’s diverse LGBTQ communities. Other neighborhoods
across the boroughs now have their own hubs... (LOCALIZE, 2019, p. 1)6.
No mesmo sentindo, os mapas de guias turísticos e sites indicativos de espaços
LBTQIA+ corroboram essa afirmação, de acordo com a Figura 2. Nela estão as
indicações dos guias GayMapper e MisterB&B em 2022, com foco no público
LBTQIA+, demonstram que ainda que haja uma concentração nas regiões de
Manhattan, Chelsea, Hell's Kitchen e GreenWich, também é possível identificar novos
6 Tradução própria: A paisagem desses enclaves LGBTQ de afirmação tem mudado (...) Em Nova
Iorque, os espaços que acolhem bem a comunidade Queer são menos estagnados e mais transitórios,
ao invés de estarem arraigados em um único lugar. O Village, devido ao alto preço dos imóveis, não
está mais liderando um movimento contracultural e, de certa forma, não é acolhedor para as diversas
comunidades LGBTQ da cidade. Outros bairros em toda a cidade agora possuem seus próprios
centros...
45
focos de concentração de espaços LGBTQIA+ em diferentes pontos da cidade
(JOHNSON, 2019; SMITH, 2018).
Figura 2 – Guias de estabelecimentos LGBTQIA+ friendly de Nova Iorque: Gay
Mapper e Mister B&B em 2022.
Fonte: GayMapper, 2022; MisterB&B, 2022; Autor, 2022.
A territorialidade LGBTQIA+ em Nova Iorque é marcada por símbolos visuais,
como bandeiras arco-íris e outros símbolos de orgulho e visibilidade da comunidade.
Estes símbolos são frequentemente exibidos nas fachadas de lojas, bares e
restaurantes, bem como em artes e demonstrações visuais públicas, e servem como
um convite e uma declaração pública de acolhimento à comunidade (JOHNSON,
2019; SMITH, 2018). A cidade também é sede de várias organizações LGBTQIA+,
incluindo grupos de direitos humanos e organizações de saúde, que trabalham para
apoiar e proteger os direitos da comunidade (JOHNSON, 2019; SMITH, 2018).
A menor concentração desses lugares de hospitalidade urbana, assim como a
existência de novas comunidades demonstram a expansão da territorialidade
LGBTIA+, que ganha novos contornos, mas também é vítima do processo de
gentrificação7 (BEL; BINNIE, 2004). A territorialidade é fundamental para a construção
da sociabilidade, pois permite que as pessoas se identifiquem e se relacionem com o
7 “O termo refere-se a processos de mudança das paisagens urbanas, aos usos e significados de zonas antigas
e/ou populares das cidades que apresentam sinais de degradação física, passando a atrair moradores de rendas
mais elevadas” (ALCANTARA, 2018, p. 2).
46
lugar em que vivem. É através da territorialidade que as pessoas estabelecem
vínculos com a comunidade e com a cultura local, construindo sua identidade e sentido
de pertencimento.
Através da ocupação de espaços públicos e privados, esses grupos constroem
sua presença e visibilidade na cidade, afirmando sua identidade e lutando por seus
direitos. Desse modo, ressalta-se a demanda contínua de abrigos seguros LGBTQIA+,
locais para se organizar e resistir ao status quo heteronormativo, lugares para
socializar e amar livremente ainda são necessários (GUARACINO; SALVATO, 2019;
LOCALIZE, 2019).
3.2.2. Buenos Aires
A cidade de Buenos Aires, capital da Argentina, é um dos principais destinos
turísticos LGBTQIA+ do mundo, e o palco de grandes avanços legislativos sobre
direitos das minorias sexuais e de gênero na América do Sul (GUARACINO;
SALVATO, 2019). Todavia, o espaço portenho apresenta uma dualidade entre o
tradicional e o cosmopolita, com a afirmação da masculinidade em sua cultura, mas
abertura para a inclusão da comunidade LGBTQIA+.
Figura 3 – Mapa de estabelecimentos LGBTQIA+ friendly de Buenos Aires
Fonte: TravelGay, 2022; NomadicBoys, 2022; Autor, 2022.
Apesar de não apresentar a formação um bairro ou localidade LGBTQIA+, os
bairros de Palermo, como as localidades contíguas, Recoleta e San Telmo
47
apresentam a concentração dos espaços, de acordo com a Figura 3. A presença da
comunidade LGBTQIA+ nesses bairros é notável através da presença de bares e
clubes específicos para a comunidade, além de eventos culturais que celebram a
diversidade (GARCÍA, 2019).
A acolhida e o convite público à comunidade LGBTQIA+ é uma parte
fundamental da identidade nessas localidades e reflete o compromisso da cidade em
promover a igualdade e a diversidade. A Figura 3 demonstra, também, a indicação de
dois guias com foco no público LGBTQIA+, o TravelGay e o Nomadicboy, coletados
em junho de 2022. Cumpre destacar nesse caso, que mesmo não sendo considerado
um bairro ou reduto LGBTQIA+ são comuns as manifestações de acolhimento, por
meio de símbolos e signos físicos, nos lugares de hospitalidade na cidade de Buenos
Aires, fazendo um convite autêntico, como prelecionam Guaracino e Salvato (2017),
como podem demonstrar as Figuras 4 e 5.
Figura 4 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em Palermo
Fonte: Autor, 2022.
As fachadas de lojas, bares e restaurantes, bem como as artes e
demonstrações visuais públicas, frequentemente incluem símbolos da comunidade,
como a bandeira arco-íris, como forma de convite e acolhimento (GARCÍA, 2019). A
Figura 4 apresenta 3 imagens de bandeiras de apoio à comunidade LGBTQIA+ e
Trans na parte externa de restaurantes e lojas do bairro de Palermo.
48
Figura 5 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em Palermo, Sant Telmo e
Recoleta
Fonte: Autor, 2022.
A figura 5 apresenta também 3 representações de apoio em espaços públicos:
o adesivo na porta de restaurante com a bandeira LGBTQIA+ e a #OrgulloBA em
Palermo, a sinalização de café no Mercado de San Telmo com coração em arco íris e
#LOVEISLOVE, e o mural Soy Yo nas cores do arco íris, um projeto do Centro Cultural
Recoleta em 2019.
Ganham destaque políticas e iniciativas que visam tornar a cidade mais
hospitaleira para essa população, como capacitações ao turismo LGBTQIA+, apoio à
Parada do Orgulho, realizada sempre em novembro no país, assim como assimilações
à manifestações culturais tradicionais, como o Concurso Internacional de
QueerTango, onde os pares de bailarinos são formados por pessoas da comunidade
LGBTQIA+ (CECCONI, 2009). Da mesma forma, a cidade é sede de vários outros
eventos e festivais que celebram a diversidade sexual e de gênero, incluindo o Festival
Internacional de Cinema LGBTQIA+ e o Festival de Arte LGBTQIA+ de Buenos Aires
(GARCÍA, 2019).
A cidade é apresentada como um lugar que busca promover a convivência
pacífica e respeitosa entre os seus habitantes, incluindo a comunidade LGBTQIA+.
César Cigliutti e Marcelo Suntheim, membros da organização LGBT “Comunidad
Homosexual Argentina”, destacam a criação de espaços culturais, de lazer e encontro
como uma forma de criar laços e afetos dentro da comunidade LGBTQIA+ e
possibilitar uma convivência pacífica e respeitosa. De acordo com os autores, "a
49
comunidade LGBT de Buenos Aires criou espaços de acolhida e convivência que
contribuem para a formação de uma rede de apoio e suporte emocional para os
indivíduos que frequentam esses espaços" (CIGLIUTTI; SUNTHEIM, 2016).
A cidade de Buenos Aires é descrita como um lugar de acolhimento e inclusão,
que busca promover a diversidade e a convivência pacífica entre as pessoas. Como
afirma Montandon (2011), "a hospitalidade é a manifestação mais eloquente da
abertura ao outro, da vontade de acolher e compartilhar, de estabelecer laços de
amizade e solidariedade" (MONTANDON, 2011, p. 29).
Assim, Buenos Aires é vista como um exemplo de como a hospitalidade e a
acolhida podem contribuir para a formação de comunidades mais inclusivas e
solidárias, especialmente em relação à comunidade LGBTQIA+. A criação de espaços
de convivência e resistência é vista como uma forma de afirmar a identidade e os
direitos desses indivíduos, contribuindo para a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária.
3.2.3. São Paulo
Historicamente, o reduto das minorias sexuais na cidade de São Paulo, Brasil,
estava concentrado em sua região central, cerca da confluência das Avenidas Ipiranga
e São João, tendo como ponto focal as proximidades do Largo do Arouche (GREEN ;
TRINDADE, 2005; SAGGESE, 2015). Em razão das dinâmicas, sociais e econômicas
estes espaços passaram a ser concentrados na Consolação, nas Ruas Augusta e Frei
Caneca, sendo esta reconhecida como a rua gay de São Paulo (SAGGESE, 2005;
PUCCINELLI, 2013).
São Paulo é amplamente reconhecida como um dos principais destinos para a
comunidade LGBT no Brasil (SILVA, 2016). Segundo o Guia Gay de São Paulo (2014),
a cidade é conhecida por sua vida noturna vibrante e cena cultural diversificada,
incluindo festivais de música, teatro, arte e eventos específicos para a comunidade
LGBT (VARGAS, 2018).
A urbanidade LGBT em São Paulo é descrita como vibrante e inclusiva
(VARGAS, 2018). O Guia Gay de São Paulo destaca a presença de vários bares,
clubes e eventos específicos para a comunidade LGBT na cidade (SILVA, 2016).
Durante o mês de junho, que é celebrado como o mês do Orgulho LGBT, São Paulo
se transforma com a decoração de arco-íris e é palco de vários desfiles e eventos para
50
celebrar a diversidade e a igualdade (SILVA, 2016). A cidade concorre com Buenos
Aires como a capital LGBTQIA+ da América Latina e como sede da maior Parada do
Orgulho do Mundo. O evento é realizado na Avenida Paulista, um dos maiores
símbolos socioeconômicos e culturais do país, desde 1997 (SAGGESE, 2005).
Segundo estimativas dos organizadores, a edição de 2022 contou com público de 4
milhões de pessoas e recebeu mais de 1,64 milhão de turistas, segundo dados do
Observatório do Turismo da Prefeitura de São Paulo e da Associação da Parada do
Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT-SP, 2022).
Figura 6 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em São Paulo durante o mês
de Junho de 2022 (1)
Fonte: Autor, 2022.
A Figura 6 apresenta os símbolos LGBTQIA+ expostos nas áreas externas de
lugares simbólicos da cidade: o teatro Municipal no centro, o Conjunto Nacional na
Avenida Paulista, e a Parada do Orgulho LGBTQIA+ na Avenida Paulista. Essa
visibilidade, assim como em Nova Iorque, também ocasionou uma expansão e difusão
do território da população LGBTQIA+ no mapa da cidade, perpassando bairros da
Zona Oeste, como Pinheiros e da Zona Sul da cidade. Da mesma forma que em
Buenos Aires, durante o período de coleta de dados, em que se celebra o mês do
orgulho, pode-se observar a utilização de elementos simbólicos para manifestação de
apoio à causa LGBTQIA+ em espaços públicos e privados de uso público, assim como
o apoio da gestão pública aos eventos comemorativos.
51
A simbologia LGBTQIA+ é uma parte importante da cultura e da identidade da
comunidade em São Paulo, com a bandeira arco-íris sendo o símbolo mais
amplamente utilizado para representar a diversidade sexual e de gênero (VARGAS,
2018). De acordo com o museu de sexualidade de São Paulo, a lua crescente é usada
como uma forma de representar a visibilidade da comunidade transgenero (SILVA,
2016).
A Figura 7 representa imagens de acolhimento à comunidade LGBTQIA+: uma
exposição fotográfica sobre visibilidade de pessoas transexuais e travestis no
Shopping Light, na região central; totem de apoio do poder público, com canal de
denúncias aos casos de LGBTfobia, e o pin de identificação de lugar LGBTQIA+
friendly em restaurante no Shopping Cidade Jardim, na zona sul. A espacialidade
LGBT em São Paulo é descrita como tendo tomado prédios e avenidas simbólicas da
cidade durante o mês do Orgulho, criando territórios LGBTQIA+ na cidade (VARGAS,
2018).
Figura 7 – Manifestações de apoio LGBTQIA+ friendly em São Paulo durante o mês
de Junho de 2022 (2)
Fonte: Autor, 2022
3.2.4. Porto Alegre
A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, tem uma população estimada de
1,4 milhão de pessoas e é o centro de uma região metropolitana de aproximadamente
52
4,4 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2022). No primeiro semestre de 2023, também se tornou a segunda principal
porta de entrada do país para turistas estrangeiros (EMBRATUR, 2023), com a
consolidação de diversos roteiros turísticos do estado, em especial da Região das
Hortênsias e o Vale dos Vinhedos (RIO GRANDE DO SUL,2022).
No contexto sociocultural, o Rio Grande do Sul e sua capital, Porto Alegre, são
frequentemente associados ao conservadorismo, uma perspectiva claramente
influenciada por seu folclore, imaginário da figura do gaúcho, que se concentra na
figura do cavaleiro rural, mais severo e masculino (PASSAMANI, 2008, PORTO
ALEGRE, 2015). Todavia, foi na cidade que começaram os movimentos políticos que
mudaram o Brasil no século XX, bem como onde começaram os movimentos
ambientais brasileiros na década de 1970 (PORTO ALEGRE, 2015).
Desde 1990, a cidade de Porto Alegre tem um artigo na Lei Orgânica que
penaliza empresas que apoiam ações discriminatórias de qualquer tipo, incluindo
aquelas relacionadas à orientação sexual ou à identidade de gênero. Da mesma
forma, na cidade ocorre a segunda Parada LGBTQIA+ mais antiga do país. Além de
ser a primeira cidade do Brasil a estabelecer uma Subsecretaria Municipal de Livre
Orientação Sexual, foram nos tribunais gaúchos o reconhecimento primeiro
casamento homoafetivo em 2001, 12 anos antes que isso fosse feito em todo o país
(PORTO ALEGRE, 2015).
Destaca-se a atuação dos movimentos sociais na luta pelas conquistas
relacionadas. Em Porto Alegre, o movimento ganhou forma a partir da criação do
Grupo Nuances em 1991, tendo sua primeira Parada Livre realizada em 1997,
reunindo 150 pessoas (SIMÕES; FACCHINI, 2018). O Nuances desenvolveu sua
atuação por meio de projetos, campanhas, manifestações, participação em
mobilizações sociais, proposição de leis, livros, cartilhas, folders e relatórios de
projetos, além da organização anual da Parada Livre da cidade, assim como guias e
divulgação de espaços LGBTQIA+ da cidade, como demonstrado na Figura 8.
53
Figura 8 – Mapa do Guia Gay de Porto Alegre de 2005 do Grupo Nuances
Fonte: Nuances (2005) apud Dalpian (2017)
Na cidade, os grupos e coletivos se expandiram e atualmente ONGs, coletivos
autônomos, organizações ligadas a partidos, diretórios acadêmicos de universidades,
grupos de pesquisa e extensão universitária e serviços públicos independentes estão
atualmente na organização do evento, destacando-se o Nuances, Juntos, Somos,
Liga Brasileira de Lésbicas, Diversxs, Mães Pela Diversidade, Núcleo Diversidade
Ordem dos Advogados do Brasil\RS, que conta com o apoio de entidades
governamentais e privadas, como bares, restaurantes e demais empreendimentos
ligados à comunidade (BARROSO, 2007; VALLE, 2016). Outro fator relevante é a
ocorrência de outra parada na cidade, chamada da Parada de Luta, pela cisão dos
movimentos organizadores em razão de divergências políticas sobre a construção do
evento (VALLE, 2016).
Em 2015 a Secretaria de Turismo lançou o programa Porto Alegre LGBT com
o objetivo de aumentar o segmento turístico na cidade através da qualificação de
empreendedores, colaboradores e servidores públicos no acolhimento e atendimento
54
ao público LGBT, assim como recebeu o Selo de Destino LGBT-friendly da Embratur
(PORTO ALEGRE, 2015). O objetivo principal do programa foi promover a diversidade
no turismo, tendo em conta as diferentes orientações sexuais e identidades de gênero.
Isso é alcançado por meio de discussões sobre o assunto, disseminação de
informações sobre o combate à discriminação e adoção de medidas eficazes para
garantir respeito e inclusão.
Um componente relevante do programa é a existência de um selo com
reconhecimento oficial, que funciona como um instrumento de comunicação entre o
governo e o mercado, bem como uma política pública. Por meio desse selo, o governo
estabelece referências para as organizações que atuam no setor, diferenciando
aquelas que atendem aos requisitos de inclusão e respeito das demais, de forma
voluntária e proativa (PORTO ALEGRE, 2015).
No entanto, desde o início, o programa enfrentou críticas consideráveis,
apresentadas por Dalpian:
(1) the program does not create or demarcate safe of friendly spaces, it just
receives applications for listings in a website19; (2) the program was criticized
by Juntos Organization representative (a Porto Alegre LBGT rights NGO) for
its Eurocentrism, excluding all intersections that do not conform to white, male,
and rich; (3) the program stepped back from creating an identifiable tag or
symbol for place-things for not knowing what the reaction of other, non-LGBT,
patrons would be (DALPIAN, 2007, p. 115, traduzido). 8
Com as conseguintes trocas de gestão da Prefeitura, por meio da Lei de Acesso
à informação, a Prefeitura informou que foram qualificadas 21 empresas e cerca de
250 pessoas. O programa LGBT durou até o primeiro trimestre de 2016, com a
extinção da Secretaria Municipal de Turismo, as ações do Programa não foram
continuadas mesmo restando consignado a importância do segmento turístico
LGBTQIA+ no Plano Estratégico de Turismo de Porto Alegre 2020-2026 (PORTO
ALEGRE, 2020).
Dalpian (2017) ressalta que, no contexto de Porto Alegre, os espaços sociais e
lugares históricos relacionados à comunidade LGBTQIA+ não são acessíveis, devido
a:
8 Tradução própria: (1) não estabeleceu ou demarcou espaços seguros e amigáveis, limitando-se a
receber inscrições para listagens em um site; (2) foi objeto de críticas por parte da organização "Juntos"
(uma ONG de direitos LGBT em Porto Alegre) devido ao seu eurocentrismo, que excluiu interseções
que não se alinham com padrões brancos, masculinos e ricos; (3) não criou uma identificação visual ou
símbolo para os locais LGBT, temendo a reação de outros clientes que não fazem parte da comunidade
LGBT
55
(1) Porto Alegre‟s gay places are hardly clearly identified as LGBT spaces (for
example: pride flags, business networks, advertising,...), so patrons rely much
more in networks and social connections to navigate the gayscape (more
about this is discussed in the next subsection); and (2) the only Porto Alegre
gay guide currently being distributed started to be published only recently
(around the year 2000) (DALPIAN, 2017, p.111)9
Portanto, o autor enfatiza que essa situação não está organizada como um
esforço turístico que promova e celebre os locais LGBTQIA+ (DALPIAN, 2017). Não
obstante, Dalpian e Silveira destacam a existência de inciativas como a Freeda, uma
organização privada que realizava “treinamentos e (...) certificações para locais de
mercado, além de conferir um selo de acessibilidade LGBT para bares, restaurantes,
cafés, boates e qualquer outro estabelecimento que passar por tal treinamento
voluntário” (DALPIAN; SILVEIRA, 2019, p. 388) e que atuava na cidade durante sua
pesquisa de campo.
‘ Os bairros Cidade Baixa e Bom Fim em Porto Alegre têm sido
historicamente destacados como espaços amigáveis à comunidade LGBTQIA+
(PORTO ALEGRE, 2015; DALPIAN, 2017; FONSECA, 2006; REIS, 2013). Essas
áreas concentram principalmente estabelecimentos voltados ao segmento
LGBTQIA+, sendo considerados espaços alternativos e vinculados à juventude e à
diversidade. A Cidade Baixa, conhecida como o bairro boêmio da capital, é um dos
principais pontos de encontro para aqueles que desejam aproveitar a vida noturna,
pois oferece uma ampla variedade de bares, lanchonetes, fast-foods e danceterias. É
uma excelente opção para quem busca conhecer a rotina da comunidade local e
confraternizar com amigos. Caracterizado por sua eclética atmosfera, atrai pessoas
de diversas tribos e especialmente aqueles que procuram um ambiente diversificado
e acolhedor para se divertir (PORTO ALEGRE, 2020).
9 Tradução própria: (1) os locais gays da cidade não são claramente identificados como espaços LGBT
(por exemplo, bandeiras do orgulho, redes de negócios, publicidade, etc.), levando os frequentadores
a dependerem mais de redes e conexões sociais para se orientarem no cenário LGBT; e (2) o único
guia gay de Porto Alegre atualmente distribuído começou a ser publicado apenas recentemente (por
volta do ano 2000)
56
Figura 09 – Mural do Grupo Nuances na Cidade Baixa em homenagem à Negra Lú
Fonte: Autor (2022).
Em contrapartida ao caráter mais tradicional do bairro, o Bom Fim também se
destaca como um espaço vinculado a um estilo de vida alternativo, frequentado por
intelectuais, músicos e artistas locais. O imaginário associado a esse bairro, como
"boêmio", "cultural" e "democrático", contribui ainda mais para seu significado
simbólico (PORTO ALEGRE, 2020). Esses bairros têm desempenhado um papel
significativo ao oferecer espaços acolhedores e inclusivos para a comunidade
LGBTQIA+ em Porto Alegre. A presença de estabelecimentos amigáveis à diversidade
nesses locais tem sido fundamental para fomentar um senso de pertencimento e
visibilidade para a comunidade, permitindo interações sociais e promovendo a
celebração da diversidade e individualidade.
57
4. METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos que orientaram esta pesquisa são
apresentados nesta seção. Deste modo, foram abordados o desenho da pesquisa,
englobando sua abordagem metodológica, os procedimentos metodológicos adotados
e o método subjacente que fundamentou o estudo. Em seguida, são delineadas as
etapas de execução do trabalho, explorando as técnicas empregadas para a coleta
de dados, sendo também destacada a seleção do instrumento utilizado para essa
finalidade. Por fim, são apresentados os métodos empregados na análise dos dados,
englobando as técnicas específicas utilizadas para interpretar e compreender os
resultados obtidos.
4.1. ABORDAGEM, PROCEDIMENTOS E MÉTODO
Este estudo é baseado em uma abordagem qualitativa, concretizada por meio
de um estudo de três etapas, explicitadas no item a seguir, as quais visam responder
a seguinte pergunta: “Quais as relações entre hospitalidade, cidadania e a oferta de
espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly no território de grandes cidades?”. Parte-
se do pressuposto que a forma pela qual os territórios urbanos são disponibilizados
para o usufruto dos mais variados grupos sociais, incluindo a população LGBTQIA+
friendly, pode indicar sua condição hospitaleira de cidade. São proposições de
pesquisa, levadas a discussão com os entrevistados:
P1 - Nesses espaços é possível identificar diversas dimensões da
hospitalidade, quais sejam: territorialidade; simbólica; social: acolhimento;
comensalidade; sociabilidade e urbanidade.
P2 - Esses espaços apresentam uma identidade estética diferenciada
percebida através da ambientação, pela trilha sonora, pela gastronomia, criando uma
atmosfera única e acolhedora para a comunidade LGBTQIA+.;
P3 - Esses espaços tornaram-se espaços de resistência, empoderamento e
inclusão social para as minorias, especialmente nas grandes cidades onde o poder
acaba segregando os espaços.
Desta forma, tem-se como objetivo principal investigar as dimensões da
hospitalidade e as características dos espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly nas
grandes cidades que são capazes de despertar sensações de acolhimento e bem-
58
estar, bem como contribuir para a cidadania nos espaços urbanos, considerando as
perspectivas tanto dos anfitriões quanto dos hóspedes. Já os objetivos específicos
são:
a) Verificar como as dimensões da hospitalidade e características dos espaços
gastronômicos LGBTQIA+ friendly se relacionam na promoção de sensações de
acolhimento e bem-estar para os atores envolvidos, anfitriões e hóspedes.
b) Identificar e mapear os espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly Porto
Alegre/RS, enfocando aqueles que são referência para a comunidade LGBTQIA+;
c) Analisar as dimensões da hospitalidade presentes nos espaços
gastronômicos LGBTQIA+ friendly de Porto Alegre/RS, considerando as percepções
dos anfitriões e hóspedes.
d) Verificar como as características dos espaços gastronômicos LGBTQIA+
friendly são percebidas pelos anfitriões e hóspedes em Porto Alegre/RS.
Os objetivos da pesquisa apresentados relacionam-se com a realidade dos
indivíduos da comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades, cujas vivências diferem
da realidade comum. Para alcançar esse propósito, foi adotada uma abordagem
alinhada com a teoria Queer, que sustenta que a orientação sexual e a identidade de
gênero são construções sociais, o que implica que as construções sociais sobre
gênero e identidade sexual têm um impacto direto nas vivências dessas pessoas na
sociedade (CRESSWELL, 2016). Essa escolha metodológica encontra suporte nas
ideias de Gil (2002), que afirma que a pesquisa científica é um procedimento racional
e sistêmico, utilizado para atingir resultados almejados por meio do concurso de
conhecimentos disponíveis e da aplicação cuidadosa de métodos e técnicas
científicas.
Nesse contexto, a pesquisa qualitativa se mostra apropriada, pois, segundo
Cresswell (2016), ela permite a realização do estudo em cenários naturais, utilizando
múltiplos métodos interpretativos e humanísticos, de forma emergente, interpretativa
e holística dos fenômenos. Além disso, essa abordagem valoriza a reflexão
sistemática e a atenção à própria história da pesquisa, priorizando o uso de um
raciocínio complexo e multifacetado, interativo e simultâneo. Ademais, possibilita a
implementação de várias estratégias de investigação, tornando a análise de dados
mais completa e diversificada.
59
4.2. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
A pesquisa foi estruturada em três etapas, alinhadas aos objetivos, pontos de
investigação e métodos ilustrados na matriz de amarração que compõe o Quadro 5
apresentado ao final da sessão. Estas etapas serão detalhadas nos subitens que
seguem.
4.2.1 Primeira Etapa
A primeira etapa, de cunho exploratório, consistiu na realização de pesquisa
bibliográfica e documental, através de revisão sistemática literatura sobre
hospitalidade, temática LGBTQIA+, e os espaços sociais amigáveis à comunidade
LGBTQIA+ em grandes cidades, através de protocolo definido por Pollock e Bergue
(2018), e tem como objetivo a compreensão do estado da arte sobre a temática
proposta, esclarecer conceitos e discutir teorias (GIL, 2018).
Após a formulação das perguntas e pressupostos de pesquisa, foram
estabelecidos os seguintes critérios para revisão da literatura: foram selecionados
teses, dissertações e artigos revisados por pares, com publicação entre 2002 e 2022,
a partir de buscas nas bases de dados Scopus, Web of Science, Scielo, Google
Acadêmico, e no Portal de Periódicos Capes, com indicadores de buscas as palavras:
hospitalidade; comensalidade; acolhimento; diversidade; LGBTQIA+; bem como suas
referências em língua inglesa hospitality; commensality; host; diversity; LGBTQIA+.
Pela leitura do resumo e das palavras-chaves, foram selecionados os
documentos com relevância para o escopo do estudo, retando analisados e
estratificados segundo área do conhecimento, revista, autores e ano de publicação.
Ademais, formaram o corpo de pesquisa obras de referência sobre hospitalidade e a
temática LGBTQIA+. Em conjunto, foi realizada pesquisa teórico-empírica de caráter
exploratório, com objetivo caracterizar as dimensões da hospitalidade e
características dos espaços sociais LGBTQIA+ friendly nas grandes cidades, em
especial Porto Alegre/RS. Por meio de revisão bibliográfica e documental a cerca de
quatro grandes cidades da América do Norte e do Sul: Nova Iorque, Buenos Aires,
São Paulo e Porto Alegre. Assim, foram realizados levantamentos de dados
geográficos, fotográficos, documentais, sobre os espaços sociais LGBTQIA+ friendly
dessas cidades, buscando sua identificação geográfica. A coleta de dados ocorreu
60
através de guias turísticos digitais, documentos públicos e privados, blogs, sites e
bases de busca online sobre os espaços sociais das cidades.
4.2.2 Segunda Etapa
Em seguida, com o objetivo de identificar e mapear os espaços gastronômicos
existentes na cidade de Porto Alegre/RS, realizou-se pesquisa teórico-empírica, por
meio de pesquisa bibliográfica e documental. A delimitação geográfica da pesquisa
deu-se em razão das experiências e vivencias pessoais do pesquisador na região
pesquisada, assim como a relevância econômica e demográfica da cidade. Com uma
população estimada em cerca de 1.400.000 habitantes, conforme dados do IBGE em
2021, além da sua região metropolitana, o contexto também abrange aspectos
socioculturais. Nesse cenário, se destacam a cultura da imagem do gaúcho como
símbolo de masculinidade e virilidade, assim como o papel da região como palco de
conquistas significativas para a comunidade LGBTQIA+ (PASSAMANI, 2008).
A escolha do recorte espacial na pesquisa sobre espaços gastronômicos
amigáveis à comunidade LGBTQIA+ em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do
Sul, é essencial para entender a dinâmica da cidade em relação à inclusão e
acolhimento da diversidade sexual e de gênero. A análise específica dos espaços
gastronômicos nessa pesquisa tem como objetivo identificar locais de sociabilidade e
convivência da comunidade LGBTQIA+ e avaliar a eficácia desses estabelecimentos
na promoção da inclusão e no combate à discriminação. Através desse recorte
espacial, espera-se obter informações significativas sobre como os espaços
gastronômicos contribuem para a formação de territórios LGBTQIA+ em Porto
Alegre/RS, assim como para a luta por direitos e igualdade.
Fora realizados levantamento de dados bibliográficos, geográficos,
fotográficos, documentais, sobre os espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly da
cidade, realizando sua identificação e mapeamento geográfico. A coleta de dados foi
realizada através guias turísticos digitais, documentos públicos e privados, blogs, sites
e bases de busca online sobre de bares e restaurantes da cidade, como também a
indicação de especialistas em gastronomia e do movimento LBTQIA+ de Porto Alegre,
utilizando-se formulário on-line de livre resposta por meio do aplicativo Google Forms,
onde foi questionado “Quais espaços gastronômicos (bares, restaurantes, cafés...)
LGBTQIA+ friendly de Porto Alegre/RS você conhece?”.
61
Assim como Guaracino e Salvato (2017) observam as dificuldades de identificar
o público LGBTQIA+, pois dependem de alguma forma de autoafirmação, também são
complexos os critérios de identificação de um espaço LGBTQIA+ friendly. Diversos
são os critérios que podem ser utilizados para considerar um estabelecimento
amigável à comunidade LGBTQIA+, tais como:
a) estabelecimentos localizados em áreas consideradas como territórios LGBT,
como bairros com alta concentração de comunidade LGBT;
b) estabelecimentos que promovem eventos ou campanhas de conscientização
sobre diversidade sexual e de gênero;
c) estabelecimentos que possuem políticas de inclusão e não-discriminação
para clientes LGBT (GUARACINO; SALVATO, 2017), não havendo consenso na
literatura sobre o tema.
Em razão da ausência de critérios mais específicos na literatura e na dificuldade
de validação dos dados coletados, em razão de sua metodologia, optou-se pela
identificação e coleta de dados sobre os espaços gastronômicos amigáveis à
comunidade LGBTQIA+ de Porto Alegre no Mapa LGBTI+ da Nohs Somos10.
A startup social Nohs Somos tem como foco a promoção de diversidade e
inclusão em organizações que busca “aproximar e mapear lugares amigáveis à
comunidade LGBTI+ e auxiliar as empresas a aprimorarem sua gestão inclusiva
(NOHS SOMOS, 2023). O mapa, como demonstra a Figura 10, é atualizado com
avaliações de usuários cadastrados sobre espaços públicos e privados de grandes
cidades, com notas de 0 à 5, onde os que recebem 10 ou mais avaliações positivas,
com notas de 4 a 5, é classificado como amigável, o estabelecimento é avaliado
imparcial quando 10 ou mais avaliações estão dividas entre positivas, neutras e
negativas, com notas entre 3 e 3,9, e de não amigável quando 10 ou mais avaliações
negativas de usuários, com notas abaixo de 3 (NOHS SOMOS, 2023).
Os lugares sem pontuação são aqueles que receberam menos de 10
avaliações, são identificados no mapa, mas não geram uma classificação. Além disso,
o site disponibiliza selos conforme à inclusão de diferentes grupos da comunidade,
reforçando “a qualidade do atendimento e a receptividade de estabelecimentos
através de selos como "espaço LGBTI", "trans amigue", "antirracista", "PCD
amigável", entre outros” (NOHS SOMOS, 2023). Os dados da plataforma
10 https://nohssomos.com.br
62
possibilitaram a verificação da concentração, ou não, desses espaços em
determinadas localidades da cidade e sua influência nas vivências das pessoas
LBTQIA+ em relação à hospitalidade na cidade de Porto Alegre.
Figura 10 – Página inicial do Mapa LGBTI+ da Nohs Somos em Porto Alegre/RS
Fonte: Nohs Somos, 2023
Devido à abordagem geográfica adotada, foram identificados e registrados os
dados de estabelecimentos classificados como restaurantes, bares e cafés, enquanto
as categorias de boates e casas noturnas foram excluídas. A coleta de dados ocorreu
em abril de 2023, identificando 24 estabelecimentos e uma filial classificados como
amigáveis de acordo com o Mapa LGBTQIA+ da Nohs Somos. Os dados geográficos
foram mapeados em um documento elaborado pelo autor, a partir do Mapa Turístico
de Porto Alegre (PORTO ALEGRE, 2022), apresentado integralmente no Anexo C.
4.2.3 Terceira Etapa
A partir da análise geográfica, ao identificar-se as áreas de maior concentração
de espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly, passou-se para a etapa seguinte. Com
a finalidade de analisar as dimensões da hospitalidade presentes nos espaços
gastronômicos amigáveis à comunidade LGBTQIA+, bem como as suas
63
características, a partir das percepções de anfitriões e hóspedes em Porto Alegre/RS,
a terceira etapa consistiu na coleta de dados, por meio da extração dos
comentários/reviews dos usuários da plataforma da Nohs Somos nos espaços, pela
realização de entrevistas com proprietários, gerentes ou responsáveis pela gestão,
dentre aqueles identificados e mapeados na etapa anterior, localizados nessas áreas
de concentração de estabelecimentos amigáveis, como também mediante a
observação participante nesses espaços e seus arredores.
Os comentários/reviews se enquadram no escopo do Conteúdo Gerado pelo
Usuário (CGU), que constitui um canal pelo qual os consumidores utilizam as
tecnologias de informação e comunicação para expressar suas percepções quanto à
satisfação ou insatisfação em relação aos produtos e/ou serviços que receberam,
englobando avaliações, atribuição de notas e inclusão de imagens, que empoderam
o usuário (CARVALHO; CHEMIN; VALDUGA, 2021; CORREA; HANSEN, 2014;
KRUMM et al., 2008). Comumente utilizados uma ferramenta para avaliar a qualidade
de seus serviços, o CGU é utilizado na academia como objeto de pesquisa pelo seu
potencial elucidativo (CARVALHO; CHEMIN; VALDUGA, 2021; SILVA ET AL., 2017).
Os dados foram coletados manualmente do Mapa LGBTQAI+ da startup Nohs
Somos, durante o mês de maio de 2023, após foram estratificados e organizados em
banco de dados, com auxílio do software Microsoft Excel, sendo contabilizados 246
comentários. Adotando-se um escopo delimitado para a seleção dos comentários
objeto de análise, foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão que visam
garantir a relevância, consistência e confiabilidade dos dados considerados.
Foram utilizados como critérios de inclusão: os comentários de espaços
identificados como amigável na etapa anterior; comentários que expressam opiniões,
experiências ou percepções sobre a hospitalidade e a inclusão LGBTQIA+ nos
espaços gastronômicos em questão; comentários realizados entre o lançamento da
plataforma até a data de extração dos dados. Da mesma forma, foram adotados como
critérios de exclusão: comentários sobre os demais espaços da plataforma;
comentários que contenham informações irrelevantes, como spam, conteúdo
ofensivo, ou não relacionado à experiência nos estabelecimentos; comentários que
não apresentem informações substanciais ou que sejam muito breves para análise
adequada. Desse modo, foram analisados 188 comentários gerados por usuários,
apresentados no Apêndice B.
64
Posteriormente, entre os espaços gastronômicos previamente identificados e
mapeados, situados nessas áreas de concentração de estabelecimentos acolhedores,
foi realizado um processo de seleção aleatória, sendo então contatados 12 desses
locais, por meio de seus proprietários, gerentes ou responsáveis pela administração,
com o intuito de convidá-los a participar de entrevistas. Nesse processo, dois não
responderam, dois não estavam disponíveis e, por fim, oito aceitaram participar
ativamente da pesquisa. Os contatos com os gestores e entrevistas ocorreram entre
os meses de maio e junho de 2023, tanto em formato presencial como online,
seguindo um roteiro temático predefinido e adotando uma abordagem
semiestruturada, tal como ilustrado pelos dados apresentados no Quadro 1 a seguir.
Quadro 1 – Roteiro de temático de entrevistas
Quadro Temático Pontos de abordagem
Introdução
1) Apresentação da pesquisa;
2) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;
3) Apresentação do espaço gastronômico e pessoal;
Hospitalidade –
dimensões em
espaços
gastronômicos
4) Caracterização/descrição do público;
5) Atendimento, acolhida, comunicação
6) Localização do empreendimento;
7) Cardápio, oferta de produtos e serviços;
8) Decoração e ambientação;
Características
dos espaços
gastronômicos
LGBTQIA+
friendly de Porto
Alegre
15) “Marca” de espaço amigável
16) Influências no espaço;
17) Utilização de símbolos;
18) Treinamento ou preparação da equipe;
19) Promoção da diversidade e inclusão na equipe
20) Acolhimento da diversidade;
21) Situações de preconceito;
22) Envolvimento com causas sociais
Encerramento
23) Observações finais
24) Encerramento e agradecimento
65
Fonte: Autor, 2023.
Segundo Gil (2018), a entrevista é considerada uma das mais importantes
técnicas de coleta de dados em pesquisas sociais. Ela permite obter informações de
forma direta e personalizada de um determinado indivíduo ou grupo de indivíduos,
possibilitando aprofundar temas e questões específicas.
As entrevistas foram realizadas após assinatura de Termo de Consentimento
Livre e esclarecido, gravadas em áudio ou vídeo, com a devida autorização dos
entrevistados, conforme documentos do Anexo A. O fluxo de perguntas foi realizado
de modo informal, onde os tópicos do roteiro foram abordados de acordo com a
oportunidade. O perfil das pessoas entrevistadas e informações complementares
podem ser observados no Quadro 2, abaixo.
Quadro 2 – Caracterização das entrevistas
E
Identidade de
Gênero/ Orientação
Sexual
Formação
Tipo de
espaço
Cargo
Data
Duração
E1 Mulher cis lésbica Superior completo Bar Sócia 09/06/2023 45 min
E2 Homem cis
heterossexual
Superior completo
Bar Sócio
12/06/2023
38 min
E3 Homem cis gay Superior Completo Confeitaria
Café
Sócio
14/06/2023
30 min
E4 Homem cis gay Superior Completo Confeitaria
Bar
Sócio
19/06/2023
30 min
E5 Mulher cis lésbica Superior Completo Pizzaria
Sócia
19/06/2023
46 min
E6 Homem cis gay Superior Completo Confeitaria
Café
Sócio
15/06/2023
31 min
E7 Homem cis gay Superior Completo Confeitaria
Café
Sócio
22/06/2023
40 min
E8 Homem cis gay Superior Completo Bar Sócio
23/06/2023
36 min
Fonte: Autor, 2023.
66
As gravações foram transcritas com auxílio do software Transkriptor11,
revisadas e corrigidas pelo pesquisador, quando necessário. No processo de correção
foram suprimidas palavras repetidas, palavras de baixo calão e ajustados erros de
português, visando manter a fidedignidade dos textos, reproduzidas nos Apêndices C,
D, E, F, G, H, I, J.
Do mesmo modo, garantindo o anonimato dos participantes e de suas
respectivas atividades empresariais, a fim de assegurar a livre manifestação de ideias,
foram suprimidos com tarjas pretas os dados que de alguma forma pudessem
identificá-los como nomes, endereços, assim como referências à terceiros, da mesma
forma como passaram a ser identificados como Entrevistado e o número da entrevista.
As transcrições das entrevistas utilizadas nessa pesquisa estão apresentadas em
itálico.
Na sequência, parte-se para a observação participante, definida como uma
técnica de coleta de dados que se caracteriza pela imersão do pesquisador na
realidade que está sendo estudada. Segundo Gil (2018), essa técnica consiste na
participação ativa do pesquisador na vida social dos sujeitos de pesquisa, tendo como
objetivo compreender e registrar a dinâmica social de maneira mais completa e
precisa.
Na observação participante, o pesquisador age como um observador
participante, tendo contato direto com o grupo ou comunidade em questão e
registrando suas percepções e observações por meio de anotações, gravações ou
outros meios. O pesquisador pode ser uma pessoa externa à comunidade estudada,
ou pode pertencer a ela, desde que mantenha a postura de observador objetivo. De
acordo com Gil (2018), a observação participante é uma técnica flexível e adaptável,
que permite ao pesquisador ter um contato íntimo com a realidade estudada e
compreendê-la de maneira mais profunda. Além disso, essa técnica é mais eficaz em
estudos de grupos sociais que não têm acesso a fontes de informação escritas, ou
que só podem ser compreendidos a partir de uma análise direta da dinâmica social. A
análise das observações visa avaliar as observações registradas e identificar padrões,
tendências e aprofundar a compreensão dos aspectos observados.
Durante o mês de junho de 2023, foram conduzidas observações participantes
nos estabelecimentos gastronômicos administrados pelos entrevistados. Com o intuito
11 https://transkriptor.com
67
de preservar suas identidades, esses locais não serão revelados. As observações
ocorreram nos bairros Cidade Baixa, Bom Fim e Centro Histórico, e foram registradas
em anotações feitas pelo autor. As visitas tiveram como escopo registrar tanto os
aspectos tangíveis quanto os subjetivos relacionados à hospitalidade e à inclusão da
comunidade LGBTQIA+.
Essa análise abrangeu fatores como o uso de símbolos, o ambiente do local, a
atitude dos funcionários, as interações entre os frequentadores, os cardápios, e outros
elementos relevantes, baseados no contato direto com os ambientes estudados e de
consumo nesses locais, conforme o roteiro completo do Quadro 3. Adicionalmente, o
pesquisador também capturou impressões abrangentes da experiência como cliente
nesses espaços, além de outros elementos relevantes para as temáticas investigadas.
De mesmo modo, foram realizados registros fotográficos desses espaços e de seus
arredores.
Quadro 3 – Roteiro das observações participantes.
Quadro Temático Pontos de abordagem
Hospitalidade –
dimensões em
espaços
gastronômicos
1) Caracterização/descrição do público
2) Acolhida, comunicação;
3) Utilização de símbolos;
4) Localização do empreendimento e verificação de
outros espaços na proximidade;
5) Partilha de alimentos e bebidas;
6) Comportamento dos frequentadores e interações
com os anfitriões;
7) Situações constrangedoras ou de preconceito;
Características
dos espaços
gastronômicos
LGBTQIA+
friendly de Porto
Alegre
8) Atendimento;
9) Diversidade e inclusão na equipe;
10) Promoção da diversidade no espaço (símbolos,
banheiros não binários)
11) Ambientação (decoração, música, mobiliário)
12) Cardápio;
13) Alimentos e bebidas servidos;
Fonte: Autor, 2023.
68
4.3 PROCEDIMENTOD DE ANÁLISE DOS DADOS
Os dados coletados na etapa anterior, reviews e entrevistas, foram analisados
de acordo com o referencial teórico através da analise de conteúdo, conforme
preleciona Bardin (2011). A análise de conteúdo é uma coleção de metodologias que,
baseadas na solidez de um instrumento, facilitam a decifração de comunicações.
Essas metodologias abrangem uma variedade de modalidades e podem ser aplicadas
em uma variedade de campos de pesquisa (BARDIN, 2011). Essa técnica permite
uma descrição estruturada das mensagens e atitudes que formam o contexto da
enunciação, além de permitir que as inferências pertinentes sejam feitas com base
nos dados coletados (RODRIGUES; SALLES; ANTUNES, 2016).
A abordagem de análise de conteúdo de Bardin é uma metodologia clássica
que se baseia na descrição e interpretação dos elementos presentes nos documentos
analisados. Ela é composta por três etapas principais: pré-análise - consiste na
seleção dos documentos a serem analisados e na definição dos objetivos e perguntas
de pesquisa; exploração dos dados - consiste na leitura dos documentos selecionados
e na identificação dos elementos relevantes para a pesquisa, tais como ideias,
conceitos, temas e categorias; tratamento dos dados; e interpretação - consiste na
organização, classificação e sistematização dos elementos identificados na etapa
anterior, e na interpretação dos dados a partir da perspectiva teórica adotada
(BARDIN, 2011).
As categorias de análise dos reviews e entrevistas foram estabelecidas a partir
do referencial teórico, como também da pré-análise dos dados coletados, e dividias
em dois eixos temáticos principais, quais sejam: dimensões da hospitalidade –
material: espaços e territorialidade; simbólica; social: acolhimento; comensalidade;
sociabilidade e urbanidade; espaços LGBTQIA+ friendly – atendimento, produtos e
serviços, segurança, diversidade e inclusão, espaço e público, expostos no Quadro 4
seguinte.
69
Quadro 4 – Códigos de análise qualitativa das avaliações e entrevistas.
Grupo de código Código Termos definidores
Hospitalidade
Acolhimento Acolher, receber, à vontade, receptivo, caloroso,
sentir bem, receptivo, aconchegante, atencioso,
gentil, empático, cuidadoso.
Espacialidade Espaço, lugar, respeitoso, aberto, inclusivo, livre
de preconceito, seguro, plural, acessível,
tolerante, ocupar, reivindicar, defender,
proteger, preservar, comunidade, território,
cultura.
Comensalidade compartilhar, comer, beber, degustar,
experimentar, desfrutar, saborear, jantar,
lanchar, brindar.
Sociabilidade Comemorar, participar, rede, amigos, família,
date, encontro, pertencimento, coletividade,
grupo, troca, amizade, socializar, interagir,
conversar, conhecer, gente, casal, encontro,
convidar, grupo, pessoas
Urbanidade Inclusivo, acessível, frequentado, respeitoso,
viver, trabalhar, socializar, centro, cidade,
metrópole, comunidade, bairro.
Simbólico representar, simbolizar, comunicar, expressar,
celebrar, transformador, inspirador, empoderar,
símbolo, ícone, bandeira, orgulho.
Espaços
Gastronômicos
LGBTQIA+
friendly
Atendimento Atendimento, equipe, staff, anfitrião, serviço,
recepção, receber, acomodar, atender, servir,
cuidar, ajudar, atencioso, cuidadoso, prestativo,
cortês, profissional, amigável
Produtos e
Serviços
Comida, bebida, cardápio, salgado, doce,
sobremesa, drink, cerveja, café, burguer, pizza,
brownie, shows, gostoso, saboroso, gelado,
lanche, show, delicioso, pratos, opções, jantar,
almoço
Diversidade e
Inclusão
celebrar, respeitar, aceitar, acolher, incluir,
promover, diverso, inclusivo, acolhedor, seguro,
convidativo, comunidade, cultura, diversidade,
inclusão, respeito, trans, lésbica, preta, negra,
LBGT,
Ambientação Convidativo, confortável, elegante, sofisticado,
moderno, design, diferente, espaço, lugar,
ambiente, decoração, mobiliário, música, bonito,
lindo, moderno, música, aroma, conforto,
ambiente
Espaço e
público
Clientela, público, clientes, visitantes, ambiente,
lugar, território, região, área, grande, pequeno,
espaçoso, acolhedor, convidativo, seguro,
seguro, livre, frequentar, frequentadores, bairro,
visitar, ir, preconceito
Fonte: Autor, 2023.
70
Bardin (2011) destaca que a extração se refere à identificação e recorte das
unidades de registro relevantes contidas no material textual. Essas unidades de
registro podem variar em tamanho, abrangendo desde parágrafos completos até
fragmentos menores, como frases ou até mesmo palavras isoladas, dependendo da
natureza do material e dos objetivos da análise. A codificação foi feita a partir de
fragmentos dos dados, reviews e entrevistas, que resultaram em unidades de registro
(parágrafos, frases e palavras), que foram organizadas tematicamente em categorias
e subcategorias. Krippendorff (2013), por sua vez, também enfatiza a importância da
fase de extração. Nesse contexto, a extração envolve a identificação de trechos
relevantes do material de pesquisa que são representativos dos conceitos ou temas
em questão. Esses trechos foram recortados e organizados para posterior
categorização e análise. A organização dos dados foi realizada com o software
MAXQDA 2022, que selecionou os trechos mais significativos dos dados analisados
a partir dos códigos pelas categorias de análise. A partir dos resultados, foram
realizadas as interpretações em consonância ao referencial teórico da pesquisa.
Por fim, a partir das coletas e análises propostas tornou-se possível a realizar
uma triangulação dos dados. Cresswell (2016), define a triangulação de dados como
o processo de usar várias fontes de informação para verificar ou complementar
informações obtidas por meio de uma única fonte. De acordo com o autor, a
triangulação de dados pode incluir fontes diversas de informação como entrevistas,
observações, documentos, registros e questionários.
Para Gil (2018) seu objetivo é aumentar a confiabilidade e a validade dos
resultados, além de permitir a verificação de consistência e a resolução de
contradições entre diferentes fontes de dados. A triangulação de dados também
permite uma compreensão mais profunda do assunto em questão, incluindo diferentes
perspectivas e perspectivas complementares. Assim, em face aos diversos
procedimentos de coleta e análises propostos, a análise comparativa e mútua dos
diversos dados coletados durantes as etapas do estudo permite uma cognição mais
profunda do assunto.
71
Quadro 5 – Matriz de Amarração Metodológica
Objetivos da pesquisa Pontos de investigação Métodos Proposições Fundamentação teórica
Geral Específicos
In
ve
st
ig
ar
a
s
di
m
en
sõ
es
d
a
ho
sp
ita
lid
ad
e
e
as
c
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L
G
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s
an
fit
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es
q
ua
nt
o
do
s
hó
sp
ed
es
Verificar como as dimensões da hospitalidade e
características dos espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly se relacionam na promoção
de sensações de acolhimento e bem-estar para
os atores envolvidos, anfitriões e hóspedes.
Hospitalidade (origens,
conceitos e fundamentos)
Pesquisa bibliográfica e
documental
P1
CAMARGO (2004; 2015; 2021); LASHLEY
(2015); GODBOUT (1998); BENVENISTES
(1995); PITT-RIVERS (2012); MONTANDON
(2011).
Di
Dimensões da hospitalidade:
material - espacial e
territorial; simbólica; social:
acolhimento; comensalidade;
sociabilidade e urbanidade
Pesquisa bibliográfica e
documental
P1
(1) SIMBÓLICA: GRASSI (2011); BINET-
MONTANDON (2011); PIT-RIVERS (2012).
(2) ACOLHIMENTO: GRASSI (2011); DERRIDA
(2001); BAPTISTA (2008, 2017); NOWEN
(1998); SANTOS & PERAZZOLO (2012).
(3) TERRITORIAL: RAFFESTIN (1993; 1997).
(4) COMENSALIDADE: MOTANDON (2011),
FALTIN & GIMENES-MINASSE (2019),
FRANCO & REGO (2005).
Movimento LGBTQIA+ e
espaços amigáveis
Pesquisa bibliográfica e
documental
P1, P2, P3
FACCHINI, 2003; 2018; 2020; SIMÕES &
FACCHINI, 2008; VIEIRA, 2008
Identificar e mapear os espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly de Porto Alegre/RS
Espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly em nas
grandes cidades
Pesquisa socio espacial -
Mapeamento dos espaços
gastronômicos LGBTQIA+
friendly
P2, P3
LUGOSI (2007a, 2007b, 2009); SILVA (2018);
FACCHINI (2018); GUARACINO; SALVATO
(2017) BELL; BINNIE, (2004; 2013); VIEIRA
(2011); BRICKELL (2000); VIEIRA (2011);
SILVA; CARVALHO (2020)
Registro fotográfico
P2, P3
Analisar as dimensões da hospitalidade
presentes nos espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly de Porto Alegre/RS,
considerando as percepções dos anfitriões e
hóspedes.
Pesquisa bibliográfica e
documental
P2, P3
Espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly em Porto
Alegre: características e
dimensões da hospitalidade
Entrevistas
P1, P2, P3
Observação participante
P1, P2, P3
Análise dos reviews
P1, P2, P3
Verificar como as características dos espaços
gastronômicos LGBTQIA+ friendly são
percebidas pelos anfitriões e hóspedes em Porto
Alegre/RS;
Pesquisa documental e
bibliográfica
P2, P3
Entrevistas
P1, P2, P3
Observação participante
Registro fotográfico
P1, P2, P3
Análise dos reviews
P1, P2, P3
Pesquisa documental e
bibliográfica
P2, P3
Fonte: Autor (2023) adaptado de Mazzon (2018).
72
5. A HOSPITALIDADE NOS ESPAÇOS GASTRONÔMICOS LGBTQIA+
FRIENDLY DE PORTO ALEGRE
O presente capítulo apresenta a análise das expressões de hospitalidade nos
espaços gastronômicos destinados à comunidade LGBTQIA+ na cidade de Porto
Alegre. Com essa finalidade, são abordadas as discussões e resultados derivados
das análises de conteúdo e triangulação dos dados coletados por meio de entrevistas,
avaliações, observações, mapeamento e revisão da literatura.
Através das categorias de análise previamente estabelecidas, apresentadas
anteriormente no Quadro 3, são explorados aspectos pertinentes aos produtos e
serviços ofertados, à comunicação, ao ambiente e à segurança presentes nesses
estabelecimentos. Além disso, são discutidos os fatores socioculturais que contribuem
para a construção desses locais como espaços de convívio e interação para a
comunidade LGBTQIA+.
A análise dos dados proporciona uma compreensão mais profunda sobre a
natureza da hospitalidade nos espaços gastronômicos destinados à comunidade
LGBTQIA+ em Porto Alegre, bem como sobre o seu papel crucial na promoção da
inclusão social e na luta contra a discriminação.
5.1 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Os estudos analisados na primeira fase da pesquisa concentram-se no turismo,
marketing e gestão com olhar para as percepções dos hóspedes/turista/cliente a partir
da oferta da hotelaria, alimentos e bebidas e lazer. Durante a realização da
investigação acadêmica a partir das palavras chaves escolhidas, foram identificadas
983 produções inicialmente. A partir da delimitação apresentada na metodologia
restaram 297 documentos, onde apenas 19 apresentavam intersecção com a temática
da hospitalidade e diversidade sexual e de gênero.
As pesquisas, em sua maioria verificam as demandas e traçam o perfil de
consumo das pessoas LGBTQIA+ no Brasil e no mundo, onde destacam a relevância
desse segmento de mercado, chamado de “pink money” (BARUFFI et al., 2019), como
também estudam as ofertas de entretenimento e lazer em diversos destinos, as novas
ofertas de mercado ocasionadas mudanças geracionais observadas no segmento e
suas consequências nos hábitos de consumo.
73
Carvalho et al. (2012) verificaram o mercado GLS a partir do posicionamento
hoteleiro no Centro e Jardins em São Paulo; Ortolano (2013) analisou as práticas de
hospitalidade na hospedagem de jovens turistas nas Paradas do Orgulho de São
Paulo e Campinas ; Vieira e Costa (2014) pesquisaram os impactos da Parada do
Orgulho de São Paulo na geração de negócios para rede hoteleira da cidade; Costa
e Pires (2016) analisam os bairros, ou “guetos”, LGBTS do sul europeu; Moreira e
Hallal (2017) fugindo da lógica econômica, estudaram as relações da viagem com a
saída do armário gay, através de relatos dos viajantes.
Gorman-Murray e Nash (2017) verificaram as transformações nos espaços de
consumo e lazer LGBTQIA+ em cidades neoliberais; Kalargyrou e Costen (2017)
realizaram uma revisão critica da literatura sobre a diversidade na gestão em
hospitalidade e turismo. Guerra, Silva e Brasileiro (2018) discutiram as opções de
lazer e turismo LGBTQI em Brasília, sob a perspectiva da hospitalidade; Liberato et.
al (2018) analisaram a importância do consumidor LGBTQIA+ para o turismo e os
impactos dos meios digitais para comunicação com esse público para aumentar a
competitividade do destino; Costa et al., (2018) verificaram o consumo conspícuo e a
fidelização no mercado de turismo LGBTQIA+;
Hoffmann, Duarte, Traverso e Bobsin (2018) verificaram as características da
demanda e ofertas de turismo voltado ao segmento LGBTQIA+ e suas oportunidades;
Moreira e Campos (2019) problematizam o discurso da lógica de mercado no turismo
LGBTQIA+, que normalmente está associada às práticas sexuais; Neves e Brambatti
(2019) verificaram o comportamento de consumo do turista LGBTQIA+ brasileiro em
viagens de lazer; Ram et al. (2019) estudaram as conexões entra abertura de destinos
para o publico LGBTQIA+ e as preferencias de viajantes com diferentes níveis de
associação ao movimento LGBTQIA+, a partir da experiência de Tel Aviv; Olson e
Park (2019) estudaram o impacto da idade dos clientes gays nas reações ao ambiente
físico e social dos bares gays.
Os pesquisadores Ro e Olson (2020) analisaram como clientes gays e lésbicas
percebem atitudes e comportamentos potencialmente discriminatórios de funcionários
de serviços no ambiente de hospitalidade; Neves (2021) mapeou as pesquisas de
turismo LGBT publicadas no Journal of Homosexuality.; Usai, Cai e Wassler (2021)
analisaram, a partir da teoria queer, como turistas LGBTQIA+ são constrangidos pela
heteronormatividade em seus destinos. Silva e Carvalho (2022) discutem as políticas
públicas de turismo a cerca destinos gay friendly a partir da hospitalidade urbana; Ro
74
e Khan (2022) investigaram o impacto da receptividade ao público LGBT nas
percepções e intenções de permanência de clientes pertencentes a minorias sexuais;
O estudo de Ro (2023) examina as experiências de clientes lésbicas, gays e
bissexuais (LGB) quando interagem com serviços; Monterrubio e Caselin (2023)
avaliam 9 casos de preconceito e discriminação sofridos por homens gays em
ambientes turísticos.
Ganham destaque, dentro das pesquisas analisadas, dois fatores de grande
importância para o público LGBTQIA+: respeito e segurança para manifestar
livremente sua existência e afeto em espaços públicos e comerciais, em razão dos
preconceitos e riscos ainda evidentes na sociedade (HOFFMAN; et al, 2018; SILVA;
CARVALHO, 2020). Outro fator relevante da criação de espaços gastronômicos,
entretenimento e lazer com foco no segmento LGBTQIA+, antigamente conhecidos
como GLS, assim como do conceito de LGBTQIA+ friendly é a expansão dos
territórios onde essas pessoas podem expressar livremente sua cidadania, sua
sexualidade e afeto, a partir da redução da marginalização e da concentração em
guetos.
As pessoas LGBTQIA+ precisam de respeito e segurança para manifestar
livremente sua existência e afeto em espaços públicos e comerciais, em razão dos
preconceitos e riscos ainda evidentes na sociedade (HOFFMAN; et al, 2018; SILVA;
CARVALHO, 2020). Ademais, como destacado na Introdução, o acrônimo LGBTQIA+
representa uma ampla gama de expressões da diversidade que distinguem essa
comunidade das outras.
Cada letra desse acrônimo simboliza uma identidade única, com suas próprias
peculiaridades. Embora essas identidades coexistam, elas não se sobrepõem, mas
sim se complementam (BORTOLETTO, 2019). Assim, o termo LGBTQIA+ funciona
como um "guarda-chuva" que abrange uma variedade de segmentos com
necessidades e demandas diferentes (GUARACINO; SALVATO, 2017). Essas
diferenças podem ser influenciadas por diversos fatores, como raça, geração,
escolaridade, religião, entre outros, sendo uma representação multifacetada e que
requer uma abordagem inclusiva e atenta às necessidades de cada subgrupo.
Na segunda fase da pesquisa buscou-se identificar e mapear os espaços
gastronômicos LGBTQIA+ de Porto Alegre através de busca exploratória e
documental em guias, documentos públicos, blogs, sites e bases de dados de bares
e restaurantes da cidade. Em razão da escassez de dados encontrados, onde não
75
foram observados guias ou documentos oficiais, tanto o Guia LGBT de Porto Alegre
quanto o site do Programa POA LGBT não estão mais disponíveis online, de mesmo
modo somente 3 sites e blogs com indicações foram identificados: Guia da Semana
(2015), Marola com Carambola (2016), Revista Lado A (sem data), ainda assim
desatualizados.
Assim, subsidiariamente, foi realizada pesquisa exploratória, com a aplicação
de uma questão aberta à especialistas em gastronomia e do movimento LGBTQIA+,
de acordo com os procedimentos descritos anteriormente na Metodologia. Foram
obtidas 30 respostas com 84 indicações de espaços gastronômicos diferentes
considerados LGBTQIA+ como friendly para os respondentes. A partir dos critérios
de inclusão e exclusão empregados identificou-se 96 espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly de Porto Alegre, segundo os documentos e repostas dos
especialistas, correspondente a 80 empreendimentos e suas filiais, de acordo com o
Quadro 6.
Quadro 6 – Resultados preliminares: espaços gastronômicos LGBTQIA+
friendly de Porto Alegre por Região
Região Espaços gastronômicos LGBTQIA+
friendly identificados
Cidade Baixa/Azenha/Farroupilha 35
Moinhos de Vento/Floresta/Mont Serrat
Auxiliadora
22
Bom Fim/ Rio Branco 17
Centro Histórico 8
4º Distrito/São Geraldo 5
Petropolis/Bela Vista/ Iguatemi 3
Zona Sul/Tristeza 2
Fonte: Autor (2023).
Da análise preliminar da concentração geográfica dos espaços gastronômicos
LGBTQIA+ friendly, pode-se inferir a concentração nos Bairros Cidade Baixa, com 35
espaços identificados, e Bom Fim, com 17 espaços mapeados originalmente. O Mapa
LGBTI+ da Nohs Somos foi usado para identificar e coletar dados sobre
estabelecimentos gastronômicos que amigáveis à comunidade LGBTQIA+ em Porto
Alegre. Essa decisão foi tomada devido à metodologia utilizada na criação da
76
plataforma, bem como à falta de critérios mais específicos na literatura e às
dificuldades de validação dos dados coletados. Dessa forma, foram identificados 24
espaços gastronômicos classificados como amigáveis pelos usuários da plataforma,
registrados no Quadro 7 a seguir.
Quadro 7 – Espaços gastronômicos classificados como LGBTQIA+ friendly em Porto
Alegre pelos usuários da plataforma da Nohs Somos.
Nome Nota Tipo Classificação Bairro
A Virgem 4.9 Bares e baladas Amigável Azenha
Agridoce Café 4.9 Cafés Amigável Cidade Baixa
Aurora Restaurante
Antiespecista
5 Restaurantes Amigável Rio Branco
Bibah 4.9 Bares e baladas Amigável Bom fim
Brita Bar 4.9 Bares e baladas Amigável Centro Histórico
Butcher Pizza Bar 4.9 Restaurantes Amigável Cidade Baixa
Casa de Pelotas 4.9 Cafés Amigável Cidade Baixa
Cavanhas 4.5 Restaurantes Amigável Cidade Baixa
Cedinho Café 4.8 Cafés Amigável Cidade Baixa
Cerveja Macuco 5 Bares e baladas Amigável Centro Histórico
Céu Bar + Arte 4.4 Bares e baladas Amigável Azenha
Charlie Brownie 4.9 Cafés Amigável Mont'Serrat
Cortex 4.9 Bares e baladas Amigável Floresta
Freedom Pub 4.9 Bares e baladas Amigável Centro Histórico
JOSEPH'S 4.9 Cafés Amigável Centro Histórico
JUSTO 4.9 Bares e baladas Amigável Centro Histórico
Ocidente Bar 4.8 Bares e baladas Amigável Bom fim
Paralela 4.9 Bares e baladas Amigável Cidade Baixa
Porto Carioca bar 4.9 Bares e baladas Amigável Cidade Baixa
Sofia Karaokê 4.5 Bares e baladas Amigável Moinhos de
Vento
Spoiler 4.8 Bares e baladas Amigável Centro Histórico
Tá em Casa 4.9 Bares e baladas Amigável Cidade Baixa
Venezianos Pub Café 4.9 Bares e baladas Amigável Azenha
Workroom 4.9 Bares e baladas Amigável Cidade Baixa
Fonte: Autor (2023).
Os dados geográficos foram registrados em um mapa elaborado pelo autor,
adaptado a partir do Mapa Turístico de Porto Alegre (PORTO ALEGRE, 2022),
conforme o Apêndice A. Assim como observado por Dalpian (2017), verifica-se uma
77
concentração geográfica dos espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly nos Bairros
Cidade Baixa, e Bom Fim. Os bairros tem uma identidade alternativa, boêmia,
underground, historicamente ligados à diversidade e juventude (FONSECA, 2006;
REIS, 2013), neles podem ser identificados os territórios amigáveis à comunidade
LGBTQIA+ de Porto Alegre, juntamente com o Centro Histórico, conforme a Figura 11
abaixo.
Figura 11 – Mapa dos espaços gastronômicos classificados como LGBTQIA+ friendly
em Porto Alegre por usuários da plataforma Nohs Somos.
Fonte: Autor (2023) adaptado do Mapa Turístico de Porto Alegre (PORTO ALEGRE, 2022).
Com a identificação e registro dos estabelecimentos categorizados como
acolhedores pelos usuários no Mapa LGBTQIA+ desenvolvido pela plataforma Nohs
Somos, foram obtidos os comentários correspondentes aos 24 locais de natureza
78
gastronômica. Esse conjunto de comentários totalizou 246 registros, os quais, por
meio da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão delineados na seção 4.2.3, foi
reduzido para um total de 188 comentários considerados para análise, enumerados
no Apêndice B. A classificação dos comentários foi realizada após a estratificação dos
dados utilizando a ferramenta de software MAXQDA 2022 com os códigos
apresentados no Quadro 4, p. 70. Esse procedimento permitiu a identificação de
padrões de repetição e semelhança nos conteúdos, bem como a análise da
codificação aplicada. A representação visual dos termos mais frequentes nos
comentários, expressa por meio de uma nuvem de palavras, possibilitou a
visualização dos tópicos mais proeminentes para os usuários da plataforma.
Figura 12 – Nuvem de palavras por recorrência dos comentários de usuários sobre os
espaços gastronômicos amigáveis em Porto Alegre.
Fonte: Autor (2023) gerado pelo software MAXQDA 2022.
Esse mapeamento contribuiu para a caracterização dos espaços
gastronômicos que são considerados acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ em
Porto Alegre, como ilustrado na Figura 12. Dentre os resultados obtidos, destaca-se
a recorrência de termos de suma relevância para a pesquisa, tais como "acolhedor",
"atendimento", "lugar" e "espaço". Esses termos emergiram de maneira espontânea
nos comentários dos usuários, estabelecendo uma conexão direta com os
pressupostos e objetivos analisados no contexto da pesquisa.
79
Figura 13 – Mapa das coocorrências de códigos nos comentários avaliados
Fonte: Autor (2023) gerado pelo software MAXQDA 2022.
Da mesma maneira, a Figura 13 apresenta o mapa de ocorrências dos códigos
nos comentários analisados, onde percebe-se uma forte conexão entre os descritivos
de Público, Espacialidade e Ambientação e os clusters identificados com os demais
códigos, em especial Produtos e Serviços, Atendimento, Diversidade e inclusão e
Acolhimento.
Dentre os estabelecimentos gastronômicos que foram identificados como
acolhedores e localizados nas áreas de concentração previamente demarcadas no
mapa, conforme apresentado na Figura 11 anteriormente exposta, um total de 12
proprietários, gerentes ou responsáveis pela gestão destes locais foram selecionados
de forma aleatória e contatados para participar de entrevistas. No entanto, desse
grupo, dois não forneceram resposta, dois alegaram indisponibilidade e oito
efetivamente aceitaram participar da pesquisa por meio de entrevistas, cujas
transcrições são apresentadas nos Apêndices C, D, E, F, G, H, I, J.
80
O conteúdo das entrevistas foi submetido ao processo de estratificação dos
dados com o auxílio da ferramenta de software MAXQDA 2022, da mesma forma que
ocorreu com os comentários coletados. Isso permitiu identificar padrões de repetição
e semelhança nos conteúdos das entrevistas, bem como analisar a codificação
aplicada para selecionar os trechos mais relevantes para a investigação da temática
em questão.
Figura 14 – Nuvem de palavras por recorrência das entrevistas de gestores dos
espaços gastronômicos amigáveis em Porto Alegre.
Fonte: Autor (2023) gerado pelo software MAXQDA 2022.
Os resultados provenientes da análise das recorrências de termos nas
entrevistas também se mostraram relevantes e mantiveram forte relação com os
objetivos da pesquisa, como demonstra a Figura 14. Cabe ressaltar a presença
frequente de termos como "pessoas", "diversidade", "comunidade", "trans" e "lugar".
A emergência desses termos destaca a importância desses aspectos no contexto
estudado. Além disso, não se pode deixar de observar aspectos de natureza
comercial, como os termos "cliente", "negócio" e "bar".
Um elemento de relevância significativa é a recorrência do termo "casa",
frequentemente empregado pelos próprios gestores para descreverem seus
81
estabelecimentos. Esse uso do termo destaca a união dos domínios "doméstico" e
"comercial", refletindo a perspectiva dos entrevistados sobre a natureza acolhedora e
íntima que muitos estabelecimentos almejam proporcionar aos clientes, mesclando
características residenciais e comerciais em uma abordagem unificada.
De forma semelhante, as observações participantes realizadas nos
estabelecimentos gastronômicos conduzidos pelos entrevistados possibilitaram uma
compreensão mais aprofundada das dinâmicas sociais e espaciais que ocorrem
nesses locais. Essas observações exploraram as interações entre anfitriões e clientes,
bem como entre os próprios clientes, abordando tanto os aspectos tangíveis quanto
os elementos subjetivos. Esse enfoque enriqueceu e ampliou os dados obtidos por
meio do mapeamento, das avaliações dos usuários e das entrevistas, contribuindo
para uma compreensão mais completa e abrangente do estudo.
5.2 AS DIMENSÕES DA HOSPITALIDADE E AS CARACTERÍSTICAS DOS
ESPAÇOS GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY DE PORTO ALEGRE
Como destacado anteriormente, o desenvolvimento das cidades
contemporâneas, que se dá de forma fragmentada, está intimamente ligada aos
espaços das minorias, em especial das população LGTQIA+, quando há conexão
entre o desenvolvimento do movimento de direitos e cidadania LGBTQIA+ com os
processos de urbanização, globalização, estabelecimento de uma sociedade de
consumo e fruição do espaço urbano (VIEIRA, 2009), onde, como destaca Grinover
(2009) há uma espetacularização, em busca de experiências nos lugares de
hospitalidade da cidade.
Severini e Netto (2020) asseveram que os espaços públicos e os espaços
privados de uso público são ocupados e disputados por moradores, turistas,
comerciantes, empresários e poder público, muitas vezes de forma desiquilibrada, em
tempos que a atividade turística ganha cada vez mais relevância na economia das
grandes cidades. A cidade hospitaleira para seus moradores, torna-se atrativa para o
turista, ganhando uma vantagem competitiva como destino turístico (SEVERINI, 2013;
SEVERINI; NETTO, 2020; 2022).
No mesmo sentido, Bell e Binnie (2004), entendem que o modelo neoliberal, da
sociedade de consumo, e globalizado, ocasionou um modelo governança empresarial
nas grandes cidades, criando “marcas” comerciais e explorando a diversidade social,
82
incluindo a sexual e de gênero, como atrativo turístico. Os autores entendem que elas
tiveram que desenvolver suas próprias versões de espaços temáticos, incluindo
localidades gay, levando a normalização da presença de certos tipos de espaços gays
nas cidades para manter-se competitivas no cenário turístico (BELL; BINNIE, 2004).
De mesmo modo, segundo Florida (2002, p.256), “até certo ponto, a
homossexualidade representa a última fronteira da diversidade em nossa sociedade
e, portanto, um lugar que acolhe a comunidade gay acolhe todos os tipos de pessoas”.
O mapeamento dos espaços gastronômicos classificados como amigáveis à
comunidade LGBTQIA+ permitiu a identificação de uma concentração geográfica
desses estabelecimentos nos bairros Cidade Baixa, Bom Fim e Centro Histórico.
Esses bairros possuem uma identidade alternativa e boêmia, associada
historicamente à diversidade e à juventude (FONSECA, 2006; REIS, 2013; DALPIAN,
2017; PORTO ALEGRE, 2015). De acordo com Raffestin (1993), todos os atores
sociais, em diferentes contextos e espaços, produzem territórios e são inscritos em
campos de poder e relações sociais. A constituição do território é tanto material quanto
imaterial, envolvendo a delimitação de limites físicos e regras morais que estabelecem
uma interioridade e exterioridade (Raffestin, 1997). Ademais, o autor (1997) enfatiza
que a hospitalidade é uma prática culturalmente enraizada que se renova em diversas
formas e vai além da simples relação entre quem recebe e quem é recebido.
Segundo Raffestin (1997), tanto quem acolhe quanto quem é acolhido
assumem papéis de hóspede e anfitrião em espera, podendo trocar de posição em
um sistema de troca em que a contrapartida é diferida e assumida em um processo
temporal indefinido. Em suma, para Raffestin, a hospitalidade é uma prática que
envolve não apenas a relação entre duas pessoas, mas sim um processo social mais
amplo que envolve troca e relações de poder.
A Cidade Baixa, que é o epicentro boêmio da cidade, é um lugar importante
para pessoas que gostam da vida noturna única de Porto Alegre (PORTO ALEGRE,
2020). Este bairro tem uma grande variedade de espaços de lazer públicos e privados
de uso público, incluindo parque, restaurantes bares, lanchonetes e casas noturnas.
O ambiente diversificado do bairro atrai uma variedade de pessoas, principalmente
aqueles que buscam um ambiente acolhedor e inclusivo com espaço para
entretenimento (PORTO ALEGRE, 2015; 2020). Essa percepção também é
compartilhada pelos gestores entrevistados: “...eu foi público da Cidade Baixa, era
frequentador, já fui morador do bairro, e entendia que a Cidade Baixa era um bairro
83
que representava a diversidade”; “um bairro mais boêmio, mais jovem, mais LGBT e
com várias expressões culturais historicamente, então a gente meio que entrou nessa
identidade (E7, 2023); “Eu escolhi a Cidade Baixa por ser um bairro plural. Eu acho
que é uma zona boêmia da cidade, mas é uma zona onde circulam muitas pessoas,
acho que a diversidade está muito presente” (E8).
De mesmo modo, o Bom Fim se destaca como uma área intrinsecamente ligada
a um estilo de vida alternativo, que é frequentado por pensadores, músicos e artistas
locais. A Figura 15 registra a ambientação de espaços amigáveis nos bairros
analisados. A representação desse bairro, descrita como "boêmia", "cultural" e
"democrática", aumenta sua carga simbólica (PORTO ALEGRE, 2015; 2020), o que é
corroborado pelo Entrevistado 4, que afirma: “próprio bairro em si é um bairro que a
gente vê que ele que ele é bem diverso, né? Ele é mais propensa a receber bem esse
tipo de bar e talvez em outros bairros não seria tão bem-vindo, né?”.
Figura 15 – Ambientações dos espaços amigáveis de Porto Alegre (1)
Fonte: Autor (2023).
No Centro Histórico, encontra-se conjunto de elementos de patrimônio cultural
na cidade, que abrange desde o legado arquitetônico até as interações imateriais que
se desenrolam em locais como o Mercado Público e seus arredores, o corredor
cultural da Rua dos Andradas, a Praça da Matriz, a Praça da Alfândega e o Cais do
Porto (PORTO ALEGRE, 2020). Essa região também se caracteriza como mais
diversa, ligada aos movimentos socais, conforme relata o Entrevistado 2 “Ah como a
gente estava ali (...) no Centro né? Lugar assim, né, tipo, pertinho da Esquina
84
Democrática, a própria Borges, ali onde passa todos os movimentos sociais de
esquerda”. No mesmo sentido, o Entrevistado 5, relata esse perfil para escolha do
bairro
Optamos pela região Centro Histórico, Cidade Baixa por serem bairros mais
diversos também, e que conversa mais com o público e também tem
alternativas de gerar uma certa correspondência pro espaço, abraça mais
novos empreendedores, novos negócios, e principalmente a parte feminina
do empreendedorismo, tem essa certa sutileza na forma alternativa que o
público da Cidade Baixa e do Centro Histórico tendencia a se comportar
perante esses negócios de mulheres, ou até mesmo de mulheres gays né?
(E5).
Esses espaços não operam como espaços isolados ou segregados da cidade,
mas sim como elementos integrados à sua trama urbana, onde se destacam por sua
natureza inclusiva e energia contagiante, onde pessoas da comunidade LGBTQIA+
de todas as vertentes da vida vivem, trabalham e desfrutam desses bairros (COSTA;
PIRES, 2016).
As regiões do Moinhos de Vento e Iguatemi, com perfil mais tradicional e maior
poder aquisitivo, e o 4o Distrito, destacado pelo circuito cervejeiro e sua recente
revitalização, estão experimentando uma expansão para estabelecimentos
gastronômicos amigáveis, representada na fala do Entrevistado 5: “...porque
realmente um público mais conservador como do bairro Montserrat é um público
diferente do público que a gente tem na Cidade Baixa, por exemplo, até hoje, né?”
(E5).
Atualmente, percebe-se um rompimento das limitações socioespaciais, apesar
de não estar refletido na identificação geográfica da pesquisa, abrindo espaços para
comensalidade, sociabilidade e convivialidade. Isso também aborda os problemas de
inclusão, pertencimento e identidade social, o que é corroborado pelo relato do
Entrevistado 1:
Bom, então tínhamos espaços já destinados a população, sem dúvida já
tínhamos, mas eles eram vinculados muito mais à noite, a bares, e se eu jogo
essa questão para um café, tu imagina no dia dos namorados, um dia dos
namorados lá nos anos 2000, estamos falando anos 2000, final da década de
1990, né? Eu quero jantar com a minha namorada no dia dos namorados,
como é que eu vou fazer? Se eu, só por tomar um café, eu já sou pedida pra
me retirar, aquela fila de casal hétero esperando, vou eu de mãozinha dada
com a minha namorada, eu parava, eu parava, e eu não poderia beijar.
Imagina eu levar um buquê de flores pra minha namorada final dos anos
1990. Era impossível pensar-se nisso, com praticidade naquela época (...) há
vinte anos eu poderia ter poucas possibilidades de ser bem recebida como
lésbica em um estabelecimento. Poderia ter poucas. Hoje, felizmente, eu
tenho muitas. (E1, 2023).
85
Assim como pelo Entrevistado 7:
...eu também vejo muito lugar se posicionado como LGBT, lugares novos no
caso, empresas novas posicionadas atrás da questão LGBT, do movimento,
e eu acho que isso traz uma visibilidade pra causa também, coisas que
antigamente eram mais nichadas, sei lá, perto do Venezianos ali, ah tinha
alguns lugares específicos relacionados à noite, e aí hoje em dia tem
cafeterias, outros tipos de comércios que tem a pauta já dentro da identidade
mesmo, até na comunicação visual, na decoração, tudo. Então eu acho
melhorou bastante (E7, 2023).
Simmel (2006) entende as relações sociais são estabelecidas a partir da
interação entre pessoas que possuem características distintas, o que faz com que
cada relação seja única e específica. Dessa forma, a sociabilidade permite que os
indivíduos construam uma rede de relações que são fundamentais para a cooperação
e a convivência em grupo. Além disso, ele destaca que a sociabilidade é uma forma
de manifestação da vida social, pois é através dela que se dá a troca e a comunicação
entre os indivíduos (Simmel, 2006).
A sociabilidade pode ser influenciada por fatores como a cultura, a classe social
e as normas sociais, o que faz com que as relações sociais possam variar de acordo
com o contexto em que são estabelecidas. Destaca-se que as relações sociais são
complexas e variam de acordo com o contexto em que são estabelecidas (Simmel,
2006), onde a sociabilidade tem um papel fundamental na construção da identidade
dos indivíduos. Assim, ele assevera que "é através da sociabilidade que os indivíduos
constroem sua identidade, pois as relações sociais permitem que eles se posicionem
em relação aos outros e definam a si mesmos" (SIMMEL, 2006, p. 29). Dessa forma,
a sociabilidade permite que os indivíduos construam uma visão de si mesmos que é
influenciada pelas relações sociais que estabelecem ao longo da vida.
Bell e Binnie (2013) defendem que os espaços queer destacam-se pela
promoção de um senso coletivo de pertencimento e conexão, além de fornecer um
ambiente seguro e protegido onde os indivíduos podem explorar e desfrutar de
relações sociais e afetivas, envolvendo as complexas relações sociais e espaciais,
refletindo a sociabilidade complexa nesses ambientes. Eles proporcionam uma
sensação de comunidade, segurança e pertencimento, onde também desempenham
um papel na luta pelos direitos LGBT (COSTA; PIRES, 2016).
A observação participante permitiu verificar os espaços gastronômicos como
palco das mais diversas relações sociais entre os frequentadores, reuniões de
86
trabalho, grupos familiares e de amigos, encontros de casais, comemorações de
aniversários. Essa dimensão da hospitalidade pode ser identificada, também, nos
comentários de clientes: “Ótimo local para curtir com os amigos, participar de batalhas
de lipsink e beber bons drink”; “Sempre fui bem recebido das vezes que frequentei
(acompanhado de amigos ou dates)! Uma das melhores caipas de POA, boa comida
e ótima música!”; “Ótimo local para ir com amigos e namorado. Somos bem atendidos
e podemos demonstrar nosso afeto sem medo. Como ficar de mãos dadas, beijar. E
tem karaokê.”; “Local ótimo para encontrar os amigos e beber em segurança, ser livre
para expressar sua subjetividade🏳🌈 ”, dentre tantos outros. Da mesma forma, é
visualizada em trecho da Entrevista 1:
Grupos familiares, vem o turista, vem aquele turismo empresarial, que veio
trabalhar no dia semana em Porto Alegre e quer lugar gastronômico, quer um
bar, quer experiência e vem aqui. Tem um filho que está sendo trazido pelos
pais porque o filho está se descobrindo gay, agora pais trazem para um lugar
que querem apresentar o filho que “ó quem sabe esse lugar você venha a
gostar”, nós temos vários recortes, algumas noites mais mulheres, outras
noites mais homens, então nós temos vários recortes conforme geração (E1).
Faltin e Gimenes-Minasse (2019) sublinham a importância central da partilha
de refeições nas relações de socialização, construção da identidade cultural,
hospitalidade e convivência, assim como na criação e manutenção de laços sociais.
A partilha de refeições, também considerada um aspecto da hospitalidade, reflete
valores e normas de hierarquia social, inclusão ou exclusão, uma vez que
compartilhamos a mesa com aqueles que percebemos como semelhantes (FALTIN;
GIMENES-MINASSE, 2019; PITT-RIVERS, 2012). Tanto a comida quanto a bebida
desempenham um papel importante na construção de identidades individuais e
coletivas, pois refletem os princípios, crenças e práticas inerentes a um determinado
grupo social (LUGOSI, 2013).
Por meio da observação participante, pôde-se confirmar múltiplas instâncias
de compartilhamento de alimentos e bebidas, um aspecto central nos espaços
investigados, o qual também foi destacado nos comentários: “Espaço ótimo para
beber e curtir com os amigos, aquecendo pra noite de festa ou rolê infinito! Bons
drinks, gente bonita e respeitosa”; “Um dos melhores locais de POA para se sentir
acolhide e comer doces maravilhosos. O atendimento é excelente e o espaço é lindo”.
Compreende Simmel (2013) que o espaço é um elemento fundamental para as
interações sociais, pois é através dele que as relações são estabelecidas e mantidas,
87
com suas dimensões sociais e culturais. Segundo Simmel, "o espaço é um meio que
possibilita a comunicação entre os indivíduos e a troca de informações" (Simmel,
2013, p. 83) e que "a organização do espaço pode influenciar diretamente as
interações sociais, criando limitações ou possibilidades para a troca e a comunicação
entre os indivíduos". Assim, o espaço pode tanto favorecer como limitar as interações
sociais, dependendo de como é organizado e utilizado. Sobre a simbologia, ou
“marca” de ser considerado um espaço LGBTQIA+, anfitriões e hóspedes divergem
na importância dessa sinalização.
Enquanto os clientes sinalizam a relevância em seus comentários, tais como
“Charlie brownie é uma confeitaria feita por LGBTIs, espaço claramente aberto e
amigável”; “Local amigável, tem eventos focados no público LGBTI”; “Espaço LGBT
bem divertido e confortável para uma cerveja”; “Espaço bonito, acolhedor, LGBTIQ+
friendly, seguro e divertido!”, parte dos gestores não identificam essa conotação em
seus espaços:
Até muito engraçado, uma época saiu uma matéria falando assim “Bares
LGBT de Porto Alegre” e tal, e a gente saiu lá nessa lista assim né? E assim,
pra gente soa muito ridículo assim sabe, como assim bar LGBT? Que lugar
que não é LGBT sabe? (E2, 2023).
Não, não considero. Tipo assim, a gente, eu te diria que hoje tem vários
negócios que são de nicho, né? O Workhoom, Biba, né? Ali na João Teles e
tal, que são negócios específicos de nicho, pra comunidade LGBT. Nós não
somos. A Thialle é uma marca que, na minha visão né, a intenção é acolher
a diversidade (E6, 2023).
Enquanto outros gestores valoram positivamente essa classificação
Importantíssima, e só nos causa honraria, por quê? Porque o público
LGBTQIA mais é um público muito exigente, de fato. Quando falamos de um
negócio de 20 anos, há vinte anos eu poderia ter poucas possibilidades de
ser bem recebida como lésbica em um estabelecimento. Poderia ter poucas.
Hoje, felizmente, eu tenho muitas. E por que que o público ainda volta aqui?
Tu estás vendo, as mesas todas cheias. Por que que depois de 23 as pessoas
ainda voltam aqui, ainda tem tantos, felizmente, tem tantos outros espaços
que nos acolhem bem. Porque o público entende a casa como uma
referência, porque entende a casa como patrimônio cultural de Porto Alegre
e porque a casa também sempre buscou prestar o melhor serviço (E1, 2023).
Essa discrepância ressalta a importância da transformação dos espaços
sociais LGBTQIA+ ao longo das últimas décadas, uma vez que isso implica na
mudança de ambientes restritivos e segmentados, frequentemente conhecidos como
"guetos", para locais acolhedores que celebram a diversidade de maneira inclusiva
(SILVA; SANTOS, 2015; SIMÕES; FRANÇA, 2005; TADIOTO, 2016; TREVISAN,
88
2000). Assim, nesses espaços, observa-se a promoção da segurança e do
acolhimento para a livre expressão da sexualidade e da afetividade (SILVA;
CARVALHO, 2020).
A hospitalidade e a acolhida são temas presentes em diversas reflexões sobre
a construção do vínculo social e a história das culturas. Binet-Montandon (2011)
destaca a importância da acolhida como um ato que estabelece um vínculo social
entre o anfitrião e o hóspede: "Acolhida é uma construção do vínculo social, é um
gesto fundador de uma relação de hospitalidade, que coloca o hóspede em uma
posição de dependência em relação ao anfitrião e este em uma posição de
responsabilidade em relação ao hóspede" (BINET-MONTANDON, 2011, p. 9)Grassi
(2011b) aborda a hospitalidade como uma forma de transpor barreiras e acolher o
estrangeiro, destacando a importância do acolhimento como um gesto de abertura ao
outro: "Hospitalidade é, acima de tudo, transpor a soleira, abrir a porta e convidar o
outro a entrar. Convidar, acolher, cuidar e oferecer-se, são gestos que compõem a
atitude hospitaleira" (GRASSI, 2011b, p. 25).
Além disso, Montandon (2011) destaca que a hospitalidade não se limita a um
ato pontual de acolhida, mas sim a uma postura de abertura e acolhimento constante:
"Hospitalidade não é um ato, mas sim uma postura. Não é apenas o oferecimento de
um lugar para dormir ou de uma refeição, mas sim a disposição em acolher e
compartilhar com o outro a vida, a cultura e a história" (MONTANDON, 2011, p. 15).
Essas reflexões evidenciam a importância da hospitalidade e da acolhida como
valores fundamentais na construção do vínculo social e na relação entre as pessoas.
A hospitalidade não se limita apenas ao gesto de oferecer abrigo ou comida, mas sim
a uma postura de abertura e disposição em compartilhar a vida e a cultura com o
outro.
A figura 13, apresentada anteriormente na p. 76, representa a importância do
acolhimento sob o ponto de vista dos hóspedes que avaliaram os espaços, sendo a
palavra de maior recorrência, aparecendo em 109 comentários, como pode ser
exemplificado em: “Me senti bem acolhido”; “Me sinto em casa, super acolhida”, “Boa
ceva e ótimo custo benefício! Acolhe a galera do vale muito bem”; “Pra quem curte
séries, bons drinks e comida excelente, além do ambiente acolhedor, o Spoiler é um
ótimo rolê”; “Atendimento por pessoas LGBTQIA+, o que fez eu me sentir acolhida”,
dentre tantos outros.
89
Porque começou com o café, para as pessoas serem de fato acolhidas. Mas,
e quando eu falo acolhimento, eu não falo acolhimento com intuito de uma
palavra desgastada, que já se mostrou. Um acolhimento real. Um
acolhimento de “Vem, tu serás bem atendido”. “Vem que tu não terá só
cerveja no cardápio”. “Vem se tu quiseres um jantar especial, tu terás”. E essa
foi a pedra matriarcal da casa (E1).
A gente tem uma cultura aqui de tentar fazer com que as pessoas se sintam
bem acolhidas, por entender que é um espaço, a gente quer que as pessoas
se sintam seguras, à vontade, além do entretenimento (E8).
O diferencial da WorkingRoom, ele é, sempre foi e sempre vai ser um
atendimento, é um conjunto de experiências, é o show, são os drinks e a
comida, mas eu acho que mais do que isso assim, é entender que as pessoas
elas vão estar se sentindo bem acolhidas aqui (E8).
A hospitalidade é um conceito que envolve a capacidade de acolher e receber
outras pessoas em um determinado espaço, seja ele físico ou simbólico. De acordo
com Grinover (2007), a hospitalidade é uma prática que se estende desde os tempos
antigos e pode ser entendida como uma forma de aproximação entre diferentes
culturas e pessoas. Segundo o autor, "a hospitalidade é um conjunto de atitudes e
práticas que expressam a capacidade de receber o outro e de fazer com que se sinta
bem-vindo, com o objetivo de criar um ambiente de convivência agradável e
enriquecedor" (p. 25).
A simbologia, por sua vez, é um conjunto de signos que carregam significados
e valores culturais que podem ser interpretados de diferentes formas. Segundo
Chevalier e Gheerbrant (2017), os símbolos são elementos que representam uma
realidade complexa e profunda e podem ser encontrados em diferentes esferas da
vida humana, como nas artes, na religião, na psicologia, na filosofia, entre outras. Os
autores afirmam que a cidade é um espaço onde se manifestam símbolos que refletem
a cultura e a história do lugar (2017).
Geertz (2008) destaca que a cidade é um espaço onde se cruzam diferentes
culturas e tradições, e que é na troca de experiências que a hospitalidade pode ser
desenvolvida. Para ela, a compreensão da cultura local é fundamental para que o
visitante possa se sentir acolhido e confortável. Assim, pode-se perceber que a
hospitalidade, a simbologia e a urbanidade estão interligadas e se complementam na
construção de um ambiente mais acolhedor e inclusivo. Conforme Kantor, Brito e
Ellwanger (2020), essa interligação se faz presente também nos espaços amigáveis
para a população LGBTQIA+ nas grandes cidades, que buscam não só acolher, mas
também representar essa comunidade.
90
Conforme os autores, "esses espaços se tornam importantes não apenas pela
sua função social de acolhimento, mas também por sua simbologia, que representa a
luta por direitos e pela visibilidade dessa comunidade" (KANTOR; BRITO;
ELLWANGER, 2020, p. 72). Para os autores Vorobjovas-Pinta e Grimmer (2021) a
comunicação desempenha um papel fundamental ao atrair clientes LGBTQIA+ e ao
criar um ambiente inclusivo.
Todavia, os gestores divergem parcialmente segundo a importância da
utilização de símbolos que identifiquem seus espaços, como bandeiras, adesivos e
objetos de decoração na ambientação, enquanto alguns consideram muito relevante
para a comunicação do espaço com os hóspedes/clientes, tal como
Eu acho que está bem alinhado com a proposta, com a cultura do bar. A gente
tem cartazes no bar referente ao respeito, sobre ser um espaço contra
preconceito, ter um banheiro sem gênero. Atendo, pessoas circulando.
Pessoas trans, pessoas de dentro da comunidade, então acho que tem tudo
a ver com a nossa estratégia, nossa cultura, quem nós somos, nossos
valores. Enfim, acho que está tudo muito atrelado. Eu não conseguia ver
diferente assim (E8, 2023).
(...) o segundo passo é trazer links que deixam a pessoa confortável né? Links
eu digo na parte de decoração, trazer coisas que a pessoa se identifique, né?
Com alguns acessórios, alguma coisa que traz a ideia do local... Bastante
com a simbologia (...) é bem importante porque a gente precisa fazer, a gente
precisa trazer isso, e ser cada vez mais natural. E as pessoas conhecerem
também, as pessoas passarem aqui na frente “nosso arco-íris” o que que é o
arco-íris que traz o orgulho, então é bacana uma criança ver, além de ser
colorido e chamar atenção, existe um significado por trás (E3, 2023).
(...) essa questão é pra a gente realmente é pra ter uma unidade, então não
é tipo ah só bota a bandeira ali e deu né? Então a gente quis personalizar,
enfim, fazer a temática toda em torno disso. Também tem a questão de as
empresas só no mês de junho, botam lá a bandeira, então a gente um dos
nossos slogans ali é que é “o orgulho o ano inteiro”, então a gente tenta
manter mais, a nossa temática digamos é essa, e daí tudo que a gente faz a
gente tenta pensar, né? Como é que a gente pode fazer pra não ser só mais
uma comida, ser só mais um drinque, né? Então além de ter esse diferencial
como negócio, também manter a coerência com aquilo que a gente faz, né?
Com a gente a gente defende, né? (E.4).
Outros consideram como relativa, pois depende do contexto em que a empresa
está estabelecida, valorizando outras formas de sinalizar aos públicos o acolhimento,
como através da diversidade e inclusão na equipe, como demonstram os trechos
selecionados:
Ah a forma simbólica também ela é representativa mais em bairros que
conversam mais com essa mesma ideologia. Então... por a gente estar na
esquina do Colégio Rosário, por exemplo em Petrópolis, ah gente, eu podia
trabalhar, como não, (...) então a forma simbólica também vem de algumas
outras formas sem ser uma bandeira estampada, digamos, de forma inclusiva
(E5, 2023).
91
Brincávamos inclusive que até pouco tempo nós não tínhamos nenhuma
bandeira na casa, não por falta de militância, muito pelo contrário, porque a
nossa militância é diária, mas por que nem percebíamos que o símbolo
precisava dessa relevância aqui, porque para nós é um exercício natural. Não
fazia falta um símbolo (E1, 2023).
Tantos anos depois, então é uma aceitação de num primeiro momento (...)
depois que a gente se sentiu acolhido pelo bairro... passou ali uns oito meses,
dez meses de loja aberta, aí eu comecei a ganhar confiança em relação a
mostrar de fato quem é a Charlie, é e quem eu sou, aí começou a aparecer a
bandeira, a gente botou um quadrinho de um casal de dois militares se
beijando no banheiro. Aí comecei a botar os quadrinhos, ah, relacionados ao
meu afeto te afeta e etc. (E6, 2023).
Destaca-se que a hospitalidade, a simbologia e a urbanidade são conceitos que
devem ser aplicados de forma consciente e crítica, buscando sempre a inclusão e o
respeito à diversidade cultural e social presente em nossas cidades. Como afirma
Geertz (2008, p.17), "a interpretação das culturas exige um entendimento profundo
das simbologias e práticas presentes em uma determinada sociedade, a fim de que
possamos compreender e respeitar as diferenças e particularidades de cada uma
delas”.
A utilização desses elementos simbólicos que identificam as causas da
comunidade LGBTQAI+, ainda que de forma sutil, proporcionam um
ambiente social seguro onde o indivíduo pode expressar sua sexualidade
sem preocupação ou ansiedade, e livre dos fenômenos de ameaça do
estereótipo e ambiguidade de atribuição característicos dos contatos entre
homossexuais e heterossexuais” (NUNAN, 2015, p. 98).
A segurança, possibilitando a livre da sexualidade, identidade e gênero e
manifestação do afeto configura umas das principais características dos espaços
LGBTQIA+, e diz respeito ao ambiente formado pelos aspectos físicos, pelo
atendimento, como também pelos demais frequentadores. Ro (2023) identificou em
seus estudos que clientes gays, lésbicas e bissexuais que eram mais propensos a
experimentar discriminação e micro agressões nas interações com os serviços.
Os clientes percebem e valoram a segurança e o público frequentador desses
espaços da seguinte forma: “Café criado por mulheres LBGTQIA+. Local acolhedor e
seguro para a comunidade. Comida gostosa e excelente custo benefício”; “Público
muito julgador. Fui com minha namorada e éramos as únicas lgbts. Não chegamos a
sofrer preconceito direto, mas as olhadas foram desconfortáveis”; “O público não é
respeitoso com os funcionários e desrespeitoso em diversos caso”; “Ótimo local para
92
curtir livreeeee de preconceitos’; “Lugar que pode ser tu mesmo”; “Lugar livre de
preconceitos”; “Um local onde o público lgbtqiap+ pode se sentir bem e seguro em
Porto Alegre sendo atendido por pessoas da comunidade e que tem brownies
deliciosos”; “Local ótimo para encontrar os amigos e beber em segurança, ser livre
para expressar sua subjetividade”; “Um ambiente agradável e muito seguro! As
bebidas são um luxo, drags maravilhosas e o dono é um querido!”; “Tradicional casa
de festas alternativas à noite onde todos os públicos convivem bem! De acordo com
a temática da festa há presença maior de membros da comunidade”. Em sentido
semelhante, a promoção de espaços seguros estão entre as preocupações dos
anfitriões dos espaços amigáveis à comunidade LGBTQAI+, como pode-se inferir dos
trechos selecionados:
(...) porque eu não quero que o meu público fique constrangido se alguém
olhar no guia e disser “Bah, eu vou lá naquela casa porque tem um filé
incrível”, depois chegava aqui e via dois homens se beijando e não achava
admissível isso acontecer, eu prefiro manter o meu público seguro a expandir
de outra forma. As pessoas que vem aqui, elas precisam saber que o amor e
a demonstração de carinho tem e será respeitada. A questão da segurança
é muito importante. Muito importante, as pessoas precisam se sentir seguras,
“eu estarei aqui, eu serei bem atendido, eu serei bem recepcionado, eu terei
a boa bebida, eu terei uma boa comida e não estarei em perigo” (Entrevista
1, 2023).
(...) Ah, o público LGBT que estiver viajando, ele não conhece lugar, ele quer
saber aonde que ele vai se sentir seguro. E aí, esse é o produto de vocês. O
cara saber que ele vai vir pra cá, ele vai estar seguro, vai ser... não vai ser
tratado com preconceito e tal, né? E foi um negócio que ela identificou. Assim,
que também não é um negócio que a gente não estava no nosso
planejamento assim, sabe, identificou que era um processo natural assim.
(Entrevista 2, 2023).
(...) mas às vezes eu acho que tu tem um uma placa num lugar, uma
bandeirinha, alguma coisa que tipo... olha esse espaço aqui está dizendo que
eu estou seguro aqui dentro, se caso acontecer, eu posso, tenho a quem
recorrer, porque às vezes a gente vai para lugares onde a gente sabe que a
gente não é bem-vindo, mas a gente está lá mesmo assim e sempre fica
aquela coisa de tu ficar meio retraído, se acontecer alguma coisa como é que
a gente vai se portar, quem vai estar do meu lado e quem vai bancar junto,
quem é aliado? Então eu acho que entender que tu está no local e que tem
pessoas aliadas a ti se caso acontecer alguma coisa, acho que isso é muito
legal, isso é muito importante, sabe? (E8, 2023).
Assim, é evidente que a comunidade LGBTQIA+ precisa de refúgios seguros,
onde a organização e a resistência às normas heteronormativas podem ocorrer, bem
como espaços para socialização e amor livre (BELL; BINNIE, 2013; COSTA, PIRES,
2016 GUARACINO; SALVATO, 2019). A observação participante nos espaços
93
gastronômicos selecionados possibilitou a análise de aspectos tangíveis e intangíveis
desses lugares, incluindo a ambientação. Nos ambientes construídos nesses espaços
foi possível constatar a criação de uma atmosfera acolhedora, por mais que diversa,
onde alguns em alguns espaços são valorizados o senso estético, o design e a
decoração, em outros um aspecto mais urbano, underground, são caracterizados,
como observado na Figura 15 apresentada na p.82.
Esses aspectos também são valorizados pelos clientes, como demonstram os
comentários: “O lugar é lindo, o banheiro é perfeito e os drinks sao maravilhosos”;
“Cafeteria mais bonita de Porto Alegre, funcionários simpáticos e cardápio
maravilhoso. Ambiente bem acolhedor”; “Decoração temática, apresentações de
drags incríveis e atendimento amigável! O tipo de lugar agradável para se frequentar”
assim como:
O espaço é esteticamente bonito, colorido, agradável, nada que grite OLHA
PESSOAL SOMOS GAY FRIENDLY mas tá ótimo assim. A música é meio
que bem "pra todo mundo", não tem aquele set que tu percebe ser pra um
público e tal. Os valores claramente não são pra todo mundo, a bebida é sim
meio cara, principalmente no bairro onde eles estão, ou seja: a grande
maioria do público lgbt que frequenta provavelmente não mora ali perto.
Como "crítico de balada", não é muito diferente das outras que tocam as
mesmas músicas velhas pra agradar público atrasado, mas como gay é uma
experiência agradável e segura;
Local engajado no respeito à diversidade, com importante contribuição no
reconhecimento e na difusão da cultura LGBTI+ na cidade. Ambiente
acolhedor, cardápio atraente, equipe querida, apresentações
deslumbrantes... Um espaço único!
Outra preocupação percebida em todos os espaços visitados está na busca
pela excelência dos produtos e serviços ofertados, sejam alimentos e bebidas, ou
atrações musicais e artísticas, que podem conversar diretamente ou não com a
temática LGBTQIA. Os registros fotográficos demonstram uma ampla utilização de
símbolos, ainda de forma sútil como observado por Nunan (2015) para conexão com
a comunidade LGBTQAI+, como demonstram as Figuras 16 e 17.
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Figura 16 – Ambientações dos espaços amigáveis de Porto Alegre (2)
Fonte: Autor (2023)
Figura 17 – Ambientações dos espaços amigáveis de Porto Alegre (3)
Fonte: Autor (2023)
A acolhida das pessoas LGBTQIA+ em espaços gastronômicos amigáveis se
dá através das boas vindas, do poder de um convite genuíno e sincero (GUARACINO;
SALVATO, 2017; SILVA; CARVALHO, 2020). Mas não importa somente em uma
exploração econômica de um segmento crescente, os autores destacam a importância
não só da comunicação com o público LGBTQIA+, da mesma forma que devem haver
um engajamento com as pautas dos movimentos, através capacitação da equipe,
contratação e inclusão de pessoas LGBTQIA+, politicas contra discriminação, e
95
engajamento em projetos sociais (GUARACINO; SALVATO, 2017; SILVA;
CARVALHO, 2020), em consonância ao observados pelos gestores anteriormente.
Esses aspectos também são apreciados por hóspedes em seus comentários e
anfitriões nas entrevistas, dos quais destacam-se os trechos sobre a diversidade e
inclusão na equipe, onde os hóspedes destacam “A Casa contrata e apoia a
diversidade”; “Espaço com bastante diversidade e bem acolhedor”; “Bar super
acolhedor, ‘transaliade’ (vejo muitas manas e manos trans na equipe), atendimento
de qualidade, bebidas e comidas muito boas”; “Local engajado no respeito à
diversidade, com importante contribuição no reconhecimento e na difusão da cultura
LGBTI+ na cidade. Ambiente acolhedor, cardápio atraente, equipe querida,
apresentações deslumbrantes... Um espaço único!”. Esses aspectos de configuração
diversa das equipes também foram identificados na pesquisa de campo para
observação participante. No mesmo sentido, a busca por uma equipe que represente
diversidade também faz parte do discurso dos anfitriões desses espaços
(..)tu ter um quadro de funcionários diversos, que pra nós é muito mais
importante do que uma bandeira, do que um quadrinho na parede, a gente
acha que a representatividade do quadro funcional, né? De funcionários, em
quadro operacional. Ela tem uma representatividade muito maior pra
sociedade, pra comunidade, porque demonstra também que a pessoa que
está ali trabalhando, que está fazendo o teu lanche, que está te atendendo é
tão igual quanto tu, né? Então isso não adianta, a gente sempre pensou muito
sobre que não adianta a gente ter uma bandeira ou até mesmo alguma frase
motivacional, ou uma frase representativa, sem que a o nosso quadro de
funcionários não representasse de certa forma essa comunidade, né? (E5,
2023)
A gente sempre trabalhou com LGBTs na equipe e na maior parte das vezes
são a maioria das pessoas, quase todas as pessoas que trabalham lá são
LGBTs. E não, a gente não faz um critério de seleção baseado nisso, mas
simplesmente acontece. E eu acho que tem que tem a ver com a identidade
da empresa mesmo, e com a história porque a Casa de Pelotas na Cidade
de Baixa, que foi decorada pelo meu namorado na época, então a gente era
um casal gay, visivelmente um casal gay, assim e acho que as pessoas, elas
também conseguem, falando nesse negócio de lugares amigáveis, elas
percebem quem tá trabalhando ali, quem tá por trás, sabe? Então, eu acho
que acaba que naturalmente isso faz com que o público consiga entender
que ele é bem-vindo e se sente, sei lá, representado, mas a mesma coisa
acontece com os funcionários (E7, 2023).
A gente sempre contratou galera LGBT, assim, né? Foi raro o tempo que a
gente não teve pessoas trans trabalhando lá. Sabe? A gente teve menino
trans, menina trans né? Hoje a nossa chefe de cozinha, uma menina trans,
tá? Teve uma menina trans nos drinks, fez um menino trans nos drinks
também. E é um negócio assim que não é ah não é tipo “ai o que eles estão
fazendo”, né? A gente não quer não quer isso assim, mas a gente sabe que
tem muito lugar que não vai ter coragem de botar uma pessoa trans ali na
linha de frente, chefiando a cozinha, que tem medo de que o cliente vai ter
96
preconceito, sabe? E a gente acha que dá, acho que até o nosso público vai
achar do caralho que tem gente trans trabalhando ali sabe. (E2, 2023)
A gente procura ter uma diversidade também na maioria das dos
colaboradores são pessoas da comunidade LGBT né? A pessoa que me
substitui quando eu não estou aqui ela é uma mulher trans e que faz também
atendimento no salão, mas quando não, fica no caixa, a gente tem uma
pessoa trans também de barback o no bar, a gente tem um homem gay no
salão também. (E8, 2023).
Essas questões trazem conjuntamente reflexões sobre as interseccionalidades
existentes nas experiências das pessoas LGBTQIA+ nesses espaços, em razão da
maior ou menor visibilidade, ou marginalização no caso de pessoas trans, como em
relação à cor, peso, classe social, pessoas portadoras de deficiências e etc.
(FACCHINI, 2020; KOTLINSKI, 2021). Isso reflete tanto nos trechos apresentados
anteriormente, tanto das entrevistas, como nas avaliações de hóspedes, que ainda
seguem: “Pouquíssima gente preta, de resto ok”; “Lugar perfeito que emprega várias
pessoas trans. Super indico”. Os gestores também demonstraram preocupação com
a temática, como nos trechos que seguem:
E aí, várias coisas, né cara? A gente reparou uma época assim que o nosso
público era muito branco. Por exemplo, sabe? E aí a gente pensou sobre o
que a gente pode fazer pra mudar isso né? A gente fez um outro projeto lá
que era o sessão Justo que era de shows, e aí a gente chamou uma galera
na parceria pra fazer uma curadoria de bandas pra tocarem lá, e a gente não
deixou assim mega explícito, a gente falou lá que a gente queria projetos
musicais que tivessem alguma temática do social né? E aí a gente só brifou a
curadoria para trazer diversidade, né? (E2, 2023)
Inclusive a gente pensa também até nos nomes das drags, e daqui a pouco
ter drags gordas, drags pretas, drags trans, até pode ser uma coisa que talvez
não chame muito a atenção, mas pra nós esse detalhe é importante também,
né? Que essa diversidade ela também se reflita nos produtos, nas escolhas
que a gente faz, que as vezes podem ser pequenas, mas que pra nós tem
um significado. Se uma pessoa percebeu isso, “ah eles tiveram esse cuidado
e tal”, pra nós já é gratificante. (E8, 2023)
Atualmente no bar são seis pessoas e todas elas são diversas entre si. Temos
homens héteros, mulheres cis e hétero, temos também mulheres trans, gays,
homens gays, negros né? Já tivemos PCDs e atualmente não temos mais,
mas já tivemos também tanto homem ou mulher trans. O ambiente certa
forma de forma informal com alguns colaboradores daí sim né? Transitam
mais e daí tem essa peculiaridade também. (E5, 2023).
Grinover (2013) aborda a relação entre hospitalidade, qualidade de vida,
cidadania e urbanidade, destacando que a hospitalidade é uma característica
fundamental para a construção de uma cidade mais humana e acolhedora. Para o
autor a urbanidade é uma forma de hospitalidade urbana, que envolve a capacidade
97
de respeitar e conviver com a diversidade presente na cidade. Segundo o autor, "a
urbanidade se manifesta através de gestos, comportamentos e práticas que buscam
tornar o espaço urbano mais amigável e acolhedor para todos os seus habitantes"
(GRINOVER, 2013, p. 18).
Por conseguinte, relaciona-se ao entendimento de Guaracino e Salvato (2017)
sobre a importância da participação das empresas nos movimentos sociais e ações
sociais com ligação ao movimento LGBTQIA+, em especial a Parada Livre, como
evidencia a Figura 18, onde estão representadas as divulgações, no perfil de
Instagram oficial da Parada Livre de Porto Alegre, de bebidas e pratos com intuito de
arrecadar fundos para o evento em 2021 e 2022.
Figura 18 – Divulgações das colaborações de espaços gastronômicos amigáveis com
a Parada Livre de Porto Alegre
Fonte: Instagram/Divulgação (2022)
No mesmo sentido são as posições dos gestores entrevistados, como se
observa em:
A Parada é um lastro muito importante pra nossa comunidade, porque a
Parada antes de qualquer coisa é um movimento político. Nós precisamos
nos posicionar, defender avanços que nós temos hoje e que as novas
gerações sequer perceberam, como a possibilidade de andar de mãos dadas,
de tomar um café como eu citei, de jantar num restaurante, foram protegidos
e foram guindados graças a movimentos como a Parada, que protegiam a
comunidade, mostravam que nós existimos e que nós somos muitos. Então,
enquanto instituição, o Venezianos faz questão de apoiar a Parada sempre.
Se tu olhares, isso é tarefa de gincana, quem tem um adesivo da Parada de
98
2001 grudado na geladeira? Nós temos, por quê? Desde então, desde a
fundação da casa, o veneziano tem esse braço com a parada e com as ONGs
que a promovem. (E.1, 2023);
É eu entendo que é muito essencial. Eu costumo ter uma relação bem
próximas assim com ONGs voltadas pra comunidade LGBTIA+, eu procuro
me articular com projetos. A parada por ser um evento que tem tudo a ver
com os bares, a gente procura estar sempre presente, até que questões
políticas. O bar ele é apartidário, mas tem questões que, por exemplo, pra
nós é fundamental, como lutar contra o bolsonarismo, né? Que pra nós é uma
questão que fala sobre a nossa identidade, fala contra os nossos interesses,
então não tem como não se manter favorável a lutar contra isso, então a
gente acaba levantando uma bandeira, né? E ações sociais também voltadas
sempre, projetos voltados pra travestis, pessoas trans, que estão
vulnerabilidade. Ou uma ONG que está com um projeto, uma campanha de
agasalho que vai ser destinado pra ala de presídios das travestis. Entender
que, claro, a gente pode ampliar mais, mas sempre não esquecer que foco é
a comunidade LGBT, acho que é sempre foi assim né? (E8, 2023).
Nas causas sociais, aí sim a gente entra sempre, né? A gente tem um Instituto
que a gente apoia ali no Morro da Polícia, tem a ONG do Pequena Casa da
Criança, então sempre que a gente pode fazer movimentos pra ajudar essas
comunidades a gente faz, e vai continuar fazendo culturais também, né? Que
acho que a Charlie sempre apoia, quando pode. (E7, 2023).
Sim, sim, na parada, eles ajudam assim fornecendo ali o carro de som, mas
todo o resto a gente tem que financiar, se vai ter DJ, se vai ter as placas, os
banners, balões e tudo... E a gente queria muito participar também, para
manter essa coerência, essa representatividade com o bar, né? Se alinhar
com aquilo, né? Tentar estar presente na comunidade e nas causas o máximo
que a gente puder. Até a gente pensou: ah vai ser mais um gasto, a gente
não estava tão bem financeiramente, mas pra nós era muito importante estar
lá (E4, 2023).
Por fim, as percepções dos gestores vão ao encontro dos resultados
observados por Dalpian (2017) sobre a ausência de politicas públicas de promoção,
divulgação e ampliação dos espaços amigáveis à comunidade LGBTQIA+ de Porto
Alegre, com o encerramento das iniciativa POA LGBT promovida pela Prefeitura em
2015, como também o encerramento das atividades da Freeda, uma consultoria que
promovia o treinamento e certificação desses espaços, sendo citada pelos
Entrevistados 6 e 7, assim como de ONGs como Nuances e Somos, citada pelo
Entrevistado 8.
Vorobjovas-Pinta e Grimmer (2021) entendem a certificação como um exemplo
de como a comunicação pode ser eficaz para transmitir a mensagem de que um
espaço é acolhedor para a comunidade LGBTQIA+. Os autores destacam que os
programas de certificação devem ajudar as empresas tornarem-se mais acolhedoras
para clientes gays, devendo cumprir uma série de critérios, incluindo uma política clara
99
de não discriminação, treinamento de funcionários e uso de linguagem e imagens
amigáveis à comunidade LGBTQIA+ nos materiais de marketing.
100
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tanto a hospitalidade quanto o movimento LGBTQIA+ são objeto de estudos
das mais diversas áreas do conhecimento, no entanto, são escassos os estudos que
fazem uma intersecção das temáticas a partir da perspectiva da relação anfitrião e
hóspede em espaços acolhedores aos LGBTQIA+. As influências do sistema social,
nas mais diversas expressões como econômicas, politica, jurídica, religiosa, sobre as
manifestações da diversidade sexual e de gênero também refletem nas relações de
hospitalidade em um espaço e tempo.
Desta forma, a pesquisa tinha como objetivo principal investigar as dimensões
da hospitalidade e as características dos espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly
nas grandes cidades que são capazes de despertar sensações de acolhimento e bem-
estar, bem como contribuir para a cidadania nos espaços urbanos, considerando as
perspectivas tanto dos anfitriões quanto dos hóspedes. Já os objetivos específicos
eram: a) Verificar como as dimensões da hospitalidade e características dos espaços
gastronômicos LGBTQIA+ friendly se relacionam na promoção de sensações de
acolhimento e bem-estar para os atores envolvidos, anfitriões e hóspedes; b)
Identificar e mapear os espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly Porto Alegre/RS,
enfocando aqueles que são referência para a comunidade LGBTQIA+; c) Analisar as
dimensões da hospitalidade presentes nos espaços gastronômicos LGBTQIA+
friendly de Porto Alegre/RS, considerando as percepções dos anfitriões e hóspedes;
d) Verificar como as características dos espaços gastronômicos LGBTQIA+ friendly
são percebidas pelos anfitriões e hóspedes em Porto Alegre/RS.
A presente pesquisa adotou uma abordagem qualitativa e exploratória,
conduzida através de um estudo em três fases, fundamentado na premissa de que a
forma como os espaços urbanos são disponibilizados para diversos grupos sociais,
incluindo a comunidade LGBTQIA+ friendly, pode revelar sua natureza hospitaleira na
cidade. A primeira fase envolveu uma pesquisa bibliográfica e documental abordando
a hospitalidade, a temática LGBTQIA+ e os espaços sociais amigáveis à comunidade
LGBTQIA+ nas grandes cidades.
Na segunda etapa, ocorreu a identificação e mapeamento dos
estabelecimentos gastronômicos LGBTQIA+ friendly na cidade de Porto Alegre/RS,
utilizando pesquisa bibliográfica e documental. Finalmente, na terceira fase, foram
coletados dados provenientes dos usuários da plataforma Mapa LGBTQIA+ da startup
101
Nohs Somos, conduzidas entrevistas com os gestores dos espaços gastronômicos
amigáveis e realizada a observação participante nesses locais. Com auxílio do
software MAXQDA 2022, os dados foram estratificados e analisados por meio da
análise de conteúdo e comparação mútua de dados, ou triangulação. Dessa forma,
buscou-se elucidar ao questionamento proposto e atingir os objetivos gerais e
específicos.
A partir das entrevistas realizadas, ficou evidente a relevância da localização e
territorialidade, uma vez que todos os entrevistados enfatizaram esse aspecto como
crucial para a caracterização dos bairros. Todos os estabelecimentos estão
estrategicamente situados na área identificada nos bairros Cidade Baixa, Bom Fim e
Centro Histórico, conhecidos pela diversidade de seu público, incluindo a juventude,
estudantes universitários, intelectuais e adeptos dos movimentos sociais de esquerda,
assim como pela vida boêmia e intensa vida noturna, além de apoiar o
empreendedorismo de minorias, como o LGBTQIA+ e o feminino.
De maneira semelhante, a maioria dos participantes destacou a importância de
políticas de diversidade e inclusão nas equipes e eventos musicais, bem como o
treinamento dos funcionários. Contudo, foi observado que apenas metade dos
entrevistados relatou a implementação efetiva dessas políticas, e nenhum deles
mencionou um plano contínuo de capacitação da equipe em relação ao atendimento
às pessoas LGBTQIA+. A presença de indivíduos LGBTQIA+ contribuiu para uma
sensação de identificação e acolhimento nos espaços gastronômicos amigáveis,
assim como para a percepção de segurança contra preconceitos.
Além disso, a ligação com causas sociais, especialmente aquelas relacionadas
aos movimentos LGBTQIA+, como as Paradas, também foi enfatizada. Apesar das
discordâncias em relação à rotulação de "espaço LGBT", todos os entrevistados
ressaltaram a importância de serem considerados amigáveis para a comunidade. Eles
também valorizaram a utilização de símbolos, como bandeiras e adesivos, para
identificação e comunicação. Essa medida é de extrema relevância, pois a
comunicação desempenha um papel crucial em afastar indivíduos preconceituosos e
criar ambientes seguros para seus hóspedes e clientes.
A análise das avaliações na plataforma Nohs Somos permitiu identificar
percepções relevantes dos usuários. Os hóspedes/clientes enfatizaram a importância
da qualidade dos produtos e serviços oferecidos, bem como do atendimento e da
ambientação. Contudo, aspectos como a sensação de acolhimento, segurança e
102
liberdade para expressar sua sexualidade e afetos ganharam destaque. Além disso,
os hóspedes/clientes ressaltaram a presença de indivíduos LGBTQIA+ no
atendimento, bem como a consideração de interseccionalidades, como a presença ou
ausência de pessoas trans e negras tanto entre a equipe quanto entre os demais
frequentadores. Isso ressalta a importância de observar as várias formas de
diversidade e a necessidade de políticas de inclusão que promovam a visibilidade das
identidades mais marginalizadas dentro dos grupos minoritários.
Através das observações participantes nos estabelecimentos gastronômicos
sob a gestão dos entrevistados, uma compreensão mais aprofundada das complexas
dinâmicas sociais e espaciais emergiu. Essa abordagem explorou tanto as interações
entre anfitriões e clientes quanto entre os próprios clientes, abrangendo elementos
tangíveis e subjetivos. Ao enriquecer os dados coletados a partir do mapeamento,
avaliações de usuários e entrevistas, essas observações enriqueceram
significativamente a compreensão global do estudo.
A observação participante permitiu a identificação dos espaços gastronômicos
como cenários multifacetados de diversas interações sociais, incluindo reuniões de
trabalho, encontros familiares, amizades, casais e celebrações de aniversário. Além
disso, por meio dessa observação, foi confirmado que o compartilhamento de
alimentos e bebidas é um elemento central nesses ambientes, uma característica que
também foi evidenciada nos comentários dos participantes. A análise da ambientação
desses locais revelou a criação de atmosferas acolhedoras e distintas, variando de
espaços que valorizam estética, design e decoração a ambientes com uma sensação
mais urbana e underground,
Os resultados apresentados reforçam que os estabelecimentos gastronômicos
que são acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ em Porto Alegre são
influenciados pelas diversas dimensões da hospitalidade. Eles se caracterizam por
estar concentrados geograficamente, ademais servem como locais propícios para o
compartilhamento de refeições e bebidas, bem como para uma variedade de
interações sociais, como reuniões de trabalho, familiares, entre amigos,
comemorações, entre casais ou para conhecer novas pessoas.
Observou-se, ainda, que expressões de apoio e acolhimento, por meios
simbólicos como bandeiras expostas nas janelas, adesivos nas portas de
estabelecimentos comercias e outros artefatos de decoração, contribuem para a
sensação de pertencimento e ajudam na sociabilidade, reforçando a importância
103
sobre os tipos de apropriação do espaço públicos por todos e contribuindo para uma
sociedade diversa e uma cidade mais hospitaleira.
Isso cria um senso de pertencimento e comunidade, destacados pela
simbologia do "espaço LGBTQIA+" ou amigável à comunidade, transformando-se em
marcos de urbanidade e cidadania nas grandes cidades. Essas descobertas
sustentam a proposição P1: Nesses espaços é possível identificar diversas dimensões
da hospitalidade, quais sejam: material - espacial e territorial; simbólica; social:
acolhimento; comensalidade; sociabilidade e urbanidade.
Da mesma forma, os estabelecimentos gastronômicos LGBTQIA+ friendly em
Porto Alegre podem ser definidos por seu atendimento caloroso, ambiente distintivo,
promoção de segurança e espaço para expressão dos afetos, além de sua ligação
com movimentos e iniciativas sociais relevantes para essa comunidade na cidade.
Eles se tornam locais de sociabilidade, urbanidade e cidadania para seus
frequentadores, fortalecendo a proposição P2. Esses espaços exibem uma identidade
estética singular que transparece por meio de sua ambientação, seleção musical e
oferta culinária, criando uma atmosfera acolhedora e única para a comunidade
LGBTQIA+.
Adicionalmente, a oferta de espaços privados de uso público é fundamental
para proporcionar um sentimento de bem-estar e acolhimento à comunidade
LGBTQIA+. Nesses locais, as pessoas experimentam uma maior sensação de
conforto e segurança, o que lhes permite expressar livremente sua personalidade,
afetos, sexualidade e identidade de gênero. Esses espaços refletem os princípios da
hospitalidade, servindo como ambientes acolhedores. Eles desempenham um papel
crucial como marcadores de identidade, inclusão e resistência, especialmente em uma
sociedade ainda permeada por heteronormatividade, machismo e homofobia. Isso
valida a terceira proposição P3: Esses espaços tornaram-se espaços de resistência,
empoderamento e inclusão social para as minorias, especialmente nas grandes
cidades onde o poder acaba segregando os espaços.
Foram identificadas principais limitações no estudo, principalmente
relacionadas à falta de documentos específicos para a identificação e divulgação dos
espaços gastronômicos LGBTQIA+ em Porto Alegre. Isso aponta para a necessidade
de uma expansão mais ampla e aprofundada no processo de localização e
mapeamento desses locais. Além disso, houve dificuldades na definição de critérios
objetivos para identificar estabelecimentos LGBTQIA+ friendly. Para futuras
104
investigações, é recomendável a formulação de critérios destinados a delinear e
mapear esses espaços nas áreas metropolitanas, bem como fornecer recomendações
e diretrizes para orientar esses estabelecimentos a promover a capacitação das
equipes de atendimento, políticas de diversidade e inclusão, e a divulgação desses
espaços. Isso visaria aprimorar a qualidade e promover o crescimento desses locais
voltados para a comunidade LGBTQIA+.
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117
APÊNDICE A – MAPA DOS ESPAÇOS GASTRONÔMICOS AMIGÁVEIS ÀS COMUNIDADE LGBTQIA+ DE PORTO ALEGRE
Fonte: Autor (2023) adaptado de Mapa Turístico de Porto Alegre (2022)
118
APÊNDICE B – COMENTÁRIOS DOS USUÁRIOS ANALISADOS
1. Pra quem curto um bom café, espaço acolhedor e boas comidinhas é um ótimo
rolê
2. Bem legal, comidinhas muito gostosas, mas sempre lotado.
3. Cafeteria mais bonita de Porto Alegre, funcionários simpáticos e cardápio
maravilhoso. Ambiente bem acolhedor.
4. Me sinto bem a vontade, o serviço é maravilhoso e o espaço mais ainda.
5. Senti um pouco de rigidez, porém talvez pelo fato de estarmos de mochilas
acharam que não comprariamos nada, após o primeiro pedido ficaram mais
soltos!
6. Meu café preferido de POA! Ótimo atendimento e produtos de qualidade
7. Café que serve lanches, sobremesas, café e chás, conhecido por seu chai latte
com especiarias indianas.
8. lugar gostoso d+
9. Atendimento espetacular
10. Comida sem exploração animal preço justo. O prato é servido a la carte mas
pode ser repetido a vontade. O atendimento é maravilhoso. Sou muito fã desse
lugar!
11. O lugar é caro, mas das poucas vezes que fui se valida pela qualidade e
respeito. Em 29 de Janeiro 2020 fizeram uma promoção de almoço grátis para
pessoas trans e foi super incrível o atendimento.
12. Ótimo ambiente e comida excelente, público diverso e atendimento super
acolhedor!
13. Não acho que o espaço levante uma bandeira LGBTI+ mas acho que é um
ambiente acolhedor e o público é ótimo também.
14. Amei minha experiência nesse local
15. Gosto de ir ao virgem, o cardápio é maravilhoso e me sinto bem, principalmente
quando estou com minha namorada.
16. Drinks maravilhosos
17. muito bom e bom custo benefício
18. #Pouquíssima gente preta, de resto ok.
19. Local com dormidas e bebidas gostosas, a rua é bem movimentada e divertida.
20. Espaço ótimo para beber e curtir com os amigos, aquecendo pra noite de festa
ou rolê infinito! Bons drinks, gente bonita e respeitosa
119
21. #Pub da comunidade, pena não ter espaço interno, mas o ambiente na rua é
acolhedor e de muita paquera! ;)
22. Lugar incrível, preços ótimos e super acolhedor! Eu amo
23. Hoje o nome do estabelecimento é Bibah, um lugar maravilhoso e LGBTI+
24. o lugar é lindo, o banheiro é perfeito e os drinks sao maravilhosos
25. O local agora está sob o nome de Bibah, mas o atendimento e funcionamento
continuam os mesmos. De café a drink, lugar perfeito para se sentir bem à
vontade. Drag shows anunciados no Instagram :
26. Ambiente muito acolhedor! Ótimo atendimento!
27. Ótimo lugar para tomar um drink no fim da tarde!
28. Eu fui com meus amigos e namorado e todos foram muito respeitosos, um
espaço muito respeitoso e os atendentes também
29. Bar super acolhedor, transaliade (vejo muitas manas e manos trans na equipe),
atendimento de qualidade, bebidas e comidas muito boas. Super indico!
30. Lugar aconchegante, com atendimento muito bom, comidas com valor muito
acessível, ótimo para ir com os amigos , família .
31. Lugar perfeito que emprega várias pessoas trans <3
32. Ambiente super acolhedor e atendimento excelente. Eu e minha namorada
fomos muito bem atendidas.
33. A Casa contrata e apoia a diversidade.
34. Dentro do café é muito legal, mas as mesas na rua tem gente passando e sabe
como é né
35. Local muito aconchegante, atendimento ótimo, cardápio maravilhoso
36. Criado e administrado por mulheres LGBTQIA+ para ser acolhedor, um espaço
de liberdade e igualdade. Recebe pequenos eventos no que chamam Cedinho
Cultural, espaço aberto para discussões, lançamentos literários e outros.
37. Local excepcional e com atendimento mara
38. Café criado por mulheres LBGTQIA+. Local acolhedor e seguro para a
comunidade. Comida gostosa e excelente custo benefício.
39. espaço muito bom, sempre tem promo de bebidas e comida deliciosa. ah, tem
espaço para fazer tatuagem.
40. Sempre fui bem recebido das vezes que frequentei (acompanhado de amigos
ou dates)! Uma das melhores caipas de POA, boa comida e ótima música!
41. Público muito julgador. Fui com minha namorada e éramos as únicas lgbts. Não
chegamos a sofrer preconceito direto, mas as olhadas foram desconfortáveis.
120
42. Charlie brownie é uma confeitaria feita por LGBTIs, espaço claramente aberto
e amigável
43. Pub perfeito bom para curtir.
44. Local legal e bom pra se divertir!
45. O espaço é esteticamente bonito, colorido, agradável, nada que grite OLHA
PESSOAL SOMOS GAY FRIENDLY mas tá ótimo assim. A música é meio que
bem "pra todo mundo", não tem aquele set que tu percebe ser pra um público
e tal. Os valores claramente não são pra todo mundo, a bebida é sim meio cara,
principalmente no bairro onde eles estão, ou seja: a grande maioria do público
lgbt que frequenta provavelmente não mora ali perto. Como "crítico de balada",
não é muito diferente das outras que tocam as mesmas músicas velhas pra
agradar público atrasado, mas como gay é uma experiência agradável e
segura.
46. amo aqui, nunca sofri nenhum preconceito.. e eu conheço o dono
47. Espaço bonito, acolhedor, LGBTIQ+ friendly, seguro e divertido!
48. lugar acolhedor
49. Ótimo local para curtir livreeeee de preconceitos
50. Meu role favorito de Porto Alegre! Música boa, drinks tops e lugar super good
vibes. Amoooo
51. Ambiente otimo recomendado para amantes de indie amooooo demais super
acolhedor
52. Muito acolhedor
53. Ótimo local para curtir , muito acolhedor!!!
54. Seguranças educados
55. O córtex recebe muito bem todos os públicos. Atualmente, é um dos lugares
para se visitar em Porto Alegre <3
56. Lugar mto massa. Acredito que super acolhedor para todos.
57. Lugar que pode ser tu mesmo
58. Adoro lá! Bem acolhedor com o público e divertido :)
59. Público misto, diria que mais GLS, embora o ambiente seja bem acolhedor
60. Lugar livre de preconceitos
61. ambiente muito acolhedor
62. Bebida sempre gelada, bons drinks e boas comidas! Donos e atendentes super
receptivos sempre! A fim de jogar aquela sinuca e se acabar no karaokê? VEM
63. Lugar acolhedor, com produtos de qualidade e karaoke na parte interna.
64. Lugar super divertido e acolhedor
121
65. Me senti bem acolhido
66. Espaço com bastante diversidade e bem acolhedor
67. Pub LGBT
68. Ótimo local para ir com amigos e namorado. Somos bem atendidos e podemos
demonstrar nosso afeto sem medo. Como ficar de mãos dadas, beijar. E tem
karaokê.
69. Achei o lugar muito acolhedor e respeitoso.
70. Melhor lugar para um cafezinho e um docinho. A pizza da loja sazonal está
perfeita.
71. O melhor e mais acolhedor Café de Porto Alegre. Do espaço ao atendimento,
tudo é perfeito. Sem contar que todo o cardápio é atraente e delicioso.
72. Espaço maravilhoso!
73. Adoro o atendimento e os produtos
74. Me sinto em casa, super acolhida.
75. Adoro, comida gostosa, opções em lanches, Wi-Fi delícia
76. "Atendimento ótimo, comidas maravilhosas, ambiente acolhedor, funcionários
alto astral. Amei, indico mil vezes!!!
77. ambiente e brownie incrível <3
78. Um local onde o público lgbtqiap+ pode se sentir bem e seguro em Porto Alegre
sendo atendido por pessoas da comunidade. E que tem brownies deliciosos.
79. Os proprietários são uns amores. Me sinto muito bem neste local.
80. Ambiente mega acolhedor, todes são tratados com respeito. Super recomendo!
81. Um dos melhores lugares de Porto Alegre pra um cafezinho e um doce.
Atendimento excelente e uma vibe muito legal. Recomendo!
82. Excelente café, ótimos produtos e atendimento totalmente alinhado à
diversidade. Nos sentimos sempre muito bem lá!
83. Excelente lugar com o melhor entendimento, drinks e cafés
84. Melhores drinks de poa
85. Local extremamente acolhedor, com comidinhas, cafés e drinks ótimos é pet
friendly também!
86. O melhor café da cidade!!!! O atendimento é excelente, acolhedor e amigável.
Os melhores lanches, drinks, doces e cafés que podemos encontrar. Beijão,
Dan.
87. Você recebe um atendimento maravilhoso, os doces oferecidos de ótima
qualidade. Pôde-se falar que você recebe um atendimento first class! Parabéns
a toda equipe.
122
88. Ótimo lugar pra tomar um bom cafezinho
89. Lugar encantador& super acolhedor e quitutes incríveis
90. Um suspiro de tranquilidade em Porto Alegre!
91. Excelente atendimento
92. Desde a primeira vez que fomos nos sentimos muito bem e sempre voltamos.
Pessoas legais, drinks ótimos, sorvetinhos,, e o meu favorito que é o cold brew
com tônica :D muito sucesso ao Josephs.
93. Melhor brownie e melhor atendimento de Porto Alegre
94. Eu simplesmente adoro está aqui onde até minha cachorra é bem vinda
95. Lugar muito fofo, com cafés, comidinhas e bebidas ótimas. Pessoal super
atencioso e querido. Atendimento ótimo, todo com temática do Vale. Adorei
96. Com temática que fortalece a pauta transgenere, é um local acolhedor e que
abraça a diversidade!
97. Joseph é um lugar encantador. Tudo é servido maravilhosamente e todos os
produtos são de excelente qualidade. O atendimento é um show a parte,
sempre atenciosos e carinhosos!
98. Great staff and a great service is provided on this place. The products are
tasty!!! I do recommend this place.
99. Melhor equipe de Porto Alegre, muito acolhedores, comidinhas gostosinhas,
cafés e drinks maravilhosos. Só amor <3
100. Um dos melhores cafés de Porto Alegre e um dos melhores ambientes
também!
101. Lugar muito bonito, comida muito gostosa
102. Lugar lindo, acolhedor. Atendimento, comida e bebida fantásticos.
103. Esse lugar está no meu coração! Tudo merece nota 10!!
104. Lugar maravilhoso e super inclusivo! AMO
105. Um dos melhores locais de POA para se sentir acolhide e comer doces
maravilhosos. O atendimento é excelente e o espaço é lindo.
106. Boa ceva e ótimo custo benefício! Acolhe a galera do vale muito bem
107. Espaço acolhedor, preço bom e muitas promos!
108. Lugar massa e íntimo. Varia bastante de público de noite a noite, então
talvez nem todos tenham a mesma experiência.
109. Local acolhedor e decorado com as bandeiras de causas antirracista e
LGBTQIA+, entre outras... O público é diverso e muito respeitoso, atendimento
na medida, super tranquilo estar lá, sentimento de oásis em meio ao caos que
é a capital.
123
110. Ótima cerveja e ambiente
111. Lugar muito bacana, cervejas maravilhosas, ótimo lugar para curtir com
os amigos num final de tarde.
112. As gurias mandam ver no atendimento, cevas e burgues. Super
recomendo.
113. Bar antigo e tradicional da cena alternativa em Porto Alegre.
114. Festa sempre muito divertidas e equipe respeitosa.
115. Tradicional casa de festas alternativas à noite onde todos os públicos
convivem bem! De acordo com a temática da festa há presença maior de
membros da comunidade.
116. Local amplo e suuper variado e acolhedor!
117. Muito maravilhoso, só um pouco mais caro que a média... Vale a pena
ir nas festas temáticas, público diverso!
118. O espaço é lgbt mas vi vários casais héteros também
119. Almoços lactovegetarianos em espaço que vira casa noturna alternativa
com música punk rock e festas badaladas.
120. Local amigável, tem eventos focados no público LGBTI+.
121. Espaço acolhedor, respeitador, ambiente agradável e aconchegante.
122. Espaço de luta, resistência e representatividade negra e lgbti+.
123. Adoro o Portinho!! Burguer de brioche é uma delícia e a recepção da
Joyce não tem igual
124. É um local muito bom pra sentar e conversar com os amigos sem muita
interferência de som. As pessoas são muito receptivas. Atendimento é ótimo.
Pode ir com amigos e namorados.
125. Um dos locais da cidade onde você se sente livre e acolhido pelos
demais. A comunidade junta se fortalece
126. O público não é respeituoso com os funcionários e desrespeitoso em
diversos casos.
127. Eles filtram a entrada por critério que não são específicos, não por
ordem de entrada, a hostess não foi uma anfitriã.
128. espaço agradável, atendimento muito bom e funcionários todos muito
simpáticos e educados, comidas e bebidas muito boas também
129. Sou cliente há anos, o atendimento é super inclusivo e amigável com
os clientes, além de a comida e todo o ambiente serem incríveis.
130. Pra quem curte séries, bons drinks e comida excelente, além do
ambiente acolhedor, o Spoiler é um ótimo rolê
124
131. Amooooo esse bar meu deus, cada drink mais perfeito que o outro e o
atendimento é MUITO bom, pessoal super amigável e respeitoso
132. Sempre fui bem atendida, me sinto a vontade e adoro o cardápio.
133. Atendimento por pessoas LGBTQIA+, o que fez eu me sentir acolhida
134. Um local maravilhoso, atendimento excelente e um clima
maravilhosamente bom!
135. Drinks maravilhosos e equipe mais ainda
136. Muito gostosa as comidas e drinks com atendentes respeitosos e um
público legal. Uma época os atendentes utilizavam botons identificando sua
opção sexual (vários eram LGBT) . O bar não permite qualquer atitude
preconceituosa
137. Espaço LGBTQI+ muito acolhedor
138. O melhor, o gerente tem o melhor atendimento, faz tudo muito
caprichado. Os preços são super acessíveis e sempre tem mesa com cadeiras
para sentar, recomendo conhecer
139. Bar ótimo. Pessoal super queridos e acolhedores. Espaço lgbt bem
divertido e confortável para uma cerveja.
140. Lugar acolhedor pro público LGBTQIA+ , bar com bebida barata e
música .
141. Vive cheio de LGBTS e duvido alguém falar um "a" de algo racista ou
preconceituoso lá
142. É uma rua que recebe muitos LGBTs. E o bar recebe tanto o público
gay como o hétero. Geralmente as pessoas ficam na calçada. Tem música, e
eles colocaram a bandeira LGBT no logo para desmontar que eles apoiam.
143. Local ótimo para encontrar os amigos e beber em segurança, ser livre
para expressar sua subjetividade
144. Local super acolhedor!
145. Super acolhedor! Frequentadores em suas maioria LGBTs...
Atendimento maravilhoso!
146. Um dos pubs mais acolhedores de Porto Alegre. A equipe faz de tudo
para você se sentir em casa. O Venê é maravilhoso!
147. Atendimento é perfeito
148. Me sinto à vontade quando estou lá.
149. Melhor atendimento, comida e bebida. O lugar é lindo.
150. Melhor lugar pra se estar em Porto Alegre
125
151. Melhor bar de porto Alegre. Ambiente lgbtqiap+ com produtos de
extrema qualidade.
152.
153. Já fui algumas vezes neste pub e sempre fui muito bem atendida!
154.
155. Os shows das drags é tudo de bom la
156. Ótimo local para curtir com os amigos, participar de batalhas de lipsink
e beber bons drinks
157. Um dos meus rolês favoritos, super inclusivo e os shows são sempre
maravilhosos. Amo os drinks tbm
158. É o lugar mais acolhedor da cidade toda. Além de toda temática drag,
quadro de funcionários LGBTs, eles também apoiam coletivos antirracista.
159. Melhor lugar de Porto Alegre, bons drinks, comidinhas maravilhosas,
shows incríveis, atendimento sensacional!! Eu amo!!
160. Drinks maravilhosos
161. Meu bar favorito em Poa, sempre tem os melhores drag shows, os
drinks são perfeitos e a equipe é super simpática!
162. Decoração temática, apresentações de drags incríveis e atendimento
amigável! O tipo de lugar agradável para se frequentar
163. Atendimento acolhedor!!
164. Lugar muito bacana e aconchegante
165. Lugar super alto astral, drinks maravilhosos e atendimento impecável!
166. Local Excelente , lindamente decorado , com frente p estacionamento
fácil e staff muito educado e ágil !
167. Maravilhoso! Só esse drink Jujubee q é do mal. Isso acaba com a
dignidade duma pessoa. Mas é uma DELÍCIA!!!
168. Local engajado no respeito à diversidade, com importante contribuição
no reconhecimento e na difusão da cultura LGBTI+ na cidade. Ambiente
acolhedor, cardápio atraente, equipe querida, apresentações deslumbrantes...
Um espaço único!
169. Espaço repleto de arte e apoio aos artistas locais
170. Local lindo, acolhedor e referência de rolê LGBT em Poa
171. Um lugar onde a população LGBTQIA+ pode se sentir em casa!
Inspirados no Rupaul's drag Race e excelentes apresentações drags.
172. Não só o pioneiro como também o melhor da atualidade quanto se trata
de respeito e serviço à comunidade LGBTQI+!
126
173. Sempre acolhendo a diversidade e espalhando muita arte pelo RS.
174. Meu lugar preferido em Porto Alegre, equipe maravilhosa, apresentação
de drags perfeitas, drinks e comida pra fazer a noite ainda melhor.
175. Lugar maravilhoso e super receptivo com nossa comunidade. Tem meu
coração
176. Lugar maravilhoso, ótimos drinks e ótima comida! Voltarei com certeza!
177. Lugar acolhedor com ótimo atendimento, bons drinks e shows incríveis
178. #Um espaço que oferece além de entretenimento, segurança e
acolhimento para as pessoas! Equipe maravilhosa, shows drags e noites de
lipsyncs incríveis, além de drinks e comidinhas muuitos gostosos!
179. #Melhor lugar para um rolê que apoia as causas lgbtqia+ e q arte drag.
Diversão, bons drinks e comida gostosa em um lugar só.
180. Melhor Bar! super acolhedor e ótimos drinks.
181. Simplesmente o melhor bar de Porto Alegre, onde todas as formas de
ser e amar são aceitas
182. Comida e bebida boa e staff muito respeitoso. Ambiente legal para sair
com os amigos!
183. Um dos melhores bares do RS! Espaço acolhedor, atendimento
excelente e o melhor tema possivel: Rupaul Drag Race. Tudo feito com muito
carinho e cuidado, com produtos( drinks ) todos com nomes super
maravilhosos de Drags conhecidas do publico!
184. Um ambiente agradável e muito seguro! As bebidas são um luxo, drags
maravilhosas e o dono é um querido!
185. Shows incríveis. Respeito por pessoas, comida ótima, bebidas
deliciosas, música top, frequentado por pessoas lindas. Meu lugar preferido na
vida.
186. Eu amo!! As performances são sempre sensacionais e o pessoal é
muito querido, me sinto bem demais, e o espaço é icônico, ainda mais pra quem
é fã de drag race.
187. Bar drag de LGBTQIS para LGBTQIS, inspirado no workroom de
Rupauls Drag Race, um marco obrigatório da cidade
188. Um dos melhores lugares de Porto Alegre para quem adora o meio
Drag!
127
APÊNDICE C - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 1
Entrevistador: Vamos começar, então? Primeiramente, eu gostaria de lembrar
do termo de consentimento que eu te enviei, então se você se sentir desconfortável,
não quiser responder alguma pergunta, ou preferir encerrar a entrevista é só me
avisar. Nessa parte da pesquisa eu não vou identificar o gestor que está falando
comigo e nem de que lugar ele fala. Ok?
E1: Sim, sim.
Entrevistador: Vou me apresentar, meu nome é Filipe, sou formado em
Gastronomia na UFSCSPA e estou finalizando minha pesquisa de mestrado em
Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi de São Paulo. Eu estou
conversando com gestores de espaços considerados amigáveis à comunidade
LGBTQIA+ aqui em Porto Alegre sobre hospitalidade, gestão do empreendimento e a
visão desse cenário em Porto Alegre. Gostaria que você começasse me contando um
pouco da história do Venezianos, como foi a criação do espaço.
E1: Bom, então tínhamos espaços já destinados a população, sem dúvida já
tínhamos, mas eles eram vinculados muito mais à noite, a bares, e se eu jogo essa
questão para um café, tu imagina no dia dos namorados, um dia dos namorados lá
nos anos 2000, estamos falando anos 2000, final da década de 1990, né? Eu quero
jantar com a minha namorada no dia dos namorados, como é que eu vou fazer? Se,
eu só por tomar um café, eu já sou pedida pra me retirar, aquela fila de casal hétero
esperando, vou eu de mãozinha dada com a minha namorada, eu parava, eu parava,
e eu não poderia beijar. Imagina eu levar um buquê de flores pra minha namorada
final dos anos 1990. Era impossível pensar-se nisso, com praticidade naquela época.
E aí tanto Vera quanto Carmem criaram a gastronomia no Venezianos e virou um
marco na casa. Por quê? Eu poderia jantar bem. Sim, eu poderia tomar um
espumante, eu poderia tomar drink, eu poderia pedir um filé com molho de frutas
vermelhas, e ainda assim falar tranquilamente com o meu namorado ou com minha
namorada, sem fingir que ele era um amigo, um marco, e eu falo hoje com a
tranquilidade de quem olha, como já foi cliente há uns anos atrás. Isso foi um marco
pra Porto Alegre porque a casa, o Venezianos, não era uma casa só de noite. Ele
abria mais cedo tanto que o nome é Venezianos Pub Café. Porque começou com o
café, para as pessoas serem de fato acolhidas. Mas, e quando eu falo acolhimento,
eu não falo acolhimento com intuito de uma palavra desgastada, que já se mostrou.
128
Um acolhimento real. Um acolhimento de “Vem, tu serás bem atendido”. Vem que tu
não terá só cerveja no cardápio”. “Vem se tu quiseres um jantar especial, tu terás”. E
essa foi a pedra matriarcal da casa.
Entrevistador: E a sua experiência nesse ramo e na empresa.
E1: A minha experiência. Eu chego aqui muito depois. Eu comecei no
Venezianos como cliente. E me sentia abraçada exatamente dessa forma. Por isso
que eu consigo olhar, muitos da equipe que trabalham na casa até hoje, trabalhavam
quando eu frequentava a casa como cliente, e foi todo o diferencial tanto das
proprietárias da época, quanto da equipe, as pessoas sempre nos acolheram muito
bem e acabo mudando o lado do balcão, num certo momento que me envolvi
emocionalmente com uma das sócias e bom vou fazer parte dessa marca também e
faço isso com muito amor. Venezianos não é um negócio há muito tempo.
Entrevistador: Há quanto tempo o bar funciona?
E1: Estamos aqui há quinze anos. Quinze anos.
Entrevistador: E o público é frequentador, os seus consumidores...
E1: Eles são um público bem diverso, que varia também conforme a noite.
Entrevistador: E como é que você descreve esse público, o perfil dele.
E1: Em que corte que tu queres essa descrição?
Entrevistador: Perfil de idade, de gênero...
E1: Nós temos ah algumas características bem peculiares na casa. Eu vou te
dar um exemplo. A semana passada estava eu na Santa Casa. Certo, em um dos
hospitais um diretor me viu e disse “Ale o que que tu está fazendo aqui? Que bom te
ver, o que tu precisares o que tu precisares de mim eu estou aqui”, ele era cliente.
Estou eu caminhando, o funcionário que estava limpando o bueiro, sem mentira, me
viu e perguntou “tu está aqui?”, e era cliente. Sim. Que lugar que tem o privilégio de
dizer que atende a o lugar mais alto de uma instituição até o mais baixo. E aqui dentro
eles são iguais. Aqui dentro um não sabe que o outro é diretor. Tampouco que o outro
limpa o bueiro, provavelmente eles ficarão do lado um do outro, nós temos esta
variedade no corte social e econômico, de idade da mesma forma porque como tem
uma noite de karaokê que vem aqui na casa um casal de clientes que esteve aqui no
dia da inauguração na mesma noite cantando em microfones um ao lado do outro vem
a galera de 18 anos. Esses dias tinham umas meninas aqui, numa noite de sexta-feira
que eventualmente uma noite vem pessoal mais novo e elas disseram, “imagina
quando a gente tiver 25”, eu me engasguei, né? Porque pra elas ter 25 anos, elas vão
129
ser velhas, e perguntei “quantos anos vocês tem? Vinte”. Meu Deus do céu. Elas tem
vinte anos. Então nós temos a o privilégio, porque isso é um privilégio para nós, e
atendemos na mesma noite pessoas com 18, há pessoas de 18. Isso é fato.
Entrevistador: Casais, amigos, grupos familiares?
E1: Grupos familiares, vem o turista, vem aquele turismo empresarial, que veio
trabalhar no dia semana em Porto Alegre e quer lugar gastronômico, quer um bar,
quer experiência e vem aqui. Tem um filho que está sendo trazido pelos pais porque
o filho está se descobrindo gay, agora pais trazem para um lugar que querem
apresentar o filho que “ó quem sabe esse lugar você venha a gostar”, nós temos vários
recortes, algumas noites mais mulheres, outras noites mais homens, então nós temos
vários recortes conforme geração.
Entrevistador: Um pouco sobre a localização, vocês estão localizados na
Cidade Baixa, porque Cidade Baixa é um referencial de diversidade e de estar perto
de outros lugares que tem esse mesmo pensamento.
E1: A gente brinca quando Venezianos veio pra cá, tudo aqui era mato ah o
único lugar que estava aberto a época era o Opinião. Hoje tu andas na Travessa dos
Venezianos e andas na Joaquim Nabuco, tem N lugares abertos. O que pra nós é
incrível, quanto mais lugares, mais as pessoas se sentem seguras. Mas de fato, repito,
quando o foi fundado aqui, tudo era mato, não havia mais nada. Passava-se aqui era
um deserto. E quando tu falavas isso, ainda acontece, quando o pessoal vai para a
República, por exemplo, que que eles dizem? Vamos para a CB. E quando eles vem
para cá, o que que eles dizem? Vamos para o Venezianos. Aí eu brinco, mas o
veneziano está na Cidade Baixa, gente. Mas eles me explicam que são coisas
diferentes uma coisa é a CB outra coisa é o Venezianos, mas já virou um
entendimento que o virou um mundo a parte disso tudo, acabou virando referência. O
que nos honra, sem dúvida, nos honra, mas são características que o público vai
adotando. Uma coisa é a CB, outra coisa é o Venezianos. Mesmo que nós estejamos
no coração da Cidade Baixa e mesmo que nós estejamos aqui há mais tempo. Mas
virou uma referência, né?
Entrevistador: Vou voltar um pouco naquele ponto que a gente falou antes,
sobre o acolhimento e sobre a questão de marcado, como um estabelecimento LGBT
friendly, qual a importância disso pra vocês e como é seu o entendimento como
gestora do acolhimento ao cliente?
E1: Está bem, o que que tu precisa saber?
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Entrevistador: Nos estávamos conversando antes sobre a questão de ser
marcado como a LGBT, um espaço amigável e a questão do acolhimento como que
você vê, essa percepção, entendimento sobre essa marca.
E1: Importantíssima, e só nos causa honraria, por quê? Porque o público
LGBTQIA mais é um público muito exigente, de fato. Quando falamos de um negócio
de 20 anos, há vinte anos eu poderia ter poucas possibilidades de ser bem recebida
como lésbica em um estabelecimento. Poderia ter poucas. Hoje, felizmente, eu tenho
muitas. E por que que o público ainda volta aqui? Tu estás vendo, as mesas todas
cheias. Por que que depois de 23 as pessoas ainda voltam aqui, ainda tem tantos,
felizmente, tem tantos outros espaços que nos acolhem bem. Porque o público
entende a casa como uma referência, porque entende a casa como patrimônio cultural
de Porto Alegre e porque a casa também sempre buscou prestar o melhor serviço. O
público nunca nos abandonou. Nem nos piores anos de pandemia. Nunca. Mas
também o público entende que nós nunca viramos as costas pra quem nós éramos.
A Veja quando nos dava o prêmio de melhor panqueca, melhor filé, não queria nos
rotular. Não quero dizer que o espaço era LGBT, por exemplo, eu dizia “por favor,
diga” porque eu não quero que o meu público fique constrangido se alguém olhar no
guia disser “Bah, eu vou lá naquela casa porque tem um filé incrível” depois chegava
aqui e via dois homens se beijando e não achava admissível isso acontecer, eu prefiro
manter o meu público seguro a expandir de outra forma. As pessoas que vem aqui,
elas precisam saber que o amor e a demonstração de carinho tem e será respeitada.
A questão da segurança é muito importante. Muito importante, as pessoas precisam
se sentir seguras, eu estarei aqui, eu serei bem atendido, eu serei bem recepcionado,
eu terei a boa bebida, eu terei uma boa comida e não estarei em perigo.
Entrevistador: Partindo para uma outra parte, que é sobre a questão mais física
e ambiental, de cardápio, se tem alguma influência dessa marca de espaço
LGBTQIA+, na composição do venezianos, se tem alguma influência na decoração,
se tem alguma influência, no cardápio de vocês.
E1: Brincávamos inclusive que até pouco tempo nós não tínhamos nenhuma
bandeira na casa, não por falta de militância, muito pelo contrário, porque a nossa
militância é diária, mas por que nem percebíamos que o símbolo precisava dessa
relevância aqui, porque para nós é um exercício natural. Não fazia falta um símbolo.
Um símbolo porque as pessoas já entendem a quando tu olhas a casa pessoal passa
aqui de tarde por exemplo. Nós estamos aqui fazendo faxina. Alguém bate na porta.
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Que que houve gente? A casa não está aberta ainda. Não, nós queremos porque tem
um amigo que é do Recife e ele queria conhecer, porque a casa é referência. É
referência pra eles. Eu disse, nossa, isso pra nós é incrível e nós não temos nem
identidade visual. Não tínhamos até pouco tempo, que assim nos representasse. Até
que teve uma turma grande de uma cidade do interior que chegou aqui, entraram
numa festa, um grupo de trinta pessoas e eles disseram “Moça, tem dois homens se
beijando”. Eu disse assim “e a senhora permite isso nessa casa?” Eu digo “olha, o que
não permito é que vocês causem constrangimento a eles porque isso é
discriminatório”, “mas a gente não sabia que era uma casa gay”. Bom, naquele
momento eu brinquei. Vocês não precisam saber pra respeitar o outro, mas eu vou ter
que colocar algumas referências aqui. Aí eu coloquei a uma na fechada com as nossas
seis cores. Coloquei algumas referências, mas elas nunca foram necessárias à nossa
identidade.
Entrevistador: Sobre a gestão de equipe, vocês tem alguma preocupação de
promover a diversidade na equipe e treinamento pra equipe entender...
E1: Há muito tempo então nós não temos pessoas novas na equipe com essa
demanda, mas quando acontece isso já é feito na triagem, né? Um tipo de pessoa, o
tipo de entendimento, tipo de respeito em relação ao outro. Quem respeita o outro vai
respeitar qualquer...
Entrevistador: Quantas pessoas tem a equipe atualmente?
E1: Hoje temos oito pessoas.
Entrevistador: Em pesquisa prévia sobre a história do espaço, eu vi que vocês
promovem muito eventos, festas com pessoas trans, como a principal artista é a
Valéria Barcellos, participam da promoção da parada, com arrecadação de fundos.
Qual a qual a importância desse tipo de apoio foram, não só da festa e de chamar
artistas da comunidade, mas também de iniciativas que são fora, que são extra ao
ambiente aqui do estabelecimento.
E1: A Parada é um lastro muito importante pra nossa comunidade, porque a
Parada antes de qualquer coisa é um movimento político. Nós precisamos nos
posicionar, defender avanços que nós temos hoje e que as novas gerações sequer
perceberam, como a possibilidade de andar de mãos dadas, de tomar um café como
eu citei, de jantar num restaurante, foram protegidos e foram guindados graças a
movimentos como a Parada, que protegiam a comunidade, mostravam que nós
existimos e que nós somos muitos. Então, enquanto instituição, o venezianos faz
132
questão de apoiar a Parada sempre. Se tu olhares, isso é tarefa de gincana, quem
tem um adesivo da Parada de 2001 grudado na geladeira? Nós temos, por quê?
Desde então, desde a fundação da casa, o veneziano tem esse braço com a parada
e com as ONGs que a promovem.
Entrevistador: Sobre políticas públicas e privadas, como de associações de
bares e restaurantes, como eu disse durante a pesquisa a gente percebeu muito
pouco material de divulgação e também de material de educação mesmo, em relação
a treinamento de funcionários, como você a importância disso para promoção da
igualdade e diversidade?
E1: Ah... fundamental. Porém nós não podemos colocar como gestora de uma
instituição privada de bom atendimento, de acolhimento, nas costas do gestor público.
Eu não preciso ser educada pelo gestor público a como bem atender, o meu cliente
premissa feita, passemos ao segundo ponto, e se eu não sou, a política pública é
importante? É, e o como a política pública poderia alterar o caminho desse rio?
Oferecendo cursos de bom atendimento, como vocês vão receber o público
LGBTQIA+ dentro dos seus estabelecimentos, é possível fazer? É possível. Seria
importante? Seria, mas volto a dizer o gestor da instituição privada, não pode se eximir
de bem atender o seu cliente porque não tem este treinamento. Se o cerne da minha
empresa é atender bem o cliente, o cliente é lato senso, eu atenderei bem qualquer.
E o que eu volto a dizer, a gente não pode ter o discurso vazio. Isso tem que ser da
prática, não, é isso que eu me preocupo muito com os selos. Porque às vezes quem
busca o selo quer bem atender, mas não tem um link. E como é que eu faço pra ter
esse público na minha casa? Isso é identidade. E não vai ser identidade visual. É
muito fácil eu colocar hoje uma bandeira e dizer, eu sou amigável, é muito fácil. Aí,
vem a pessoa que vai me atender, eu tô vestida de vestido, de salto alto, cabelo, peço
a carteira de identidade, vou colocar lá José Romeu, não né? Com é que tu queres
ser atendida? E lembra que eu te disse? Sem a equipe não existe uma casa. A eu
posso ser gay e aí meus amigos vão frequentar a casa. Se eu não tiver uma equipe
que espelho que eu penso, isso não vai adiantar nada. Absolutamente nada. A equipe
tem que espelhar o que? A casa tem o cerne e o cerne é, lembra aquela frase? “Dar
dignidade a nossa população, nosso público LGBTQIA+, nos atos mais cotidianos”.
Aquilo que um hétero acha banal pra nós é uma vitória. Imagina se eu sou um homem
barbudinho e estou aqui querendo um crush contigo tu vai estar bem, se eu levantar
e te beijar, tu vai tá te sentindo seguro, tu não vai estar com medo. E tu vai ser bem
133
atendido igual? Inclusive ainda vou brincar contigo. E uma vez tu te lembra que teve
uma novela que o final da novela era o capítulo, será que dois homens vão se beijar
ou não? Eu lembro que eu escrevi um texto para UFRGS sobre isso, eu disse” pra
nós não causa impacto nenhum porque não existe nada mais banal, felizmente, pra
nós que dois homens se beijando”. Ah então vocês vivem numa bolha, não é uma
bolha, não é uma bolha, a nossa vantagem é que nós já subimos esse degrau. Temos
muitos outros ainda a subir, muitos outros, mas este nós já passamos.
134
APÊNDICE D - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 2
Entrevistador: Bom, eu vou te encaminhar novamente o termo de
consentimento livre esclarecido da entrevista, tá? Então, se você quiser pedir pra
parar de gravar, ou se sentir desconfortável, não quiser responder qualquer um dos
questionamentos é só me avisar, certo?
E2: Aham.
Entrevistador: Bom, eu sou formado em gastronomia, eu fui aluno do Yudi na
UFCSPA e iniciei minha pesquisa de mestrado em Hospitalidade na Anhembi
Morumbi de São Paulo. O tema da minha pesquisa são os espaços gastronômicos
amigáveis à comunidade LGBTQA+ em Porto Alegre, o olhar do gestor desses
espaços sobre a questão de diversidade, então te agradeço muito a disponibilidade e
vou iniciar perguntando sobre um pouco da história do Justo.
E2: Tá, vou tentar resumir porque essa história é meio longa, tá, mas sim, eu
comecei na história da gastronomia fazendo um canal no YouTube que se
chamava Guia de Sobrevivência Gastronômica tá? Eu visitava restaurantes, feira
de comida, feira de comida de rua, coisas assim e jogava no no YouTube. É um canal
com bastante público e tal, assim deve ter uns dezessete mil inscrito lá. Alguma coisa
assim. E aí nessas feiras eu conheci o Yudi. E aí a gente fez bastante parceria, fez
um monte de coisa junto. E em 2016 eu participei de um reality na TV e em seguida,
coisas da vida, quando eu voltei de São Paulo, o Yuji me me chamou pra que ele tinha
uma ideia de desenvolver produtos pra indústria e tal, e a gente foi fazer uma reunião
sobre isso, e aí o Yudi me perguntou se não ia fazer nada na gastronomia, né? Se eu
não ia abrir um negócio, e aí eu falei pra ele, ah eu tenho umas ideias assim de fazer
um lugar que seja vinte e quatro horas e tenha um cardápio meio maluco, tal, que seja
muita coisa ao mesmo tempo. era uma ideia um pouco diferente do que é o justo hoje,
mas muita coisa nasceu dessa ideia, e ele falou assim, tá, eu tô com os equipamentos
meio parados e tal. Ãh, vamos tocar sobre a ideia aí. E aí eu nem estava preparado
assim. Pô, eu estava só com uma ideia na cabeça assim, né? Eu não tinha ideia
mesmo, assim, de montar um negócio. E aí eu cheguei em casa e ele começou a olhar
uns imóveis e aí achou aquele ali do viaduto e me mandou, quando eu cheguei em
casa estava o e-mail dele lá com as ideias de móveis e tal. Aí a gente foi no outro dia
lá ver, ele pegou a chave, a gente foi no outro dia olhou e começou a imaginar tudo
aquilo que a gente tinha falado naquela reunião assim, pra fazer uma cozinha aberta
135
aqui, dá pra ter um salão com sofá, dá pra fazer palestra lá em cima, né? E aí a gente
começou a pensar em como viabilizar, sabe? Acho que uma semana depois a gente
já estava com o aluguel fechado. E aí a gente começou a ver se a gente ia chamar
um investidor, se a gente mesmo ia tocar e tal, e aí a gente decidiu fazer na guerrilha
assim, sabe, levar os móveis de casa, geladeira velha e montando o negócio, e aí
meio que assim ah a gente tinha uma coisa na cabeça, assim, que era entender a
região e entender o que que aquela região ia querer consumir, sabe? Porque a gente
vê assim muito negócio de gastronomia abrir e fechar rapidinho porque eh é mais
assim uma coisa de tendência né? Ou mais aquilo que o dono do negócio quer fazer.
Ah eu quero mostrar a minha e aí ele procura um imóvel num lugar bacana e num sei
lá, será que a gastronomia dele encaixa? Aquela galera que você colocou ali, né?
Será que o ticket médio ele quer botar ali, cabe no bolso daquela galera, né E é outra
coisa que a gente vê bastante é isso assim, né? Abre um lugar com uma proposta
super diferente, os primeiros meses vai todo mundo lá experimentar porque é super
diferente né? Mas depois não tem ninguém A maioria das pessoas não tem grana pra
bancar aquilo ali toda semana. Então a gente começou a pensar nisso aí assim, né?
Quem que é o público que anda aqui? Né? Quanto que ele pode pagar pra ele vir aqui
uma, duas vezes por semana? Sabe? Como é que tem que ser o produto pra ele botar
esse produto no dia a dia dele, e deixar de comprar a pizza congelada no Zaffari,
sabe? Então a gente começou a pensar essas coisas assim e aí meio que a
arquitetura do lugar, a região é um lugar que foi o nosso briefing pra pensar no
negócio, sabe? Então a gente nunca fez um modelo de negócio, aquele modelo
clássico assim, sabe? E a gente fez ah bastante planilha assim de viabilidade, né?
Pensando que ah coisa que a gente tem que vender, né? Pra eu descobrir também
ah questão do caixa e tudo mais, mas foi assim foi uma ideia que foi nos tomando e a
gente foi vendo como é que solucionava ela sabe? O começo foi isso aí, resumindo
bastante.
Entrevistador: A partir disso eu vou pegar alguns pontos. O primeiro é a questão
da localização porque a localização, a escolha do lugar pelo que você falou influenciou
bastante na organização do negócio e também influencia no público que frequenta
o Justo atualmente. Vocês sempre pensaram nessa região de Porto Alegre ali, sendo
que vocês têm uma conexão muito grande com o Centro Histórico? Fizeram a
campanha de valorização do Centro e tal, sempre foi pensado essa região?
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E2: Sim, é que quando aquela minha ideia lá inicial, eu e minha esposa na real
a gente estava um dia num café e tal e era algum lugar aqui no centro, que era um
casarão antigo, mas era um lugar que estava meio atiradão assim sabe? Serviço ruim
e tal, mas a arquitetura do lugar era muito tri. E aí a nossa ideia inicial assim era tipo,
arrumar um casarão antigo, daqueles de três andares que sabe? A gente moraria no
último andar, no meio a gente teria a minha empresa e no andar de baixo seria um
café, e meio que ia ser a cozinha da nossa casa, assim, sabe? E a gente ia estar
aberto vinte e quatro horas por dia, ia ter mais alguns funcionários trabalhando lá,
atendendo, mas tipo assim a gente ia se falar “ah vamos jantar a massa hoje” e aí,
ao invés de fazer massa pra gente, a gente ia fazer massa pra todo mundo, sabe? Ia
ter uma mesa, uma cozinha mesmo, você está cozinhando na mesa, as pessoas estão
na volta estão pegando a comida, sabe? E aí a ideia era funcionar vinte e quatro horas
e aí o Yudi perguntou onde, e se, fica legal é um lugar vinte e quatro horas, cara o
único lugar que eu sei que sempre tem gente andando na rua o tempo inteiro no centro
né? Porque toda hora que a gente pegando o bus de pra lá e pra cá, pessoal que
trabalha nos lugares, sabe? É um lugar é dali pro resto da cidade né? O resto da
cidade pra ali né? E aí a gente olhou esses imóveis no Centro né e aí e assim, ah o
acho que só o Ricardo não morava ali, a gente começou com seis sócios né? E quase
todos moravam no centro na época, então era fazia bastante sentido assim e a gente
queria fazer um lugar cultural, um lugar, né? Com essa com essa pegada da cultura
e tal, política, artística e tal e né? Só podia ser no centro.
Entrevistador: Qual o tamanho da equipe hoje de vocês?
E2: A gente, sócios, a gente está em quatro tá? E a gente deve estar de carteira,
acho que oito funcionários. Aí final de semana dá uma correria e a gente chama isso
ali mano.
Entrevistador: Qual é o público de vocês? como você caracterizaria hoje o
público do Justo?
E2: Cara, quando lá quando a gente abriu lá, assim, a gente já imaginou o que
que ia ser o público que ia colar ali depois que a gente se mostrasse, né? Mas eu
imagino assim, então um público assim majoritariamente jovem, não muito jovem
assim, mas uma galera mais parque universitário, e tipo assim classe média, aquela
classe média que varia assim dos mais fodido até os mais estável de grana e tal assim
né? Mas a gente sempre tentou desenhar um lugar assim, que qualquer pessoa se
sentisse bem assim, sabe? Né? Qualquer pessoa, né? O cara até hoje assim, depois
137
da pandemia, a gente não conseguiu voltar bem com o nosso cardápio antigo, mas a
gente falava assim, tipo, ah! Tem que ter sempre alguma coisa quem está com dez
pila no bolso conseguir entrar, né? Aí a gente tinha lá o pão com ovo que era seis pila.
Então se o cara pedisse um pão com ovo seis pila ali, um refri e bah! Quinze pila ele
jantava assim, sabe? E era um senhor pão com ovo assim, era um baita de pãozao,
manteiga, né? Era bem legal. Então a gente, e acontecia muito isso assim, né? Que
o Diego tinha uma galera que chegava assim que pra conhecer que não tinha muita
grana, pediu pra algum ovo, refri tinha água da bica também, você sabe? Então a ideia
era que fosse bem acessível pra geral assim. Mas a gente sempre soube o que, né?
Que coisa de bebida sempre acaba trazendo uma galera que tem um pouquinho de
poder aquisitivo maior assim. Geralmente essa galera mais universitária assim.
Entrevistador: E aí eu vou entrar partindo disso da conexão com o público
LGBTQIA+ assim. Como vocês veem isso e a importância disso para o Justo.
E2: Eu acho que o negócio do público LGBTQIA+ não é só, ãh... só essa
questão assim. A gente começou, a gente já tinha dois sócios que são um casal. Dois
caras que é o Tom e o Marcelo. E o Marcelo no primeiro dia que, ele chegou lá, ele já
pendurou uma bandeira LGBT lá na janela, assim sabe? Ele tinha em casa, a gente
estava decorando, ele botou uma bandeira lá na frente, assim sabe? Então, tipo, não,
a gente nunca precisou ter essa discussão, entendeu? Porque pra gente, não estou
nem aí, será que cara né, é o dono do negócio como que não vai poder botar a
bandeira dele né? E eu acho que isso aí já, né, na frente do negócio, já diz muito
assim, né, mas a gente sempre teve assim uma questão de levantar a causa política
mesmo, né? Ah como a gente estava ali no Viaduto, no Centro né? Lugar assim, né,
tipo, pertinho da Esquina Democrática, a própria Borges, ali onde passa todos os
movimentos sociais de esquerda, passou tudo ali, né, ah... logo no começo, sim, nos
primeiros meses que a gente abriu, o pessoal de partido ia fazer lançamento de
campanha, já começou a marcar coisa lá, sabe? E aí a gente fazia questão, “não,
pode nos colocar de apoiador lá, que vai aparecer na nossa rede e tal”. E aí a gente
só foi chamando essa galera assim, né? Que a gente acredita ser mais politizada
assim, né? E aí é óbvio, né? Uma galera mais politizada, a gente sabe que que vai
estar mais aderida às causas de gênero, né? E aí, no primeiro ano, a gente estava
mais assim sediando esses eventos né? E no segundo ano, a gente começou a propor
eventos assim, né? Aí a gente montou primeiro um projeto que era o Papo Justo que
era pra trazer, não, era a gente que organizava, a gente contratou uma menina para
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organizar, e ela trazia só... Ah está rolando agora de novo tá? Mas é só mulher, cis ou
trans, falando sobre o tema que ela estiver afim, né? Então já é um é um evento criado
pela gente, patrocinado pela gente, e que promove uma sempre uma discussão de
gênero. Nas primeiras edições lá a gente teve a Valéria Barcellos e a Atena Roveda,
sabe? Tipo duas meninas trans assim, indicaram assim logo no começo sabe? Então
isso aí também já deixa bem claro assim, até pro público das meninas assim, né? Que
é um lugar que está acolhendo. A gente sempre contratou galera LGBT, assim, né?
Foi raro o tempo que a gente não teve pessoas trans trabalhando lá. Sabe? A gente
teve menino trans, menina trans né? Hoje a nossa chefe de cozinha, uma menina
trans, tá? Teve uma menina trans nos drinks, fez um menino trans nos drinks também.
E é um negócio assim que não é ah não é tipo “ai o que eles estão fazendo”, né? A
gente não quer não quer isso assim, mas a gente sabe que tem muito lugar que não
vai ter coragem de botar uma pessoa trans ali na linha de frente, chefiando a cozinha,
que tem medo de que o cliente vai ter preconceito, sabe? E a gente acha que dá, acho
que até o nosso público vai achar do caralho que tem gente trans trabalhando ali sabe.
Então é mais nessa vibe. E aí, várias coisas, né cara? Tipo assim a gente reparou
uma época assim que o nosso público era muito branco. Por exemplo, sabe? E aí
a gente pensou o que que a gente pode fazer pra mudar isso, ne? A gente fez um
outro projeto lá que era o sessão Justo que era de shows, e aí a gente chamou uma
galera na parceria pra fazer uma curadoria de bandas pra tocarem lá, e a gente não
deixou assim mega explícito, a gente falou lá que a gente queria projetos musicais
que tivessem alguma temática do social né? E aí a gente só brifou a curadoria para
trazer diversidade, né? Ãh cara tem que ser um som bom e tal, mas a gente quer
assim que tenha mais projeto de mulher, projeto de galera LGBT, de galera negra,
né? E aí a gente selecionou pra fazer os seis primeiros meses, ah foi assim ó, o
primeiro show foi Afroentes, que é um trio, eles fazem ãh... o show deles é todo música
autoral, foi com base em pesquisa de tudo quanto é ritmo negro que tiver, e aí eles
fazem tipo um saladão assim, é muito massa, muito, muito, muito profi, aí teve Dona
Conceição, que é um cara lá de Alvorada negro também, aí teve o CC Pássaro que é
toda a composição dele é focado na temática de gênero, na vida do cara gay, assim
né? Ãhn... foi interrompido pela pandemia e está voltando agora, vai ter a Viridiana,
que é uma menina trans, deixa eu ver, está faltando um, putz, que é o Nado entre
gigantes, que é um cara com nanismo, então, tipo assim, bah, né? Ãh... Vamos trazer
tudo quanto é diversidade que a gente puder pra cá assim, né? Pra deixar o lugar
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mais diverso mesmo, e cara, isso aí foi muito pica, quando começou a rolar esse show
assim da galera negra, o nosso público começou a ficar mais negro, sabe? Porque
talvez tivesse alguma barreira ali, né? A pessoa passa na frente ali e vê, “tá, um lugar
político, LGBT”, né? Mas como é que é, né? Tu passa ali tem um monte de gente
branca assim. E aí a gente pensou lá alguma coisa está errada. A gente tem que
comunicar de um jeito diferente.
Entrevistador: E existe alguma preocupação no treinamento da equipe em
relação ao atendimento à essa diversidade de pessoas, ou é algo que é natural?
E2: Cara, na seleção já. Então ah a gente teve uma época que a gente teve
problema com isso, inclusive, assim né, de contratar só a gente assim pensando na
parte gastronômica e ter problema assim mesmo, de ter gente preconceituosa mesmo.
E aí a gente fez ali, em 2018 e 2019, a gente criou um processo de seleção nosso, ah
pra filtrar assim, sabe? Então tipo, era uma época assim, bem assim, que a política
estava bem forte em 2019, ali né? E aí, a gente... eu entrava no site do justo pra ver
as vagas e aí tu clicava ali, e abria um questionário para poder enviar teu currículo,
tá? E aí no começo do questionário, ele tinha uma pergunta só. Uma pergunta assim,
que era ah pra você ... os acontecimentos políticos de 1964 foram golpe ou uma
revolução? E aí se o cara respondia que era uma revolução, ele só dizia assim muito
obrigado pela sua participação, ou se o cara dizia que era um golpe, aí abria para
responder as duas perguntas, entendeu? Que ali tu já era ideias né? Porque o cara
que é muito coxa e ele vai dizer que é revolução, né? Não vai querer dizer que era
golpe né? E aí ele a gente já filtrava ali. E aí depois tinha várias perguntas ali pra gente
tentar entender, assim né? A gente perguntava sobre questão de gênero, racismo e
tudo mais pra entender o que que essa pessoa pensava, né? Aí a gente selecionou
uma equipe, cara, a gente estava na época que a gente estava botando todo mundo
novo, né? E aí a gente selecionou uma equipe assim que era muito, assim a, linhada,
tá. Só que aí depois que entrou a pandemia, né? Todo mundo enlouqueceu assim,
deu esse sacode em todo mundo e algumas pessoas dessa galera a gente perdeu e
outras a gente realmente teve que trocar mesmo, sempre teve alguns problemas e tal.
E cara isso aí é um negócio que tu vai ver no mercado todo assim de gastronomia,
está muito difícil de fechar a equipe. Ninguém consegue fechar a equipe porque
mudou a cabeça de todo mundo mudou, né? Mudou o perfil das pessoas que estão
dispostas a trabalhar à noite, dispostas a trabalhar com rango de trabalhar
manualmente, né? Cara, as pessoas estão né? Mudou tudo assim, as pessoas tem
140
outras perspectivas, e tal. E é um negócio geral assim, a gente está tendo um, assim,
que nem a gente nunca teve assim, sabe? De ficar trocando galera o tempo inteiro
assim, sabe? Então está, a gente não conseguiu fechar a equipe pra ter um
treinamento, né? Mas hoje a gente trabalha com uma empresa de recrutamento que
é a Fermenta, e são duas meninas também que fazem seleção e tal, e elas tem por
uma metodologia lá e elas selecionam as pessoas pra gente, e elas já estão brifadas
pra não chamar gente que vai destoar do jeito que a gente pensa, né? E tem que
funcionar, mas mesmo assim a gente encontra as pessoas, né? nesse perfil, mas às
vezes elas acabam não ficando, né? Elas mudam de ideia muito rápido
assim. É esses reflexos né? Depois da pandemia assim acho.
Entrevistador: E questão como tu falou você já tem a bandeira LGBT lá, mas
também tem uma bandeira antirracista, vocês usam as duas bandeiras tanto
antifascista, como a bandeira do movimento LGBT, existe algum outro impacto no
pensamento da ambientação, ou do cardápio pra atender o público LGBT?
E2: Cara, não, assim na real, assim a gente foi bem criticado no começo, tá?
Quando a gente abriu o justo e a gente era seis sócios, assim, sabe? E seis
homens, né, e aí a gente falou, tá mas por que que não tem menina né? E aí tá, gente
eu não tentei ter as respostas assim né? Não tenho resposta, foi chamando as
pessoas que a gente conhecia e, curiosamente, não sei se a gente conhecia na
gastronomia ali, que era nos nossos meios eram todos homens, né? Aí depois a gente
até foi atrás assim, pra rebate já está com seis sócios, mas vamos botar mais gente.
E aí tinha duas meninas que a gente curtia, assim que tinha a ver com a proposta, e
as duas foram morar fora bem na época assim, e aí a gente também, a gente, e aí
todo mundo gente criticou, né? Ah vocês são um dólar super político né? Mas só os
caras aí e tal, né? Não sei pra dar uma olhada né? Dá uma olhada. E aí a gente, né?
Na hora lá, a gente precisa dar uma corrigida nisso, né? E foi aí que a gente começou
a pensar nessas estratégias assim, né? Mas quando a gente pensou nessa parte
visual ali, a gente só pensou assim em ser um lugar despojado, assim né? Um lugar
pras pessoas se sentirem à vontade, né? A gente não chegou a pensar nessa coisa
LGBT assim de cara sabe, mas teve um negócio que rolou eu acho que foi 2018 ainda,
que rolou um projeto do SEBRAE com o Governo Federal, de turismo, e a gente
recebeu uma consultoria do SEBRAE. E aí muitos isso, uma galera de turismo mesmo,
e a mulher lá que fez a consultoria foi perguntar, mas esmiuçou assim toda a história
do justo e a gente estava tentando descobrir qual que era o nosso produto pra turismo.
141
E cara, os outros bares que ela foi e descobriu que esses lugares aqui o produto
turístico é o sanduíche de linguiça e tal, isso aqui é a bebida, a cachaça do produtor
rural lá, e o nosso produto ela disse que era ser um lugar friendly para o público LGBT,
né? Ah, o público LGBT que estiver viajando, ele não conhece lugar, ele quer saber
aonde que ele vai se sentir seguro. E aí, esse é o produto de vocês. O cara saber que
ele vai vir pra cá, ele vai estar seguro, não vai ser tratado com preconceito e tal, né?
E foi um negócio que ela identificou. Assim, que também não é um negócio que estava
no nosso planejamento assim, sabe, identificou que era um processo natural assim.
Até muito engraçado, uma época saiu uma matéria falando assim “Bares LGBT de
Porto Alegre” e tal, e a gente saiu lá nessa lista assim né? E assim, pra gente soa
muito ridículo assim sabe, como assim bar LGBT? Que lugar que não é LGBT,
sabe? É como é que né? Como é que a gente vai se separar assim ah esse lugar aqui
não é LGBT. Como assim, né? Como é que um lugar não vai ser LGBT, né? Como é
que o lugar não vai ser né? Imagina, se estivesse falando assim, ah bares pra negros,
né? Só ridículo, né? Assim, né? E aí, porque pra gente não, é um negócio natural,
assim né?
Entrevistador: Sei, sim. A gente já está terminando o nosso tempo, se tem algo
mais alguma outra coisa que você considera importante para acrescentar. Vocês
chegaram a apoiar a parada, né? Aquelas ações para arrecadar fundos.
E2: É, a gente sempre apoiou a Parada, várias coisas, a galera já sabe e cola
assim, né? A galera da Parada eles mesmo vieram atrás da gente né? Ah não sei,
cara não sei. Tem uma história boa assim, que é que teve um post que fizeram um
tempo atrás, agora que bombou loucamente lá nos nossos compartilhamentos lá, foi
uma avaliação que fizeram no Google, e aí a mulher botou assim ah lugar GLS cheio
de... assim, ah o público GLS fica se beijando no lugar, nojento e tal, não sei o que,
alguma coisa assim, né? E aí eu comentei xingando assim lá na Google, e eu fiz uma
postagem assim, falando assim: ah olha o motivo do porque um lugar progressivo
nunca vai ter uma nota cinco nas avaliações, porque o único jeito de ter uma nota
cinco é tu passar pano pra essa gente entendeu? É tu ir lá e ah... desculpa, não sei o
que, inventar uma desculpa pra ela mudar a avaliação dela, né? Então, a gente definiu
assim que a gente não quer ter nota cinco. E se tu agradar todo mundo, tu vai ter que
agradar esse tipo de gente assim. E aí o post viralizou. É um negócio louco, mas acho
que é isso, cara.
142
Entrevistador: Bom, sem palavras, muito obrigado pela disponibilidade de
tempo e por participar da pesquisa.
143
APÊNDICE E - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 3
Entrevistador: Oi, boa tarde! Vou começar me apresentando então, meu nome
é Filipe, sou formado em Gastronomia na UFSCSPA e estou finalizando minha
pesquisa de mestrado em Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi de São
Paulo. Eu estou conversando com gestores de espaços considerados amigáveis à
comunidade LGBTQIA+ aqui em Porto Alegre sobre hospitalidade, gestão do
empreendimento e a visão desse cenário em Porto Alegre. Como consta do termo de
consentimento que eu te enviei, se qualquer momento sentir desconfortável, não
quiser responder e quiser encerrar a entrevista é só me avisar. Nessa parte da
pesquisa eu não vou identificar o gestor que está falando comigo e nem de que lugar
ele fala. Ok?
E3:Tudo ok.
Entrevistador: Vou te pedir pra contar um pouco sobre a história do café, como
começou.
E3: Então, nós éramos três sócios, né? Eu, o João e a Priscila, nós três amigos
de longa data, todos LGBTs, e a gente viu essa necessidade, de algo mais diurno
também pra comunidade LGBT, né? E a gente escolheu o café, é um ramo que o
João, que veio da Austrália, já tinha algum contato e escolhemos o brownie, que é o
nosso produto principal do café, eu tenho experiência na área área comercial, a
Priscila também e também de arte, que ela trabalha com música, e aí a gente escolheu
montar esse negócio para trazer para a comunidade essa visibilidade, de levantar
mesmo a bandeira LGBT, pra se tornar cada vez mais natural esses espaços e a
convivência entre os humanos, entendeu? Entre todos, somos iguais independente
de sexo ou gênero, a gente, todo mundo é igual, então a gente queria um espaço onde
a gente acolhesse todos, né? Hoje a gente usa essa nomenclatura pra ter esse
acolhimento e está tá acontecendo.
Entrevistador: Quando que vocês abriram?
E3: A gente abriu no final de 2019, no início da pandemia mesmo, um
pouquinho antes. E graças a deus, a gente conseguiu sobreviver a pandemia com
muito esforço, muita ajuda dos nossos clientes aqui, que até então eram bem poucos.
a gente escolheu que a região central por ter uma, eu acho que o início da nossa
visibilidade, acho que foi um bom local, aqui se concentra muitas pessoas com uma
cultura diversa, entendeu? Apesar de ser um bairro também de pessoas mais idosas,
144
tem muita gente jovem, muito estudante, muita gente de fora, com a mente aberta, e
que pra proliferar essa nossa ideia, sabe?
Entrevistador: E o perfil de cliente de vocês, como você define?
E3: É diverso. É diverso, a gente atende todo o público, é totalmente um lugar
inclusivo, para todas as pessoas, entendeu? Sem nenhuma discriminação, sem
nenhum preconceito. Então essa é a ideia, assim.
Entrevistador: E como é para vocês a questão estar perto de outros espaços
amigáveis, de ter algum outro espaço aqui perto na região central, tem outros espaços
também no Bom fim e na Cidade Baixa.
E3: Eu acho que a gente precisa se se comunicar um pouco mais, entendeu?
Eu acho que até essa ideia do teu trabalho também de trazer isso, né? A gente acaba
tendo, cada um fazendo as coisas do seu local, alguns a gente conhece do
Venezianos, do Workroom, da Fênix, mas enfim, acho que acho extremamente
importante ter, não só essa inclusão da comunidade LGBT, mas também como um
todo, né? De receber todas as pessoas, essa mistura, essa diversidade dentro de um
espaço, ela traz uma força, ela traz culturas diferentes, ela traz opiniões diversas.
Entrevistador: E, como gestor e como pessoa LGBT, quais as principais
características para considerar um espaço como amigável à comunidade? O que
considera essencial em um espaço para ser considerado assim?
E3: A primeira coisa, como na parte comercial, onde eu trabalho bastante, que
é o meu forte, é a questão do atendimento né? Eu acho que quando você tem uma
primeira impressão de lugar, onde você é bem atendido, independente da bandeira
que ele levanta, isso já vai te trazer um acolhimento, o segundo passo é trazer links
que deixam a pessoa confortável né? Links eu digo na parte de decoração, trazer
coisas que a pessoa se identifique, né? Com alguns acessórios, alguma coisa que
traz a ideia do local.
Entrevistador: Vocês trabalham bastante com a simbologia, qual a importância
disso para o espaço?
E3: Bastante com a simbologia. Bastante. É bem importante porque a gente
precisa fazer, a gente precisa trazer isso, e ser cada vez mais natural. E as pessoas
conhecerem também, as pessoas passarem aqui na frente “nosso arco-íris” o que
que é o arco-íris que traz o orgulho, então tipo é bacana uma criança ver, além de ser
colorido e chamar atenção, existe um significado por trás.
145
Entrevistador: E enfrentaram algum tipo de problema ou de uma situação de
preconceito?
E3: Olha, Graças a Deus, a gente tem muita sorte. Eu acho que tudo parte
também da gente, entendeu? Como a gente se posiciona no mercado, como a gente
se posiciona perante as pessoas. Graças a Deus a gente não teve nenhum episódio,
onde algum cliente ou algum funcionário, que tivesse algo constrangedor, algo até
porque a gente traz essa diversidade ali dentro e deixa bem claro que nosso espaço
é o espaço de amor, entendeu? Então acho que pelo atendimento, pelo o que o
espaço traz, eu acho que as pessoas se identificam e sabem que é um lugar onde a
gente passar coisas boas, amor.
Entrevistador: Então, a simbologia pode servir como uma barreira pra pessoas.
E3: Eu tenho certeza que que serve, e com certeza eu acho que isso já faz, a
gente tem o pessoal da academia de Muay Thai, a gente tem os idosos, que passam
por aqui, são clientes, então, e a gente também além do espaço, além dessa parte da
simbologia, a gente também traz um produto muito bacana, que é um produto é pra
todo tipo de classe social, é pra toda sexualidade, todo gênero.
Entrevistador: A marca, ter com foco na comunidade LGBT também teve um
impacto na criação do cardápio, do produto que oferecido, como que tu analisa isso?
E3: Então, a gente traz uma leitura bem clara assim, sabe? A gente quis trazer
algo bem simples na parte da gastronômica ali, das comidas e bebidas. A gente tem
alguns drinques autorais que são nomes que a gente criou que, de orgulho mesmo,
tipo, a gente tem o drink Bem Gay, tem o Energia do Vale. Então, a gente traz um
pouco disso no nosso cardápio, mas também com uma leitura bem simples,
principalmente na linha dos cafés e salgados, coisa assim.
Entrevistador: São quantas pessoas trabalhando na equipe?
E3: Hoje eu tenho são duas pessoas.
Entrevistador: E aí tem a preocupação de promover a diversidade também.
E3: A gente tem uma equipe que a gente procura trazer essa diversidade até
pra apoiar também. A gente sabe das dificuldades que as pessoas tem, que existe às
vezes de encontrar um emprego em um lugar também que se sinta bem, sabe? No
mercado de trabalho. Então, tipo, a gente procura trazer pessoas da comunidade pra
nos ajudar.
146
Entrevistador: Vocês participaram do apoio à Parada e de eventos que são fora
café do espaço de vocês. Como você pensa a importância dessa participação em
eventos de apoio a comunidade, que às vezes não tem nem relação com o seu local?
E3: Assim, é o que a gente quer trazer, é a questão de as pessoas verem,
quando verem a marca Josephs, saber que a gente tem orgulho de ser quem a gente
é. A gente tá utilizando agora “Be You”, ou “seja você”. Então a gente tem orgulho de
ser quem a gente é, sabe? Então acho que esses eventos mostram pra quem
conhece, e também despertam uma curiosidade de quem não conhece, em saber da
nossa marca, e a gente tá aí para se orgulhar, entendeu?
Como gestor, e também como consumidor em outros lugares, como você
observa a questão de atendimento, acolhimento e segurança?
Então é a segurança, ela é bem, eu acho como eu já tinha falado antes, como
a gente usa muito o simbolismo ali dentro, eu acho que afasta esses preconceitos. E
claro a gente trabalha sempre com muito respeito então, quando acontece, se
acontecer, a gente respeita e simplesmente faz com que isso se afaste da gente,
entendeu? É também a localização que a gente escolheu aqui, tem muitas pessoas
do bem, eu acho que a gente foi muito sortudo, sabe? E eu acho que é que fica um
pouco difícil saber a fórmula, podia replicar isso pro mundo se a gente soubesse a
fórmula, né? Mas realmente o acolhimento vai das pessoas, eu acho que a gente,
como nós somos, hoje só eu, sou o dono, mas a gente tá ali na frente, não é só uma
empresa, é também muito amor envolvido, é muita dedicação. Então acho que isso é
passado para cada pessoa que entra ali e elas se sentem dessa forma.
Entrevistador: E é desde que você abriu...
E3: Já faz ano quatro anos.
Entrevistador: Como você avalia o incentivo e a divulgação a partir de políticas
públicas ou privadas mesmo, de associação, de turismo, de bares e restaurantes? A
promoção dos ambientes amigáveis em Porto Alegre, como você enxerga a cena em
Porto Alegre?
E3: Não, então a gente tem muita dificuldade nessa parte. a gente teve
recentemente uma reportagem pro Jornal do Comércio falando do orgulho, do mês do
orgulho, né? Eu acho que isso não é só o mês, entendeu? Eu acho que precisa ser
constantemente ressaltado, sabe? é que existem muitas falhas no sistema, que
poderia ser bem, bem melhor, bem mais divulgado. Eu acho que os próprios clientes
que às vezes vem dos lugares aqui em volta, dizem ah eu só fui no Google, fui no
147
Google, fui no Google, sabe? Vocês são bem avaliados, eu fui lá e vi vocês lá, e eu
acho que política pública tá bem difícil, a gente tem algumas amigas que que tenham
uma parte, um pouco mais envolvida com a política, Atena, Natasha, que são amigas
do café, amigas do Joses, minhas amigas particulares. E que estão lutando, sabe? A
gente sabe que é difícil pra nós da minoria e a luta é essa, é tentar chegar cada vez
mais, não só pro mês do orgulho, não só pra datas especiais, sabe? E não só
aproveitar o fazer o ou fazer uma promoção no mês e não ter políticas de promoção
ou diversidade e inclusão na própria empresa as vezes. É bem difícil, que nem é o
próprio no dia dos namorados, e as pessoas são apaixonadas somente no dia dos
namorados, e não é, é dia das mães, é só no dia das mães que você ama, não, é
sempre que você tem que demonstrar, é sempre que você tem que falar, é sempre
você tem que levantar esse orgulho que você tem, entendeu?
Entrevistador: Para encerrar, então, deixo aberto algo para algum pensamento
ou reflexão que você acha relevante ou gostaria de falar.
E3: Eu acho que a gente hoje consegue ter um pequeno espaço dentro da
comunidade e eu, a minha tendência, a minha força e o meu foco é proliferar cada vez
mais o nosso orgulho, a nossa diversidade, muito respeito e amor. Obrigado.
Entrevistador: Nossa, muito obrigado pela sua disponibilidade e participação.
Vou encerrar a gravação.
148
APÊNDICE F - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 4
Entrevistador: Vou começar me apresentando: sou formado em Gastronomia
na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, estou fazendo um
mestrando em hospitalidade na Anhembi Morumbi de São Paulo e estou fazendo uma
pesquisa sobre locais em Porto Alegre que são amigáveis à comunidade LGBTQIA+.
Como eu te enviei o termo de consentimento livre e esclarecido para a pesquisa,
queria lembrar que vou fazer algumas perguntas. Se você não se sentir à vontade ou
quiser parar ou não quiser mais continuar, não há problema; a gente pode parar a
qualquer momento. Além disso, deve-se ter em mente que não me identifico com
você em nenhum momento, nem menciono seu nome ou o nome da empresa. Você
concorda?
E4: Sim, tudo bem.
Entrevistador: Podemos começar então, te agradeço muito a disponibilidade.
Eu gostaria que você iniciasse me contando um pouco a história da empresa, e como
foi toda a questão de organização ali no espaço que ele está.
E4: Então, a história do bar começou acho que já faz uns mais de dois anos,
quando já era um ponto que já estava atendendo esse público LGBT, né? O bar que
estava ali antes, no caso Josefina, já estava fomentando isso, e aí depois veio a
pandemia, teve mudanças ali na estrutura da sociedade, eu entrei. Mudamos de nome
e como um dos sócios continuou, a gente, e eu como LGBT também, optamos por
seguir nessa linha de representar a comunidade, né? De manter esse espaço para o
público LGBT, mas também para todo mundo. Assim, a gente levanta ali a bandeira,
a gente inclusive, o próprio nome do bar, e tudo, mas como um lugar diverso assim,
né? Não é exclusivo para, mas é representando. A gente deu continuidade, a gente
tenta incluir a comunidade, dar oportunidade, né? Pras pessoas, seja de trabalho, de
fazer performance, show, parceiros.
Entrevistador: Você considera importante o ponto que que ele está localizado,
você perto de outros espaços amigáveis para o negócio de vocês?
E4: Ah sim, e não só os outros pontos, estabelecimentos, porque não tem
tantos, né? Mas o próprio bairro em si é um bairro que a gente vê que ele que ele é
bem diverso, né? Ele é mais propensa a receber bem esse tipo de bar e talvez em
outros bairros não seria tão bem-vindo, né?
149
Entrevistador: E vocês atuam na parte do atendimento, ele feito é na calçada,
né?
E4: É na rua, né? Até os próprios shows, né? Quando acontece as
performances acaba acontecendo na rua sim.
Entrevistador: E vocês já tiveram algum tipo de situação, de preconceito ou
algo parecido, por estar ocupando a rua, por estar calçada?
E4: São bem poucos casos isolados, mas tem. Eu consigo me lembrar de uns
três, no decorrer desses últimos dois anos ou mais, de pessoas que às vezes acabam
parando ali sem querer, de estar na noite, na rua bebendo e entra ali e nem sabe onde
está direito, e a gente sente que é tipo uma postura meio preconceituosa, mas foi isso,
teve um cara assim que eu me lembro, depois teve também um morador de rua que
ficava gritando umas frases assim meio homofóbicas quando passava ali na frente. É,
são casos isolados geralmente, de pessoas já meio alteradas também, ou que estão
bebendo ou que são de rua.
Entrevistador: E a questão da decoração, vocês usam bastante os símbolos
LGBTS, né? Essa questão dos símbolos, bandeiras e elementos visuais que liguem a
comunidade LGBT e acaba perpassando até o próprio cardápio, a elaboração dos
drinques e das comidas. Como é a importância disso pra vocês?
E4: Então, essa questão é pra a gente realmente é pra ter uma unidade, então
não é tipo ah só bota a bandeira ali e deu né? Então a gente quis personalizar, enfim,
fazer a temática toda em torno disso. Também tem a questão de as empresas só no
mês de junho, botam lá a bandeira, então a gente um dos nossos slogans ali é que é
“o orgulho o ano inteiro”, então a gente tenta manter mais, a nossa temática digamos
é essa, e daí tudo que a gente faz a gente tenta pensar, né? Como é que a gente
pode fazer pra não ser só mais uma comida, ser só mais um drinque, né? Então além
de ter esse diferencial como negócio, também manter a coerência com aquilo que a
gente faz, né? Com a gente a gente defende, né?
Entrevistador: E você também apoiam a comunidade local, né?
E4: Então, os shows são com artistas de performance de Porto Alegre ou da
região, alguns drinks tem o nome da dessas pessoas, né? São daqui, são
personagens, são drags da região. Claro, começou com a ideia de chamar as drags
pra foi numa época pós-pandemia. Elas estavam um tempão sem trabalhar e a gente
já pensava assim em fazer show na rua, não é uma coisa que se vê, né? Aqui. E então
a gente pensou nisso, ah vamos juntar tudo e oferecer o espaço pra elas fazerem os
150
shows e também fazer uma coisa diferente aqui no bar, e daí também veio a questão
de como fazer isso ser viável, sendo que o nosso lugar é aberto, a gente não tem
como cobrar um couvert, como em um espaço, um lugar fechado. E daí veio essa
ideia de lançar os drinks com o nome delas, para a gente conseguir de alguma
maneira incentivar também o pessoal a comprar o drinque e colaborar com o cache
delas, né?
Entrevistador: E vocês também apoiaram a Parada, fizeram parte da
arrecadação de valores para parada. Essa questão de apoiar a causa social também,
além do bar é importante?
E4: Sim, sim, na parada, eles ajudam assim fornecendo ali o carro de som,
mas todo o resto a gente tem que financiar, se vai ter DJ, se vai ter as placas, os
banners, balões e tudo... E a gente queria muito participar também, para manter essa
coerência, essa representatividade com o bar, né? Se alinhar com aquilo, né? Tentar
estar presente na comunidade e nas causas o máximo que a gente puder. Até a gente
pensou: ah vai ser mais um gasto, a gente não estava tão bem financeiramente, mas
pra nós era muito importante estar lá.
Entrevistador: E você também apoiam a comunidade local,
E4: Os shows são com artistas de performance de Porto Alegre ou da região.
Entrevistador: Alguns drinks leva o nome da dessas pessoas, correto?
E4: Claro, começou com a ideia de chamar as drags pra foi numa época pós-
pandemia. Elas estavam um tempão sem trabalhar e a gente já pensava assim em
fazer show na rua não é uma coisa que se vê aqui. E então a gente pensou nisso ah
vamos juntar tudo oferecer o espaço pra elas fazerem os shows e também, né? Fazer
uma coisa diferente aqui no bar e daí também veio a questão de como fazer isso ser
viável, sendo que o nosso lugar é aberto, a gente não tem como cobrar um converte
sim, né? Num espaço num lugar fechado e daí veio essa ideia de lançar os drinks com
o nome delas pra gente conseguir de alguma maneira incentivar também o pessoal a
comprar o drinque e colaborar com delas, né?
Entrevistador: E vocês também apoiaram a Parada, fizeram parte da
arrecadação de valores, então essa questão de apoiar a causa social também além
do bar é importante para vocês?
E4: Ahh sim, sim, a gente a parada ela ajudam assim fornecendo ali o carro,
mas todo resto a gente tem que financiar né as se vai ter DJ se vai ter as placas os
banners balões e tudo e a gente queria muito participar também pra manter essa
151
coerência, essa representatividade com o bar, né? Se alinhar com aquilo, né? Tentar
estar presente na comunidade na e nas causas o máximo que a gente puder né? Até
a gente pensou ah vai ser mais um gasto a gente não tava tão bem assim, mas pra
nós era muito importante estar lá, continuar representando e dando oportunidade para
a comunidade, por exemplo, no carro a gente chamou várias drags, as mesmas que
já estavam indo ali no bar, que tinham os drinks, era visibilidade pra elas também. A
DJ que tocou também era uma drag queen, que a gente pagou o cachê. Nos juntamos
com o bar ali do lado, que também é um bar LGBT, então foi todo um movimento.
Entrevistador: E pensando como gestor de um espaço com foco na
comunidade LGBTQAI+, mas também como cliente LGBT, o que que você acredita
ser importante pra considerar um espaço amigável à comunidade? No sentido que
elas se sintam acolhidas e seguras.
E4: Eu acho que é todo esse conjunto, né? Da localização, do bairro e do visual
também, pra deixar bem claro que nós estamos ali ocupando aquele espaço pra evitar
que as pessoas tenham comportamentos inadequados, o que mais? Os funcionários,
né? E os colaboradores também que sejam LGBT ou que sejam amigáveis. Que todo
pessoal que trabalha ali esteja alinhado para não cometer preconceitos, enfim.
Entrevistador: Como você vê essa questão de políticas públicas ou políticas
privadas de divulgação e de promoção no cenário de Porto Alegre, no cenário
gastronômico, tanto associações, de bar e restaurante, quanto o incentivo à
qualificação do bar, do restaurante, de pessoal, pra receber e se tornar um espaço
amigável, seguro e acolhedor.
E4: Eu acho que é bem restrito, né? Não tem muito, a gente não vê muito
investimento nisso por parte da prefeitura ou mesmo de empresas, elas aparecem
mais na parada mesmo, e eu me lembro de ter visto já um guia mas eu acho que era
feito pelo Nuances, é uma ONG LGBT. Não sei se eles atualizaram, se fizeram mais,
eu me lembro que faz um tempo que tinha. E poderia ter muito mais suporte
principalmente nas áreas que a gente sabe que são que tem um público, por exemplo
na Cidade Baixa, na própria João Teles, de incluir isso como uma rota, fazer disso
talvez um ponto conhecido por ser inclusivo, a gente até pensou, é que geralmente é
mais a gente indo atrás, né? A gente queria naquela faixa de pedestres sugerir, ver
com a prefeitura, de a gente fazer a bandeira LGBT ali, que tem várias outras cidades.
Enfim, tem várias coisas que dá pra se pensar, que poderiam ser feitas e que não são,
152
não são feitas através das empresas, nem da prefeitura, a gente que tem que pensar
e ir atrás.
Entrevistador: Foi possível perceber vocês expandiram, aumentou o tamanho
do bar, com quanto funcionários vocês trabalham?
E4: A média de funcionários, é que varia conforme o dia, e geralmente, uma
média durante a semana, ali de segunda a quinta é em torno de duas três pessoas
por dia. Depois de quinta, sexta e sábado passa pra umas oito, em torno de oito, e no
domingo umas cinco.
Entrevistador: nessa composição tem uma preocupação também para
diversidade, de inclusão nesse quadro de funcionários?
E4: Tem até porque a gente anuncia mesmo, né? As vagas, elas se espalham
entre o nosso público, ali. Mas também aparece bastante hétero às vezes, mas que
conscientes e fazem parte desse grupo, frequentam, enfim, já conhecem ali. E a gente
tenta também priorizar trans, travesti e tal, mas é bem difícil. É currículo, interesse e
tal, mas daí chega e é difícil, é bem menor a quantidade de pessoas interessadas,
também às vezes não fecha horário, as vezes a pessoa some, pessoas negras a gente
tenta priorizar, mas nem sempre dá certo. A gente precisa de gente, acaba às vezes
ficando meio mais padrão, no sentido de branco e gay, enfim, mas s gente tá sempre
tentando não se limitar, né, e dar oportunidade pra outras pessoas.
Entrevistador: Está certo, podemos finalizar. Muito obrigado pela participação.
153
APÊNDICE G - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 5
Entrevistador: Bom, vou me apresentar, meu nome é Filipe, sou formado em
Gastronomia na UFSCSPA e estou finalizando minha pesquisa de mestrado em
Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi de São Paulo. Eu estou
conversando com gestores de espaços considerados amigáveis à comunidade
LGBTQIA+ aqui em Porto Alegre sobre hospitalidade, gestão do empreendimento e a
visão desse cenário em Porto Alegre. Como consta do termo de consentimento que
eu te enviei, se qualquer momento sentir desconfortável, não quiser responder e
quiser encerrar a entrevista pode ficar bem à vontade, ok? Nessa parte da pesquisa
eu não vou identificar o gestor que está falando comigo e nem de que lugar ele fala.
Tudo bem para você?
E5: Tudo bem sim.
Entrevistador: Então vou iniciar te pedindo pra me contar um pouco da da
história de vocês, das operações que vocês tem atualmente.
E5: A gente iniciou as operações em 2017. Ah o início realmente foi pra ser
uma hamburgueria mais voltada pra comunidade LGBT QIA+ porque a gente
identificou realmente uma ausência, uma carência né
de forma inclusiva pra comunidade. Era um ano de boom assim das hamburguerias
artesanais então a gente também identificava que não tinha nenhuma com uma certa
correspondência pra diversidade né? E para, e de forma mais inclusiva pra sociedade
a gente acabou optando pra já chegar nesse viés assim. Somos duas sócias, duas
mulheres, duas mulheres gays, né? Então a gente realmente tem o poder de fala né?
A gente estava no nosso ambiente e no nosso habitat mais comum pra para lidar com
a comunidade e até mesmo entender o que que realmente precisava. Optamos pela
região Centro Histórico, Cidade Baixa por serem bairros mais diversos também, e que
conversa mais com o público e também tem alternativas de gerar uma certa
correspondência pro espaço, abraça mais novos empreendedores, novos negócios, e
principalmente a parte feminina do empreendedorismo, tem essa certa sutileza na
forma alternativa que o público da Cidade Baixa e do Centro Histórico tendencia a se
comportar perante esses negócios de mulheres, ou até mesmo de mulheres gays
né?.O nome foi porque as uma das sócias, né? Sem ser eu, tenho outra sócia que é
a Bianca. A Bianca trabalhou na Austrália, a gente morou um tempo na Austrália,
ficamos lá por volta de dois anos, dois anos e meio ela trabalhou lá com né? Que são
154
é açougueiro inglês e também é um termo muito utilizado pejorativo pra mulheres
sapatão né? Como aqui a gente brinca e tem esse lado afetuoso entre a comunidade
de chamar sapatão, caminhão lá é né? Então tem essa brincadeira ah de forma
linguística assim que a gente poderia trazer pra cá também a gente pensou muito no
final da palavra da entonação da palavra porque lembra tche e nós somos infelizmente
ou felizmente né um público muito regional muito bairrista então tendência a ter ser
mais agradável só na verdade quando tu traz uma palavra de correspondência ãh...
em 2020 depois de termos aumentado o número de lojas em Porto Alegre diante de
uma pandemia e também surgiu a oportunidade tanto de aberturas e fechamentos de
algumas lojas algumas unidades novas em outros pontos da cidade.. ah... a gente
também conseguiu um espaço novo que é um espaço na Travessa dos Venezianos
que era uma loja muito maior e isso com mais também, com uma tendência que já era
do espaço trabalhar com pizzas do antigo proprietário e a gente trouxe o bar. Então é
um focado em pizzas, é o carro chefe da loja. Porém ela é um pouquinho mais ãh
informal, trazendo um pouquinho mais da informalidade com um bar, com o estilo de
atração musical, com um espaço mais voltado cultural. A gente também tem essa
pegada de abrir espaço pra forma com que o Porto Alegre trabalha a forma cultural,
né? Então em determinados momentos a gente tem apoios, de shows, peças de teatro
e tudo que de certa forma culturalmente favorece a sociedade e a comunidade LGBTQ
é mais, né? Ahm... a gente tendencia também a tentar colocar mais vozes, mulheres,
né? Músicas de mulheres, vozes, bandas comandadas por uma mulher, então, às
vezes a gente consegue, nem sempre, sim porque, né? Acaba ficando muito repetitivo
também se a gente não abrir o leque ãhn.. a princípio é isso hoje o Bootcher Burger
foi vendido a marca né? O nome dela em dezembro e estamos na loja da Travessa
dos Venezianos em processo de alteração de nome. Vai vir um outro nome com as
mesmas sócias, né? Comigo e com a Bianca. Porque a gente só vendeu a marca
mesmo, somente o nome. Foi em dezembro agora desse ano passado.
Entrevistador: E aquela operação no Dado Food Hall, ela é de vocês?
E5: A operação do Dado Food Hall era uma a ideia inicial e central deles a partir
de 2020 era que fossem cozinhas, são a princípio oito a nove cozinhas, são cozinhas
sempre itinerantes e elas fazem uma brincadeira de jogo das cadeiras né, o rodízio
entre as cozinhas de Porto Alegre. Então como a gente iniciou o movimento e a
operação deles em outubro de 2020 se eu não me engano, foi isso outubro de 2020
ainda, era que ficasse somente um ano e se abrisse portas para novos negócios,
155
novas cozinhas, como a gente pegou um momento muito de pandemia, de
movimentos baixos e altos... ahm... teve momentos que estava tudo aberto, depois
teve momentos que fechou de novo em 2021, a gente acabou prorrogando por mais
dois anos, então a gente saiu de lá em setembro do ano passado, em setembro de
2022 e abrimos na Protásio Alves e que é na esquina do Santa Inês e mais outra loja
no Quarto Distrito... ãhn saímos do Food Hall né? O hoje conta com outra
hamburgueria lá. Porque o espaço não é nosso. A gente estava lá como cozinha e
hamburgueria convidada mesmo. Hm-huh. Pra dar esse primeiro start foi muito bom
até por sinal.
Entrevistador: E saindo dessa parte da Cidade Baixa e expandindo pra outras
áreas como você falou, o Quarto Distrito e Petrópolis, vocês sentiram a diferença de
público e aceitação desse trabalho da questão da diversidade?
E5: É, desde o Food Hall, né? Ele era um trabalho mais voltado pro produto do
que para ideologia em si. Sim. Não eram tu não podia o acontece muito e assim dentro
de Porto Alegre, né? Que tu não pode te determinar o um espaço extremamente
voltado pra comunidade porque ele te ele te limita muito porque a tendência do povo
gaúcho é achar que aquele espaço é somente para isso. Porque o não e não é eu
assim a gente sabe todos os preconceitos, todas as ideologias, né? Principalmente
nesses últimos anos e pós a nova votação política, né? Onde a gente viu listas,
inclusive listas que eles chamavam listas dark né? Assim, pra de boicotes e tal de
empresas que apoiavam ou não apoiavam, mas não eu não enxergo que essa
limitação é somente por um preconceito sabe? Eu acredito muito que essa limitação
é realmente porque o povo gaúcho é muito generalista. Ele é muito objetivo, ele leva
muito ao pé da letra. Então diz pra ele que lá é um lugar tradicional, ou gaudério, ele
vai ir de bombacha. Ele não vai ir sem boina. Ãh... se diz que o outro local é um local
heterotópico, ele vai pôr realmente uma gola V ou uma camiseta polo, sabe?... Diz
que esse local é voltado pra comunidade LGBTQA+, ele acha que ou ele tem que ser
da comunidade, ou ele tem que estar um pouco mais. ou afeminado, ou mais
masculinizado pra ir. Então é um polvo que realmente ele é generalista sabe? Ele é
muito oito ou oitenta. Então ele não consegue transitar de certa forma no mesmo dia
em três ambientes diferentes ele precisa ir em casa, se trocar, se mudar ou tomar
banho, ou se reinventar, não é um público que sai do serviço e vai direto pro bar, né?
Ele é um público que sai do serviço, vai pra casa, sai de novo umas oito, oito e meia
é um público mais fechado, objetivo, né? Se tu não, diz pra ele que ele tem que sair
156
do serviço e ir direto, ele perde o happy hour. Não é por ele, é pela comunidade em
si, o meio traz isso para o gaúcho né... Então em alguns outros pontos da cidade que
não são tão abertos e não são tão fora da bolha não tem tanto contato culturalmente
com diversas pessoas né? E ficam mais fechados no seu mundinho, no seu bairro. A
gente tinha que ter uma certa cautela em levantar bandeiras ou não, porque isso sim
ia diminuir bastante o movimento e faturamento da loja.
Entrevistador: Eu vi que vocês trabalham bastante a questão simbólica nas
redes sociais né? Tanto da hamburgueria, mas principalmente no Pizza Bar, que tem
uma banda um bandeirão enorme, a parte simbólica é bem presente, eu não sei como
é essa distinção um pouco na hamburgueria, talvez não tenha ou não.
E5: A ideia é sempre ter como eu disse, né? Apesar de que hoje se a gente for
mesmo ver a marca e se o pessoal que comprou entender a ideologia da marca, né?
Sabemos que nem todo o trabalho ele é ainda ahm... concretizado pra que continue
o mesmo, a gente sabe que vendas acontecem muito isso de ir se apagando algumas
ideologias ãhn... por isso também nossa preocupação em reformular e reinventar uma
marca nova né... subsequente que nos também se distinguir no futuro caso não venha
a ser conforme a gente gostaria. Ah a forma simbólica também ela é representativa
mais em bairros que conversam mais com essa mesma ideologia. Então por a gente
estar na esquina do Colégio Rosário, por exemplo em Petrópolis, eu podia trabalhar,
como não, podia não, era uma opção nossa não trabalhar na época, não sei como é
que é hoje tá, mas na época a gente optou por não trabalhar com bebidas alcoólicas
por estar numa esquina de um colégio. Então a forma simbólica também vem de
algumas outras formas sem ser uma bandeira estampada, né vem, digamos, de forma
inclusiva, tu ter um quadro de funcionários diversos, que pra nós é muito mais
importante do que uma bandeira, do que um quadrinho na parede, a gente acha que
a representatividade do quadro funcional, né? De funcionários assim em quadro
operacional. Ela tem uma representatividade muito maior pra sociedade, pra
comunidade, porque demonstra também que a pessoa que está ali trabalhando, que
está fazendo o teu lanche, que está te atendendo é tão igual quanto tu, né? Então isso
não adianta, a gente sempre pensou muito sobre que não adianta a gente ter uma
bandeira ou até mesmo alguma frase ãh... motivacional ou uma frase representativa,
sem que a o nosso quadro de funcionários não representasse de certa forma essa
comunidade, né?
157
Entrevistador: Eu ia te perguntar isso, são quantas pessoas atualmente com
vocês?
E5: Atualmente no bar são seis pessoas e todas elas são diversas entre si.
Temos homens héteros, mulheres cis e hétero, temos também mulheres trans, gays,
homens gays, negros né? Já tivemos PCDs e atualmente não temos mais, mas já
tivemos também tanto homem como mulher trans. O ambiente de certa forma informal
com alguns colaboradores daí sim né? Transitam mais e daí tem essa peculiaridade
também.
Entrevistador: Ah e vocês já tiveram que enfrentar algum...que a essa busca da
diversidade do quadro de funcionário de vocês é bem marcante, ela é visível assim,
pelo menos o pessoal que está ali no atendimento, vocês já enfrentaram algum tipo
de problema com clientes?
E5: Não, por incrível que pareça, preconceito, de alguma situação que... que...
Não tivemos, nunca nenhum problema quanto o quadro de funcionários, tanto de
todas as partes assim, tanto negros, quanto gays, quanto trans. Nunca tivemos
nenhum relato assim, de digamos tu perceber que aquela crítica, ou aquela ãh...
aquela discussão tenha sido causada realmente pelo fato de uma pessoa diferente
estar atendendo o outro. Mas como eu disse o público maior né. Sempre a gente os
deixou no nessa região central, né? Que é uma região mais ãh... alternativa mesmo,
e que é de aceitação maior, né? De entendimento. Na verdade, sobre os casos Sim.
Ah a questão que tu falou é bem marcante ali o a promoção cultural de eventos fora
do espaço assim em apoio a causas ah da comunidade ahm contratação de pessoas
diversas pra tocar e pra mostrar arte e pra apoiar também essas pessoas assim qual
importância que tu vê de estar além do básico da operação assim de estar apoiando
coisas que vão além do que se espera de um de um bar e num restaurante.
E1: A primeira coisa que a gente pensa, assim Filipe, é que fazemos esse tipo
de contratação, tanto de atração musical quanto de quadro de funcionários, a gente
consegue fazer com que as pessoas que enxerguem a gente pra ser atendidas no
momento de lazer, comer, beber, né? Ela também consegue entender realmente a
ideologia da empresa, né? O pensamento da empresa, de que forma a empresas
conduzem e traz de certa forma uma reparação pra comunidade, né? De certa forma
assim a gente trazer um... uma... como é que eu posso te dizer a gente teve uma
atração, por exemplo, musical de uma menina trans, que agora mora em Portugal, e
ela é do lado do pagode né? Então ela e o irmão dela faziam muito sucesso numa
158
época que ela não era trans ainda, e daí ela mora em Portugal, super tranquila, e
quando ela veio a gente teve fez questão de contratar a atração dela, isso representa
pra comunidade muito, pra ter uma noção foi um dia bem chuvoso, um dia frio sabe?
Começando assim o dia com chuva, frio, sabe? E teve um público muito assim
considerativo, para o movimento naquele dia e, também é porque se sentem
representados, né? Ãh... Muitos ali eram da parte musical né? Da área da produção,
então isso daí meio que a gente entende muito como estímulo do ele pode, ela pode,
eu também posso, todos podemos, hoje eu estou aqui comendo, amanhã pode ser
que eu esteja servindo, então a gente faz esse tipo de representatividade, não é só
pra que a gente se sinta bem com a nossa empresa sabe? É pra que de certa forma
cada um que está ali, que passe, sente essa representatividade, entende que ali é um
lugar colaborativo pra sociedade. Então a gente deixa aquela sementinha plantada,
ah a gente está há seis anos, entrando pro sétimo ano agora como empresa, e a gente
tem, tivemos duas ações trabalhistas então por quê? Porque a gente olha muito pro
quadro de funcionários, a gente trabalha muito com a ideia e com a gestão de que
todo fazem parte do negócio. Inclusive a gente. Então essa às vezes confusão entre
dono e sócio, e proprietário e funcionário a gente acaba não tendo e aí de certa forma,
pela representatividade que ganha muita força nesse sentido, né? Porque quando a
gente mais traz a representatividade pra dentro, a gente consegue achar falhas e
defeitos nossos também né? Que outro não está enxergando e que a
representatividade em si, assim ela não é tão aparente quando tu começa a trabalhar
com ela. Então a gente acredita muito nessa troca assim, com o público, troca dos
clientes com a gente, justamente pela representatividade, como tu mesmo disse não
só pela bandeira, não só, quando vocês chegam lá vocês conseguem enxergar isso.
Entrevistador: E existe algum treinamento pra equipe pensando em
atendimento, ou alguma coisa assim do tipo?
E5: Cara, é que tem principalmente no atendimento tem muita coisa do
atendimento, e na cozinha também né? Do free, da pessoa que é que roda.
A rotatividade é grande em qualquer hospitality, né? Na verdade. Mas ahm... é uma
forma tão natural que a gente nunca precisou trazer numa reunião por exemplo de
cozinha. Nossa, semana que vem vai entrar um menino trans. Não, foi muito ao
natural. A gente tem não-binários também, né? A gente já trabalhou muito com nome,
então, ahm... do tipo, como tu gostaria de ser chamado, independente, né se se
enxerga o homem, se enxerga a mulher, e a gente sabe que hoje em dia, essa nova
159
geração ela é muito mais ãhn... aberta a receber de certa forma mais inclusiva, né?
Então fica tão natural, tão uma normalidade que se por acaso possa ter ocorrido algum
momento ali, alguma coisa mais delicada não chegou até nós e foi resolvido já entre
eles assim,
porque a gente percebe muito isso da gerente chegar, fulano chegou e não sei o que,
daí tu encontra fulano, e o fulano é fulano, não interessa quem é, né, tu vai tratar da
mesma forma, tu vai trazer da mesma forma, então já vem te encabeçando pra como
que aquela pessoa gostaria de ser tratada, a gente também tem esse formulário
quando faz a contratação de nome, qual o nome que gostaria de ser chamado ou de
ser identificado, né? Então tem essas diferenças assim que trazem um pouco mais de
acolhimento né? Pra contratação e até mesmo no futuro, a gente sempre tem um leve
treinamento de atendimento, que é sempre se apresentar pra mesa que tá atendendo
ou pra pessoa que tá atendendo. Às vezes na correria sabe como é, né? Já larga o
cardápio, já sai correndo, aí depois quando chega, ah eu sou fulano, sou ciclano
e isso também traz um certo acolhimento pro cliente. Porque o cliente também tem
que ser acolhido, né? Diante das adversidades que ele pode enfrentar ali, então
também não adianta deixar o cliente chegando de paraquedas, ele precisa entender.
Né? E às vezes é só uma forma introdutiva, tu já consegue deixar o cliente também
mais acolhido no espaço sem que ele fique com medo de errar pronomes, nem se é
homem, se é mulher e e só da forma do atendente se portar e trazer isso pra ele, já
dá um acolhimento melhor, uma segurança melhor pro cliente que pode ficar ali mais
que uma, duas, três horas no teu ambiente porque está se sentindo confortável, né?
Entrevistador: Ah eu vou fazer as duas últimas perguntas. A primeira é como
gestora de um espaço gastronômico e como
parte da comunidade LGBTQIA+, cliente, consumidora. O que é mais importante ou
quais critérios pra se considerar um espaço amigável à comunidade, o que considera
mais relevante, que talvez pudesse ser levado pra outros espaços, em que é um
espaço neutro e às vezes até meio hostil, em que as pessoas não se sentem nem
seguras, nem acolhidas, nem confortáveis.
E5: A primeira coisa que eu a gente bate muito na tecla, eu também, é
justamente aquilo que eu te falei no início, onde eu não preciso ter uma bandeira, não
preciso ter uma frase extremamente acolhedora pra comunidade LGBTQIA+, se eu
não tiver representatividade no meu quadro de funcionários. Eu acho que isso é o
primordial assim. Tu tem que ter no teu quadro alguém que representa a comunidade,
160
alguém que vai estar lá mais tempo pela comunidade do que tu, né? Porque a marca
é somente uma marca, como a gente mesmo estava falando antes, eu mesma vendi
a marca, vendi o nome e a gente não sabe pra que prumo pode acontecer dela ir, né?
Então eu acho que quem fica realmente são os nossos quadros de funcionários, são
essa representatividade mais direta pro cliente. Ah e ela não precisa, e elas
extremamente sutil, tu não precisa dizer a que tu veio né, tu só entende que ali é um
espaço agregador, um espaço acolhedor, um espaço que te dá uma certa segurança
de que ali tu pode ser quem você quiser, né? Tanto o cliente quanto pro o próprio
funcionário e de qualquer forma eu também acredito que isso conversa muito com o
que tu vai apresentar pro teu cliente em termos de cardápio, em termos de qualidade
porque se tu de certa forma tem um cuidado e um zelo de, de certa forma, incluir, né?
E ter uma inclusão da sociedade dentro do teu espaço o teu cardápio com certeza vai
conversar muito com o que o cliente quer né? Porque hoje em dia realmente nós
buscamos qualidade, qualidade de insumos, qualidade de espaço, qualidade de tu se
sentir bem no espaço, independente do teu gênero, né? Independente da tua
orientação né? Eu acho que é de certa forma todo mundo busca a mesma coisa, a
gente busca realmente gastar o nosso dinheiro com empresas que que de certa forma
nos tratam bem, cuidam da gente independente se a empresa é voltada, cem por
cento pra comunidade LGBTQIA+ ou não, mas só de ter uma representatividade ali
dá uma certa segurança pro cliente e também pro funcionário que vai receber clientes
também iguais a ele, né.
Entrevistador: E passando então pra última pergunta, a gente já conversou um
pouco, algumas outras respostas já trouxeram um pouco, mas o ambiente político,
não só político partidário, mas de incentivo ou de incentivo ao treinamento, ou de
políticas públicas ou políticas de privadas, de associações, em Porto Alegre pra
promoção desses espaços amigáveis.
E5: Assim, não existe.... Nós somos uma empresa que é aberta né, a tudo
que vem a agregar pra Porto Alegre. Estamos dentro de Porto Alegre então e a gente
busca sempre ahm confortos e reformas né? Que possibilitem um crescimento
mercantil de dentro de Porto Alegre isso independente de política.
É por óbvio que a gente tem o nosso carinho especial por alguns lados da política que
olham com mais atenção pra diversidade, pra comunidades mais carentes, que é
também um dos vieses nossos, como empresa, olhar esse público carente que não
tem tantas oportunidades, ou que não tem tanta representatividade. Então é comum
161
a gente estar mais aberta e conversar melhor com esse lado político. A gente faz
eventos sempre abertos a todas as pessoas, a democracia mesmo, independente de
lado político, acontece que normalmente quem frequenta com mais vigor essas
comunidades tem um certo respaldo, né? Politicamente, a gente não se envolve, a
gente não levanta bandeira, ah cem por cento, mas a gente também dentro, a gente
cobra porque daí a gente consegue ter um respaldo maior, né? Politicamente, de
pessoas que frequentam a Cidade Baixa, políticos que frequentam a Cidade Baixa,
políticos que conhecem nosso trabalho, e também a gente traz pros funcionários essa
própria perspectiva de digamos tu vai lá, tu contribui, tu vota, tu elege, então faça
também teu papel de cobrança né, teu papel de limpar o teu lixo no final do turno,
essas coisas, porque isso traz, de certa forma é mais empático né? Com ambos os
lados, a parte política realmente a gente trata
ela de certa forma mais diplomática.
Entrevistador: Levando a pergunta mais o lado da existência de políticas
públicas pra promover esse atendimento, você enxerga isso existente, ou não?
E5: Não, não existe em Porto Alegre, tanto por parte das associações, que
poderiam fazer alguma promoção, algumas campanhas, algum treinamento, de
enxergar assim, ah eu vou atender todos e vou perguntar como você gostaria de ser
tratado ou da de coisas assim entendeu? É em Porto Alegre esse tipo esse tipo não
existe mesmo. Tudo acontece por parte das próprias empresas. Nas empresas sim,
elas sentem aptas ou não fornecer esse tipo de informação. Tanto pro cliente quanto
pros funcionários, não é? Existe um acompanhamento mais eficaz, né? Pra que as
empresas sejam inclusivas
né? Pra que as empresas representem um lado, não existe isso.
Entrevistador: Encerramos então a sua entrevista, agradeço muito a sua
disponibilidade e participação.
162
APÊNDICE H - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 6
Entrevistador: Antes de começarmos eu vou me apresentar, meu nome é Filipe,
sou formado em Gastronomia na UFSCSPA e estou finalizando minha pesquisa de
mestrado em Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi de São Paulo. Eu
estou conversando com gestores de espaços considerados amigáveis à comunidade
LGBTQIA+ aqui em Porto Alegre sobre hospitalidade, gestão do empreendimento e a
visão desse cenário em Porto Alegre. Pode ficar bem à vontade se sentir
desconfortável, não quiser responder e quiser encerrar an entrevista, como consta no
termo de consentimento que eu te enviei. Eu não vou identificar o gestor que está
falando comigo nesta etapa da pesquisa, nem de que lugar ele responde. Podemos
continuar?
E6: Podemos sim.
Entrevistador: Bom, então vou começar te perguntando um pouco da história
do Charlie, como começou, quando foi a primeira loja, a escolha de localização, e etc.
E6: Então a história tem a ver com sexualidade, né? Tipo, ah... quando eu tinha
trinta anos de idade eu entrei numa depressão por não aceitar a minha sexualidade,
justamente por viver, nos empregos que eu tinha até então, um contexto de
preconceito velado, vamos dizer assim né? Então eu tinha que me proteger, eu tinha
que proteger a minha sexualidade pra eu não ser demitido, essa era a minha
sensação, né? Então, acabei vivendo uma depressão aos trinta anos e nessa
depressão busquei uma terapia, na terapia do porquê do meu sofrimento, porquê da
depressão, o que que eu estava vivendo. E aí na terapia nasceu, né. Eu digo que a
Charlie nasceu num consultório de terapia. A ideia do negócio, todo o conceito do que
eu queria fazer nasceu na terapia e 2013, se eu não me engano. E aí, lá que eu
construí, se um dia eu conseguir sair da depressão, em todo as consequências que
eu mandei pra depressão traz, né? Eu acabei acumulando dívida pessoal, né?
Financeira mesmo, né? Sair despejado do apartamento que eu morava, então, como
é que eu me reconstruo né? E se eu me reconstruir, como é que eu posso voltar ao
mercado de trabalho, ou participar desse mercado de trabalho de um jeito menos
agressivo, quanto é né, a cultura corporativa das empresas que buscam um padrão
de comportamento e sexualidade e etc., né? Então nesse contexto nasceu, aí tipo
assim, era um projeto de gaveta, eu digo assim que é um plano B, vamos dizer assim,
se eu conseguisse sair desse contexto, se eu conseguisse pagar a dívida, eu gostaria
163
de montar um projeto em homenagem a minha vó, mas que fosse uma marca que
representasse diversidade pra fora e pra dentro. Essa era a intenção e o conceito
quando nasceu a ideia. E aí eu comecei fazendo em casa mesmo, né? Tipo eu fazia
os brownies em casa, com ajuda de amigos. Então era o meu plano B mesmo, me
mantinha empregado porque eu tinha que pagar as contas e a dívida e, em paralelo,
eu fazia a Charlie, né? Então ãh, depois de um ano um ano e meio fazendo isso pela
internet eu abri a primeira loja, a escolha da do bairro foi aleatória pra mim né. Assim
eu não escolhi estrategicamente a loja da Marilana, no Montserrat pra começar a
Charlie. Foi a minha intenção pelo projeto e conceito seria a Cidade Baixa, né? Por
causa da questão, eu foi público da Cidade Baixa, era frequentador, já fui morador do
bairro, e entendia que a Cidade Baixa era um bairro que representava a diversidade.
Então eu queria que meu negócio nascesse lá. Mas na época em que eu tinha esse
projeto e ainda estava buscando a ideia de um aluguel como casa pra montar um
negócio, a Cidade Baixa era um bairro caro, né? Ahm tava bombando, né? A boêmia
da Cidade Baixa, então era muito caro conseguir um imóvel na Cidade Baixa, e aí eu
busquei plano B, né? Então a gente foi atrás de lugares que que pudessem ter uma
casa acessível pra poder fazer o negócio começar, e aí veio o Mont Serrat, aconteceu
que eu passei na rua um dia, vi a casinha e aí montamos aquela loja, que começou
lá, depois sim a gente foi pra Cidade Baixa com a ideia do que tu conheceu, né? E aí
foi né? A história daí tem nove anos, várias idas e vindas, capítulos né? Que é bem
longo né, contar tudo vai a gente vai levar horas aqui pra contextualizar tudo que já
aconteceu.
Entrevistador: E como é que foi a aceitação nessa loja desse conceito, porque
Montserrat é um bairro mais conservador, mais tradicional, com poder aquisitivo um
pouco maior, um pouco diferente, e mesmo assim a loja teve muito sucesso, né?
E6: Tipo, eu tinha filas na porta. Sim. É, aceitação é que assim, vamos te dizer,
num primeiro momento, quando eu comecei o negócio, eu me protegi né? Eu, a
Charlie tinha esse conceito, essa ideia de diversidade, mas quando eu comecei
efetivamente tanto pela internet, quanto Marilan não foi num primeiro momento que
eu levantei a bandeira, no primeiro momento eu organizei a casa, busquei segurança,
né? Tanto a segurança psicológica, a partir da terapia, que tipo também existe esse
medo, né? Ah, será que se eu vou levantar a bandeira, eu vou sofrer preconceito?
Será que vão comprar? Ou não vão comprar, porque realmente um público mais
conservador como do bairro Montserrat é um público diferente do público que a gente
164
tem na Cidade Baixa, por exemplo, até hoje, né? Tantos anos depois, então é uma
aceitação de num primeiro momento, ela foi boa, né? Depois que a gente se sentiu
acolhido pelo bairro. Que o projeto é legal, o produto é legal, o doce, o café é bem
feito, é uma coisa que é difícil dar errado, né? Ãhn, se tu souber fazer, então assim,
deu certo num primeiro momento, e aí assim, passou ali uns oito meses, dez meses,
de loja aberta aí eu comecei a ganhar confiança em relação a mostrar de fato quem é
a Charlie, é e quem eu sou, aí começou a aparecer a bandeira, a gente botou um
quadrinho de um casal, sei lá, que é de um casal de dois militares se beijando no
banheiro. aí comecei a botar os quadrinhos, ah, relacionados ao meu afeto te afeta.
Fui convidado pra palestrar no TDEX pra falar pela primeira vez sobre a minha
sexualidade, né? Sobre a saída do armário. Foi a primeira vez que eu falei em público
sobre isso. Foi no TDEX. Depois da Charlie aberta. Então ali assim, eu comecei a me
sentir um pouco mais livre pra levantar a bandeira, mas foi eu precisei de uns oito
meses de loja aberta pra me sentir seguro pra isso, né? Não foi de imediato.
Entrevistador: E hoje você considera essa uma marca junto com a Charlie, a
questão de ser amigável a comunidade, ser inclusivo, mas ele não é um espaço que
tu diga que é um espaço LGBT?
E6:Tipo é isso que eu ia te dizer. Não, não considero. Tipo assim, a gente, eu
te diria que hoje tem vários negócios que são de nicho, né? O Workhoom, Biba, né?
Ali na João Teles e tal, que são negócios específicos de nicho, pra comunidade LGBT.
Nós não somos. A Thialle é uma marca que, na minha visão né, a intenção acolhe a
diversidade, mas nos últimos tempos, eu vou te dizer assim, aconteceu tanta coisa no
negócio, e acontece ainda que a gente em alguns momentos, eu digo que eu voltei a
ter os medos que eu tinha quando o negócio começou, ah por causa da questão
política polarizada e todas as questões a gente, né? Ainda vive uma situação bem
complexa socialmente falando no Brasil, na nossa polarização, e aí é a questão ãh da
diversidade entrou como algo partidarizado e não como uma política de causa né? E
isso é um problema hoje, né? Porque, tipo assim, hoje tu levantar a bandeira da
diversidade está associado de ou de né isso eu não acho que seja bom né? Eu não
sou, eu não sou de esquerda, nem de direita, eu não me considero politicamente
levantando um viés partidário pra nenhum lado, então assim, a Charlie hoje eu não
diria que ela é uma empresa LGBT, ela é uma empresa que tenta, e aí a gente falha
ainda agora, que a gente está estruturando uma política de gestão de pessoas dentro
do negócio, que nunca teve, né, um setor de RH e agora, junto com a consultoria, a
165
gente está estudando como a gente resgata alguns pilares da marca como esse da
diversidade, e internamente com capacitações com a nossa equipe. Ah, e coisas que
a gente já fez no passado e que se perderam nos últimos anos, por uma questão de
sobrevivência eu diria assim.
Entrevistador: E quantas pessoas tem no quadro de funcionários? Vocês tem
três casas hoje em Porto Alegre, isso? Cidade Baixa, Zona Sul e da Mont Serrat ou
Bela Vista? E são quantas pessoas na equipe no geral nessas operações?
E6: São quarenta e dois funcionários ao todo hoje.
Entrevistador: E aí então está implementando novamente essa questão da
diversidade de inclusão dentro da própria equipe.
E6: Sim, está. Na verdade, está se resgatando a partir do de pessoas o trabalho
que a gente já fez no passado, porque ano passado a gente tinha até uma parceria
com um projeto que não sei se existe, acho que não existe mais, que era Freeda, né?
Que eles davam a capacitação pra negócios e depois estudavam um selo e tal. A
gente chegou a fazer junto com eles esse trabalho, mas também perdemos contato,
eu acho que nem existe mais esse trabalho, que era bem bacana, e agora tipo assim,
a gente está internamente, porque a nossa gerente que está na nessa parte de gestão
de pessoas, ela é lésbica e ela também acha importante a gente resgatar algumas
coisas, porque ela participou desse movimento lá de 2017, 2016, quando a gente fez
isso de uma maneira mais estruturada e agora a gente tá tentando resgatar. Então,
não só em relação a questão da comunidade LGBT, a capacitação em relação a ao
racismo, né? Tipo mesmo com o público mais velho que a gente trabalha, né? As
pessoas idosas que vão até a loja ou a pessoa é portadora de deficiência, eu acho
que chama hoje, né? Que é o termo mais correto também, né? São todos esses pilares
da diversidade hoje, eu diria que a gente ainda peca porque está faltando uma
reorganização da Charlie pra olhar pra isso.
Entrevistador: Vocês trabalham com a questão da diversidade um pouco mais
ampla, não só pra comunidade, tem a oferta de cortesias para pessoas idosas, toda
essa valorização dos outros olhares pra diversidade, não só em relação a sexualidade
e gênero, né?
E6: Sim.
Entrevistador: E como é que sentiu essa diferença entre da situação entre Porto
Alegre e com essa expansão pra Florianópolis, assim de público, de situação política,
também de mercado?
166
E6: Ãh aqui né em Floripa o que que eu vou te dizer assim, é um movimento
que a gente fez no início da Charlie em Porto Alegre né? Logo que a gente chegou
aqui, ninguém sabia quem a gente era, então até a gente conseguir mostrar né, o que
é a Charlie e o que representa em Porto Alegre, eu digo assim, tem muitas coisas que
ainda estão ligadas a mim, né? A minha história, a minha pessoa, né? Eu de alguma
maneira represento a imagem da marca também, em muitos aspectos, porque eu
coloco a cara, né? Em muitas situações aqui em Floripa eu não fiz tanto esse
movimento. Eu fiz um negócio mais Charlie. Né? Tipo assim, é Charlie ah não tem
tanto Thiago da Charlie. Tem Charlie. E aí, no início também, a gente teve um
pouquinho... sofreu algumas questões ãh... não vou te dizer preconceito, mas alguns
boicotes, porque logo que a gente chego aqui com a bandeira, que daí assim o Charlie
aqui já está com o coraçãozinho LGBT né? Com a com a bandeira do arco-íris no
coração né? E na plaquinha de entrada da loja tinha, e a plaquinha foi botada antes
da loja abrir, então eu sofri alguns reveses aí de vizinhos e outros empreendedores
do bairro que começaram a boicotar logo que a gente chegou né? E isso me deu um
pouco de medo. Poxa, fizemos investimentos pra uma nova cidade. Eu não posso não
ter venda agora, porque é isso que vai sustentar a nossa manutenção do negócio
aqui. Então como é que eu faço, né? Ah, então deu uma intimidada num primeiro
momento, ah e depois a gente administrou a situação e eu digo assim, Floripa é uma
cidade mais polarizada que Porto Alegre, mas a diferença para Porto Alegre é que
aqui, me parece tá? Eu posso estar sendo totalmente errado, mas é uma percepção
mesmo porque eu vivo aqui, né? Ainda as pessoas não chegam a deixar de se falar
porque tem posicionamento político diferente, ou porque votam em pessoas diferentes
e não em geral, assim, entre pessoas, quando elas olham né, que nem eu tô te
olhando no olho agora, não existe esse conflito. O conflito é mais distante. Em Porto
Alegre, me parece que as coisas se misturam um pouco mais. Então assim, aqui
quando a gente bota a bandeira, às vezes que a gente bota a bandeira, hoje, né?
Nunca foi, nunca jogaram um ovo na loja como já jogaram em Porto Alegre, né? No
bairro Montserrat. Então assim, a gente já sofreu organização de boicote em Porto
Alegre, de pessoas conservadoras, que fizeram uma organização de boicote, pra
boicotar a Charlie e não ter consumo. Não conseguiram, tentaram né? E foi explícito,
foi em rede social, foi através de ataque, então em Porto Alegre isso já aconteceu,
aqui aconteceu bem pouquinho, né? Tiveram alguns movimentos, mas foram bem
menores porque, não sei tipo assim, talvez seja a maneira que eu carrego essa
167
bandeira né? Tipo assim, eu tento fazer de um jeito... eu não, eu sou criticado dentro
do meio quando eu entro em discussões sobre a questão da comunidade LGBT,
porque eu não sou uma pessoa do conflito. Jamais, vou te dizer assim, eu não vou
entrar em conflito com ninguém. Ah, não é a minha escolha de vida. Não é a maneira
que eu acho que as coisas acontecem. Não é porque eu apanhei por ser gay que eu
vou bater por ser em quem é preconceituoso comigo. Então Charlie não é uma
empresa hoje que vai conflitar com ninguém. A gente vai tentar construir aceitação.
Então por isso talvez que não aconteça mais tanto situação quanto a gente já passou
assim, sabe? Porque eu entendo, no meu caso dentro da Charlie, a gente trabalha a
militância de um outro jeito mais agregador, né? E são discussões internas que a
gente tem com quem é LGBT dentro da Charlie e a gente tem esse diálogo, a gente
tenta ir por esse caminho, né?
Entrevistador: Durante a pesquisa para fazer entrevista, eu encontrei que vocês
tem participação ou apoio às causas sociais, a projetos sociais. Qual a importância
disso para vocês?
E6: Muito grande, desde do começo da Charlie assim.
Entrevistador: E isso envolve também projetos voltados pra comunidade
LGTQIA+ dentro desses projetos?
E6: Sim, envolve, mas já foi mais forte também. Eu te digo assim, minha
opinião hoje tá? Eu me frustrei com a comunidade LGBT assim, durante dois anos a
gente participou mais fortemente das paradas, Parada livre, a parada do orgulho, né?
Que são aquelas que, pra mim já é uma crítica, eu não gosto de Porto Alegre ter duas
Paradas, acho um absurdo. E aí é a Parada da direita e a Parada da esquerda, né? É
a polarização, porra dentro do meio a gente ter essa divisão, então desde que eu
entrei nessas reuniões e nessas conversas eu me desconfortei por trazer esse tema
e aí de novo um podendo da comunidade tu também receber um reverso por ter uma
opinião diferente ou por tentar entender porque que são duas, não é uma porque que
a gente não articula pra ser uma então, eu me decepcionei um pouco com o meio por
isso, porque parece que a questão partidária está acima da questão da comunidade,
das bandeiras que na comunidade a gente tem que defender né? Quais são as leis
que a gente gostaria que fossem aprovadas, quais são as discussões a gente gostaria
de trazer pro poder público em relação a causa e tal, me desconfortei com isso, mas
a gente não deixa de apoiar quando nos buscam, então agora vai ter o pedal né da
firma ali em relação o dia do orgulho e a gente está apoiando. Então, quando nos
168
buscam e a gente entende que pode participar, a gente participa, mas como já foi no
passado, em a gente buscar e a gente ser mais ativo nas causas, não é mais assim
que acontece em relação causa LGBT. Nas causas sociais, aí sim a gente entra
sempre, né? A gente tem um Instituto que a gente apoia ali no Morro da Polícia, tem
a ONG do Pequena Casa da Criança, então sempre que a gente pode fazer
movimentos pra ajudar essas comunidades a gente faz, e vai continuar fazendo
culturais também, né? Que acho que a Charlie sempre apoia, quando pode. Então a
gente levanta, mas assim, já eu acho que a específica da comunidade LGBT, é mais
fraco hoje do que já foi, por um pouco dessa frustração minha de como acontecem as
coisas dentro do meio. Poxa! Fora do meio, né? A gente lida com um monte de
preconceito pra poder ser quem a gente é, né? E aí, dentro do meio vai viver a mesma
coisa, daí tipo assim tem de tudo né? Acho que tu vive meio, não sei se tu é tu é gay,
desculpa te perguntar não sei se pode, mas é uma questão assim né? Tipo assim,
sabe como funciona né? Todos os preconceitos dentro do da comunidade então isso
me frustrou um pouco, por isso que eu me afastei um pouco da causa.
Entrevistador: Agora, pensando como gestor, como Thiago gestor e também
como consumidor e como pessoa da LGBT , o que que tu entende como é importante
ter, para que se considere um espaço como amigável à comunidade, amigável às
pessoas frequentadoras LGBTs.
E6: Eu como pessoa diria assim, eu não gosto de que entrar num lugar e
alguém me olhar diferente se eu estiver com um namorado né? Se eu tiver
acompanhado e tal. Não, não gosto desse sentimento. E vou te dizer dentro da Charlie
eu já tive atendentes que agiram dessa maneira com o casal de pessoas LGBTs.
Então a gente fica sabendo, porque às vezes recebe os relatos, recebe a crítica, né?
Ou como a gente é uma empresa que levanta a bandeira, quando acontece alguma
coisa, não sempre, mas as vezes, as pessoas vem até nós e trazem a crítica, o
incômodo com o que aconteceu. O que mais me incomoda é isso, é ter um olhar
diferente, né? Como se foi aquela que ele olhar o julgador, né? E aí sim quando é de
um outro cliente, né? Tipo ah eu estou aqui numa mesa, tem outro cliente na mesa e
ele é preconceituoso, o problema é dele, não estou nem aí porque, tipo né? Isso é
uma questão dele, ele que se resolva. Mas quando é o estabelecimento, daí me
incomoda um pouco, principal é isso né? Eu acho que o acolhimento vem a partir do
momento que eu quero ser tratado como todo mundo é tratado, assim que eu, como
eu acho que todo mundo merece ser tratado, independente de classe social, cor,
169
gênero, raça, etc., então esse é o meu sentimento como pessoa. Como gestor eu digo
eu não consigo, e infelizmente né, t eu não consigo como gestor, e aí isso é uma
discussão interna de novo, pegar assim o chipzinho e botar na cabeça da minha
equipe e dizer assim pelo amor de Deus, né? Não vai fazer isso, né? Eu já tive casos
recentes, tá? De um atendente, que é gay e ele foi preconceituoso com um casal gay.
E ele realmente foi agressivo, ele foi, por quê? Porque mexeu com gatilhos dele, né?
Tipo, aquele casal mexeu com gatilhos dele, e ele não se segurou a onda dele, e foi
um atendimento péssimo e preconceituoso, é? É difícil às vezes como gestor, eu ainda
estou descobrindo isso. Como que a gente faz pra capacitar a nossa equipe pra
acolher todo mundo que vier até a gente, né? Então esse é o maior desafio pra mim
como gestor, é conseguir fazer com que a gente respeite e acolha as pessoas que
vem até a Charlie, independente de qualquer coisa, de suas características assim.
Entrenvistador: Eu me lembro, pelo menos no pub, sempre aquele cuidado de
ter o banheiro sem gênero, ou a utilização dos próprios símbolos LGBTQIA+, dos
aspectos físicos, você acha que isso ajuda a blindar e a tornar um lugar mais seguro
e mais livre do preconceito em relação aos próprios outros clientes?
E6: Assim, ajuda, claro que não resolve, mas ajuda e a gente tem, né?
Permanece com os banheiros sem gênero, né? E isso aí a gente tem que comprar
umas brigas, né? Porque a Vigilância Sanitária diz que não pode, né? Que tem que
ser os banheiros separados, a gente segue brigando e fazendo do jeito que a gente
entende que pode ser. Às vezes eu digo, o poder público vai contra algumas questões
absurdas, né? Que eles deveriam agregar e eles prejudicam. Mas a gente segue com
banheiro sem gênero, segue sim, tem vários elementos, se tu for olhar na nas lojas,
tem isolamentos, tem a bandeira, ela não tá ali grande na entrada, mas ela aparece
nos quadrinhos, ela aparece nesse quadrinho do Benxi que tem numa das lojas, tá na
Zona Sul agora, né? Porque no Montserrat não existe mais. Tem vários elementos
sutis que eu digo, né? Que a gente constrói esse acolhimento. Mas ah acho que ajuda,
mas não é só isso. Eu acho que o principal não é o ambiente. São as pessoas que
estão no ambiente, é isso que vai trazer o acolhimento, e esse é o que te falo que é o
desafio, com quarenta e dois profissionais hoje na equipe eu não posso te garantir
que eu não tenha pessoas preconceituosas dentro dessas quarenta e duas pessoas
que trabalham conosco né? A gente está tentando melhorar. Pra melhorar isso e a
partir disso que eu te falei, da gestão de pessoas, mas é o maior desafio, né? É a
equipe entender que acolhimento é receber todo mundo bem.
170
Entrevistador: Tanto nas duas cidades, como você vê a questão, como você
falou um pouco, de políticas públicas ou privadas, sobre essa questão da capa com a
capacitação da equipe?
E6: Tipo, em específico pra acolher a diferença não existe. Não conheço em
Floripa e não conhece em Porto Alegre nenhum projeto público ou de associação de
restaurantes e tal que que traga esse olhar, né? De como acolher as diferenças a
diversidade, né? Como como ser mais respeitoso com o público, não existe. Não tem
em Porto Alegre, eu participei mais ali. Tem até eu ligo na Cidade Baixa tem uma
associação específica do bairro, né? Eu digo é uma associação preconceituosa, tá?
Tipo, muito preconceituosa, foi uma decepção que eu vivi no bairro na Cidade Baixa
foi essa, né? Poxa, tem um ali uma associação forte de empreendedores, né? Do
bairro. E essa associação é presidida e liderada por pessoas preconceituosas e que
são contra qualquer diferença. É a família tradicional brasileira liderando o bairro mais
diverso do de Porto Alegre, que é a Cidade Baixa. Então, não é à toa que a Cidade
Baixa está vivendo esse conflito todo que a gente vive, né? De insegurança, falta de
política pública, falta de organização, conflito entre morador e negócios, né? Porque
existe um projeto aí de destruir a boemia da Cidade Baixa e levar para o Quarto
Distrito. Então eu digo, não tem. A gente não tem uma comunidade, a gente não tem
nem do poder público e nem de associações, um olhar pra isso. E também falta, eu
digo assim, eu vou fazer a minha culpa, né? Talvez precisasse existir empreendedores
e, ou eu, ou outros, que fizessem mais esse movimento provocativo de trazer, né?
Essas discussões pra dentro das associações e dentro do poder público. Só que eu
digo assim, eu sou hoje uma pessoa tão... eu fui vencido em alguns aspectos pelo
sistema e pelo contexto, a gente precisa hoje lutar pela sobrevivência financeira e de
gestão do negócio, porque ele ficou grande, né? Então isso que tornou as coisas mais
complexas, então você tem tanto problema dentro pra lidar, que tu acaba deixando
essas discussões pra depois.
Entrevistador: Bom, se você tiver algo que considera relevante, ou quiser
alguma reflexão antes de encerrar.
E6: Para mim, o principal ponto, eu acho que é importante seja como gestor,
como pessoa, como pessoa gay, eu acho que o que falta pra nós é uma articulação
de comunidade, dentro da comunidade LGBT mesmo, em que a gente discuta mais
as coisas sem partidarizar. Politizar eu acho que tem que, mas não partidarizar, né?
E a gente precisaria de um movimento de discussões internas melhores, pra poder
171
construir junto com um gestor hétero de um negócio, junto com o poder público
conservador, né? Principalmente no Rio Grande do Sul, aqui em Floripa também. É a
família tradicional brasileira, que a gente conseguisse entender como que a gente
pode quebrar esse ciclo de preconceito, porque pra mim a minha sensação é que hoje
em 2023, teve um oásis ali entre 20010 e 2015, foi um período lindo, né? Em que tipo,
parecia que as coisas iam se encaminhar, existiam ideias de políticas e tal, né? Uma
articulação bacana, se sentia mais livre na rua, e agora em 2023 parece que a gente
está... eu tenho medo hoje em dia, eu diria que eu tenho medo de sair na rua
acompanhado e levar uma pedrada de alguém, por ser quem eu sou. Assim, o
movimento é com um contramovimento conservador, uma onda nova de supressão
de direitos e de liberdades que a gente tinha, e já sente, a minha sensação é que hoje
a gente está perdido né dentro da comunidade, a gente tá perdido, não sabendo o
que que a gente pode fazer pra recuperar, né? Um pouquinho de direitos, dignidade,
eu acho que também claro, tem várias questões, como você falou, que são políticas
e de posicionamento, mas acabaram partidarizando pela conjuntura brasileira, mas
uma pulverização de pautas, que às vezes a gente não consegue trabalhar em todos
os campos, e aí acaba criando também... parece que falta um foco. Ah vamos lutar
por isso, isso e isso, e acaba pulverizando demais. Fica claro, cada um vai puxar uma
sardinha para o seu lado.
é um espaço tem a ver com isso tá com o bairro, tá?
E6: Eu te diria assim, acompanhando quando eu estou em Porto Alegre, o
nosso público no bairro Montserrat é aquele público mais preconceituoso, conservador
e difícil de lidar em muitos aspectos, né? É uma característica da elite da cidade de
Porto Alegre. Tu sabes como é, então existe esse ponto. Da comunidade vai se sentir
acolhido num bairro que em que as pessoas são preconceituosas, né? Em geral, né?
E que vão olhar diferentes pra entrar, né? Então acontece muito isso. Acho que
acontece muito isso e tem a ver com isso sim, com a com a localização desta loja em
específico. Por isso, mas por outro lado eu sempre digo assim, essa sutileza do
Charlie que eu te falo, né? De aparecer de alguma maneira a bandeira, o banheiro
sem gênero, etc. Mas não de uma maneira agressiva, de uma maneira sutil. Também
constrói um pouquinho nessa comunidade preconceituosa que é o MontSerrat se abra
um pouquinho. Eu planto uma sementinha. pode ser que a gente não resolva tudo,
mas planta uma sementinha. Então eu acho que o principal é isso. É porque o público
do bairro é um público difícil. Eu acho difícil. Eu tenho muita dificuldade de você...ah
172
as vezes é os dilemas emocionais que a gente vive. Entre a pessoa e o gestor do
negócio. É um público que consome, que paga a conta, que a gente tem um
faturamento bom nessa loja, porque a loja é a principal, mas por outro lado às vezes
é indigesto, lidar com isso porque é o público preconceituoso que está lá, né? A favor
das políticas públicas contra a comunidade. Então é esse é um difícil de lidar né?
Entrevistador: Está bem, eu vou encerrar aqui a gravação, muito obrigado pela
sua disponibilidade de tempo e pela sua participação.
173
APÊNDICE I - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 7
Entrevistador: Bom, muito obrigado pela disponibilidade. Vou começar me
apresentando, eu sou do formado em Gastronomia na Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre e sou mestrando em hospitalidade na Anhembi
Morumbi de São Paulo, e estou pesquisando os espaços amigáveis à comunidade
LGBTQIA+ em Porto Alegre. Então, como eu te enviei o termo de consentimento livre
e esclarecido da pesquisa, queria lembrar, eu vou fazendo algumas perguntas, se
você não sentir à vontade em qualquer momento, ou se quiser parar, ou não quiser
mais continuar é só me avisar, sem problema nenhum, a gente encerra a qualquer
momento. E também lembrar que em nenhum momento eu vou te identificar, o teu
nome ou o nome da empresa. Tudo bem?
E7: Aham, claro.
Entrevistador: Então eu queria pedindo pra me contar um pouco sobre a
empresa, como foi o inicio, um pouco mais sobre você assim, sua formação, e o que
puder compartilhar.
E7: Começando pela Casa de Pelotas a gente abriu em 2014, em maio a gente
fez nove anos, e eu sou formado em Administração de Empresas pela UFRGS. Eu
sou gay também, não sei se tu quer alguma coisa mais da empresa...
Entrevistador: Da história, mais ou menos, como que foi o começo...
E7: Eu sou sócio da minha mãe, a gente é sócio na empresa, a gente trabalha
com Doces de Pelotas, a gente é de Pelotas, então a gente trabalha com os doces
finos e coloniais na minha família. Acho que a gente está na quarta geração de
pessoas que trabalham com doce no caso. Agora, a gente de doce de Pelotas no
caso, a gente comercializa não fabrica porque a gente não mora mais lá em Pelotas,
mas seguimos ainda no ramo de doces. Esse ano a gente abriu uma cozinha de
produção no Bonfim, então a gente está num momento de expansão e de
profissionalização da gestão e acho que é basicamente isso, assim, um resumo, bem
resumido.
Entrevistador: A partir da pesquisa para a entrevista eu identifiquei que tiveram
um incidente triste, sério, lá no comecinho que fez trocar o lugar da empresa.
E7: Não falei isso, né?
174
Entrevistador: Eu queria entender um pouco como foi essa escolha da
localização e a importância de estar em outros espaços, talvez amigáveis a
comunidade ou do bairro e tal.
Perfeito. É, no Mercado Público a loja era da minha mãe, eu trabalhava lá,
inclusive eu estava no dia do incêndio, basicamente vi tudo ao vivo acontecendo e eu
sempre quis, desde que eu vim morar em Porto Alegre, eu ia bastante na Cidade Baixa
e sempre me chamou atenção a Rua da República e eu queria abrir um café ali e era
uma época que nem tinha tanta cafeteria na verdade, só tinha o multicultural que é na
esquina ali, tinha recém aberto o café república, quando ele era perto da redenção, e
aí depois que teve o incêndio no mercado público a gente recebeu uma oferta de
crédito pra todos os permissionários ali que tinha juros baixo pra pagar um empréstimo
e aí eu pensei tipo, olha vamos ver se dá certo essa ideia de fazer na Cidade Baixa,
e aí a gente achou o ponto e a marca mudou completamente, aí mudou a identidade
da marca. Eu fiz uma pesquisa também de bairro, fiz tipo um plano de negócios, né?
A gente pivotou algumas vezes a identidade. Até que a gente abriu assim bem
diferente do que era o mercado público, e o e o público em si é muito diferente também
na Cidade Baixa. Eu acho muito mais a ver, natural pra mim, pensar uma empresa na
Cidade Baixa, muito mais do que sair no Mercado Público, assim. Então, eu acho que
a gente acabou absorvendo também o bairro, né? Que é um bairro mais boêmio, mais
jovem, mais LGBT e com várias expressões culturais historicamente, então a gente
meio que entrou nessa identidade, assim de poder explorar essas coisas que no
mercado público não fazia muito sentido, né? Porque os clientes eram muitos
funcionários públicos, circulava turista, enfim, não tinha uma afinidade assim tão
grande com essas outras questões da Cidade Baixa, que trouxe pra gente pra marca.
Entrevistador: E são quantos funcionários atualmente?
E7: Deixa eu ver... Atualmente são sete CLT.
Entrevistador: E vocês consideram essa parte de diversidade, inclusão na
contratação ou treinamento ou capacita dessa tua equipe.
E7: Eu estava pensando isso quando tu me mandou o tema da tua pesquisa,
porque tipo, a gente sempre trabalhou com LGBTs na equipe e na maior parte das
vezes são a maioria das pessoas, quase todas as pessoas que trabalham lá são
LGBTs. E não, a gente não faz um critério de seleção baseado nisso, mas
simplesmente acontece. E eu acho que tem que tem a ver com a identidade da
empresa mesmo, e com a história porque a Casa de Pelotas na Cidade de Baixa, que
175
foi decorada pelo meu namorado na época, então a gente era um casal gay,
visivelmente um casal gay, assim e acho que as pessoas, elas também conseguem,
falando nesse negócio de lugares amigáveis, elas percebem quem tá trabalhando ali,
quem tá por trás, sabe? Então, eu acho que acaba que naturalmente isso faz com que
o público consiga entender que ele é bem-vindo e se sente, sei lá, representado, mas
a mesma coisa acontece com os funcionários. Então tipo acho que muita gente Queer,
LGBT, ou enfim, não necessariamente gay homem, né? Mas enfim pessoas trans,
lésbicas, bi, elas também pensam ah esse é um lugar legal de trabalhar, não vou
sofrer algum tipo de discriminação ou violência no trabalho baseada nisso, sabe?
Então a gente não tem nada formalizando isso, mas a gente basicamente, a maior
parte da equipe sempre é LGBT. E eu acho que também fica bem difícil manter
pessoas que não consigam ter afinidade, e pode ser até os simpatizantes no mínimo,
porque senão a pessoa meio que não se encaixa ali como a gente funciona, nem com
os clientes e tal, eu acho que também não fica legal de trabalhar, sabe?
Entrevistador: E voltando a essa parte aspecto físico, ela tem uma decoração
que ficou clássica, elegante, bonita, mas vocês não usam símbolos, nem nada,
bandeira ou algo que outros espaços usam pra identificar como um espaço amigável,
mas mesmo assim as pessoas conseguem identificar o espaço como amigável.
Aham, exatamente, na verdade a gente teve assim lá nos primórdios, nem sei
que ano era nos oito anos atrás, tinha um negócio que eu acho que não sei se existe
ainda, que é o Freeda. E aí o Freeda fazia capacitação de empresas pra poder tratar
bem as pessoas LGBTs, tanto funcionários quanto clientes. E aí o meu gerente, que
é um homem hétero, ele fez esse curso e desde então a gente tem tinha dois adesivos
da Freeda na loja, um na fachada, assim na porta da frente e um no banheiro. E esses
adesivos foram ficando velhos, e aí eu troquei. Então a gente tem outros dois
adesivos, que são tipo nas cores... um arco-íris assim, que diz que respeitamos a
diversidade sexual de gênero, e aí segue na fachada e no banheiro, mas são as únicas
menções. Eu também não costumo, às vezes a gente apoia algumas coisas, tipo a
Parada Livre também, as vezes a gente é apoiador de algumas outras iniciativas
também, mas não faço muita coisa de publicação em todas essas datas
comemorativas, e não me posiciono assim, como é que eu vou dizer? Que nem tu
falou assim, não é uma coisa tão explícita, ela já está subentendida. Funciona assim,
e aí eu procuro não me posicionar tanto, até porque eu não tenho tanta vontade, não
sairia natural de mim e eu não tenho muita vontade. A gente fez até um bolo colorido
176
para Parada Livre, que teve em 2021 eu acho, essa foi a primeira e última vez que a
gente fez alguma coisa tipo usando a temática pra vender alguma coisa, e aí todo o
lucro desse bolo ia para a Parada né? Mas eu também não me sinto muito a vontade
em usar a militância e as pautas pra criar produtos, não é muito o que eu gostaria de
fazer, então eu não faço, né? Ou faço pouco, né? Faz pouco, acho que é isso.
Entrevistador: E pensando você já tem bastante mesas na rua, que é
característica da Rua da República, atendendo na calçada, vocês já tiveram algum
tipo de incidente, ou algum caso mais complicado em relação até os próprios
funcionários, com clientes ou com passantes?
E7: Uhum. É verdade, a República é um os lugares eles são muito na rua, né?
Então tem contato direto com o que está acontecendo na rua. As situações que
acontecem mais, estão relacionadas aos moradores de rua, às vezes tem... A gente
já foi roubado, eles entram às vezes e fazem algumas coisas, tipo roubar coisas,
derrubar coisas, ficar na volta de cliente de maneira agressiva, mas fora isso, não
acontece muitas coisas assim.
Entrevistador: Como gestor e como pessoa LGBT, o que você considera como
importante ou como imprescindível pra considerar pra aquele espaço considerado
como amigável à comunidade LBTQIA+?
E7: O meu olhar de gestor me leva pra essa questão, eu acho que o mais
impactante seja que tu chegue no lugar e tu identifique outras pessoas LGBTs
frequentando e também trabalhando. Eu acho que é isso que gera a sensação de tu
estar, a percepção, não só a percepção, mas a realidade mesmo de tu estar num lugar
no qual tu vai ser bem tratado e respeitado assim. Então eu acho que se uma empresa
busca atender bem esse tipo de público, ela tem que pensar nas contratações, porque
se não tiver alguém ali lidando com o público, de qualquer maneira, pode ser digital
também, não vai funcionar muito bem porque senão vai ficar só uma demagogia, um
discurso e eu acho que o que realmente faz as pessoas perceberem esse valor de
que esse lugar vai me respeitar são as contratações das pessoas que trabalham ali
sabe. Ou as pessoas que também só gerenciam ou os donos, enfim, todas as pessoas
envolvidas no lugar e o público também. Acho que o público também faz essa
distinção, que aí o público também, acho que tá relacionado com quem trabalha, é
tipo meio que as coisas vão se derivando.
Entrevistador: Por fim, eu gostaria de perguntar como você vê o cenário em
Porto Alegre, também como gestor e como cliente, sobre a divulgação, apoio à
177
capacitação das equipes em relação a diversidade nos espaços gastronômicos, como
bar, café, restaurante e etc., tanto pelos entes públicos, como a Secretaria de Turismo
e Comércio, como associações, da própria iniciativa privada.
E7: Talvez eu esteja viajando no que eu vou falar, mas eu acho que nos últimos
anos melhorou bastante. A minha percepção, talvez eu esteja dentro de uma bolha
que enxerga isso, não seja a realidade da maioria dos lugares, mas ao menos nos
lugares centrais, assim, todos os bairros centrais, eu acho que isso já é raro acontecer,
não é raro? é, eu acho que é raro sim, é raro acontecer situações muito vergonhosas
ou muito discriminatórias como sei lá, dez anos atrás era mais comum. eu também
vejo muito lugar se posicionado como LGBT, lugares novos no caso, empresas novas
posicionadas atrás da questão LGBT, do movimento, e eu acho que isso traz uma
visibilidade pra causa também, coisas que antigamente eram mais nichadas, sei lá,
perto do Venezianos ali, ah tinha alguns lugares específicos relacionados à noite, e aí
hoje em dia tem cafeterias, outros tipos de comércios que tem a pauta já dentro da
identidade mesmo, até na comunicação visual, na decoração, tudo. Então eu acho
melhorou bastante, mas acho que também virou um lugar comum pras empresas
abusarem de movimentos sociais pra vender, isso incomoda, né? Acho que falei isso
do jeito que eu lido com a questão. Principalmente de empresas que não tem isso no
seu DNA. Acho super estranho e acho que virou um negócio de tipo dia das mães,
Natal, mesmo. Uma coisa mais comercial que eu não vejo, eu acho até que não passe
uma confiança de que o lugar de verdade é tipo amigável aos LGBTs, eu pra mim, a
minha interpretação quando eu vejo essas coisas num geral, é de que o lugar é o
contrário do que tá falando, então pra mim já gera uma dissonância do que estão
comunicando com como eu enxergo aquilo que estão comunicando, até meio que o
contrário que eu enxergo. Então eu acho que tem lugares da cidade específicos em
que essas coisas proliferam. Então tem concentrações de pessoas LGBTs em bairros,
por exemplo. Cidade baixa é um, o Bonfim também é super friendly, amigável, acho o
Rio Branco também, no Quarto Distrito eu acho que tem vários lugares, que acabam
formando essas bolhas em que dá pra frequentar muitos lugares em que se sente
bem tratado, mas tu não enxerga uma política de promoção, por exemplo, pública ou
privada que nem as iniciativas como a Freeda, ou sei lá, com divulgação, identificação
e de educação. Eu acho que as pessoas estão muito focadas na educação que elas
aprendem na internet, nas redes sociais. Então, eu acho que é com o avanço dos
assuntos e das conversas que se tem em rede social, as pessoas acabam aprendendo
178
várias coisas. Aí você agora me lembrou também, um negócio que é bem mais comum
atualmente em algumas festas. Claro que elas são alternativas, são festas não
comerciais, mas há vários anos também tem listas trans, listas pra pessoas negras,
indígenas, PCDs, tem várias festas que permitem a entrada gratuita para pessoas
que, enfim.... parte de grupos minoritários, justamente pra promover a diversidade
também, entendendo que talvez elas tenham menos condições financeiras por
questões estruturais, dos preconceitos que elas enfrentam na vida. E isso também é
uma coisa que eu não via antes. Enfim, por isso que eu acho que eu comecei a
resposta dizendo que eu vejo muita coisa melhor do que eu via lá quando eu abri, e
agora lembrei de uma aula de marketing que eu apresentei um trabalho sobre a casa
de Pelotas e o professor... Eu estava falando sobre os clientes, né? E aí eu estava
falando, ah a gente tem um público muito fiel e a gente tem muito de pessoa hétero
lá, direto, a gente tem muitos clientes LGBTs, eu acho que isso tem a ver com comigo
e com os funcionários que tem aqui, que as pessoas se identificam, e aí meu professor
de marketing falou que eu tinha que trabalhar isso, sabe? Como um negócio pra
vender. E eu acho que é isso que as pessoas não LGBTs às vezes fazem, que é
aproveitar isso, e vai lá e divulga e faz marketing, faz isso e faz aquilo. Fica um negócio
super forçado, super falso e... Enfim, só contando uma anedota assim, uma historinha
nada a ver com o que tu perguntou. Mas é porque eu lembrei disso sim.
Entrevistador: Claro, ótimo, para a gente finalizar, gostaria de deixar aberto, se
tem mais alguma coisa nesse sentido que você gostaria de acrescentar, algum
pensamento ou percepção.
E7: Eu acho que dentro de LGBT tem algumas questões que eu acho que são,
por exemplo, errar pronome com pessoas trans, inclusive na minha loja. E isso me
incomoda bastante. Então acho que tem algumas questões dentro do meio LGBT que
não estão tão apaziguadas, talvez pra um homem gay seja mais simples atualmente
trabalhar, frequentar. Talvez para pessoas trans as coisas não sejam tão legais
atualmente. Claro, acho que melhorou sim. A gente já teve alguns funcionários trans
e acho que, fixo de contratado CLT, a gente teve duas pessoas trans, mas essa
primeira pessoa, ela transacionou com a gente né? Então o erro, de errar pronome ali
direto. me incomodava, muito, e normalmente vem das pessoas hétero mesmo, que
repete, parece que tem uma dificuldade maior, e eu sei que isso causa bastante
desconforto, essa mesma pessoa foi trabalhar num outro café também, que é bem
moderninho, que eu não falar o nome, e aí nisso ele foi demitido e depois da demissão,
179
e ele era tratado no masculino, mas depois da demissão a proprietária tratou só no
feminino, como forma de violência, e alegando que era o que estava no documento.
Então essas situações de violência eu acho que a comunidade trans sofra muito mais,
né? Nos lugares de trabalho atualmente. Só isso que eu que eu lembrei assim
relacionado.
Entrevistador: Bom, muito obrigado. Eu vou encerrar aqui a nossa conversa,
agradeço muito sua disponibilidade e participação.
180
APÊNDICE J - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA 8
Entrevistador: Antes de começar, gostaria de me apresentar. Sou Filipe,
formado em Gastronomia na UFSCSPA e estou concluindo meu mestrado em
Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo. Eu estou
conversando com gestores de espaços em Porto Alegre que são considerados
amigáveis à comunidade LGBTQIA+ sobre assuntos como hospitalidade, gestão de
negócios e perspectivas para esse cenário. Como especificado no termo de
consentimento que te enviei, você pode ficar bem à vontade se sentir desconfortável,
não quiser responder e quiser encerrar a entrevista. Nesta etapa da pesquisa, não
poderei identificar o gestor que está conversando comigo, nem saber de onde ele vem.
É possível prosseguir?
E8: Aham, podemos.
Entrevistador: Então eu vou começar te perguntando um pouco sobre a história
do Workroom, como que foi construído o projeto, um pouco sobre você, a sua
experiência no ramo de alimentos e bebidas.
E8: Tá beleza. Bom, eu antes de abrir o bar eu trabalhava na área de eventos
já há aproximadamente oito anos. Eu trabalhava numa empresa de grande porte, mas
a gente locava espaço pra realização de eventos. A gente não produzia, e eu cuidava
da parte da gestão de contratos, de fornecedores e dentre eles os ecônomos, os
fornecedores de alimentação. Isso fez com que eu tivesse uma bagagem, ou isso fez
com que eu tivesse um network, isso fez com que eu tivesse adquirido uma
experiência. E ao longo do tempo eu decidi que eu queria abrir um negócio, mas não
sabia exatamente o quê, e foi daí que surgiu a ideia numa mesa de bar, de cinco
amigos, sobre abrir um bar na cidade de Porto Alegre. Onde tinha muita oportunidade
de mercado, onde tinha muita drag, muito artista, e alinhado com o boom do que
estava na época assim. Então eu decidi abrir um bar, isso foi assim. A ideia surgiu em
outubro de 2016, abril de 2017 já estava com plano de negócios pronto e abrindo bar,
então foi tudo muito corrido. Só que eu nunca tive experiência na área da alimentação,
isso foi eu fui adquirindo ao longo do tempo assim, né? O que eu tinha era a
experiência no ramo de eventos, que foi o que me instigou inicialmente. Mas
experiência das pessoas de estarem aqui, curtindo shows e produzindo eventos
especiais, né? A interação com a drag e contrapartida também, as pessoas bebendo
e comendo e tendo essa proximidade com artista. E isso é bem curioso sim porque
181
eu fui me dar conta de que o meu produto na verdade é o drink e a comida, e eu
sempre criei que idealizei alguma coisa na minha cabeça que era em relação a
experiência vivida aqui no bar, e só estou modificando aos poucos, por incrível que
pareça, por causa de seis, mais de seis anos. Eu fui me dar conta há pouco tempo
isso assim, sabe? Mas eu não respondi à pergunta falando de...
Entrevistador: De como foi a questão da localização, de da escolha da
localização pra esse projeto. O que que levou em consideração...
E8: Isso, isso. Eu escolhi a Cidade Baixa por ser um bairro plural. Eu acho que
é uma zona boêmia da cidade, mas é uma zona onde circulam muitas pessoas, acho
que a diversidade está muito presente, né? E é um espaço, que é um bairro que, ao
meu ver, ele não tem um viés elitista, mas ao mesmo tempo também não tem um viés,
que a gente sabe que tem muitos bairros que são mais marginalizados né? Que tem
pouco acesso. Então eu acho que é um bairro onde estava um equilíbrio, onde tinha
tudo a ver com a proposta do bar.
Entrevistador: E pensando que ele tem um foco no público LGBT, na cultura
drag, e que seria considerado atualmente como hétero-friendly até, porque ele é tem
esse foco, mas é amigável a comunidade em geral, como você caracteriza o público
que frequenta o bar atualmente?
E8: A Workhoom é um espaço que levanta uma bandeira LGBT. A gente é um
espaço político, é um espaço que pulsa diversidade, mas a gente sempre fala que ele
é aberto pra os tipos de pessoas, desde que entendam, respeitam o espaço onde
estão indo. Então a gente tem muito público hétero, principalmente das mulheres. Na
verdade, diria do hétero noventa por cento, é mulher cis e trans também, mas é o que
nos instiga. A gente tem um público alvo LGBT, os amantes de drag, ah os amantes
de DragRace, mas também as outras pessoas estão a fim de ter uma experiência
diferenciada, e inovadora porque a gente sabe que tem poucos espaços aqui na
cidade com essa proposta e o nosso público ele vem se transformando um pouco. ele
inicialmente era um público muito jovem, agora ele está um público sei lá... continua
jovem, da casa dos vinte aos quarenta, mas a gente percebe que é inicialmente era
uma galera que estava iniciando a faculdade que vinha mais aqui, agora já é uma
galera que já está formada. Eu acho que meio que está seguindo o público inicial, está
vindo uma galera mais com mais idade, que ficou de repente conhecendo o bar e ficou
entendendo que é uma proposta sentada, que não é balada e que tem outros projetos
que talvez interessem, tipo um drag bingo, um drag brunch. Que é um um evento mais
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diurno, então é um público majoritariamente ele É de pessoas LGBTs, mas que
também pessoas amante da arte drag.
Entrevistador: Em algumas visitas, eu pude perceber desde a presença de
famílias, de comemorações de aniversário, algo bem diferente do público que às
vezes é esperado num espaço que tem esse foco.
Entrevistador: Pensando na concepção física e de decoração, ele tem uma
inspiração muito grande no programa Drag Race, também utiliza bastante bandeiras,
símbolos, os banheiros tem as mensagens de que são banheiros sem gênero, e outras
questões que que que trazem essa simbologia pra comunidade assim. Qual a
importância disso na construção do espaço?
E8: Eu acho que está bem alinhado com a proposta, com a cultura do bar. A
gente tem cartazes no bar referente ao respeito, sobre ser um espaço contra
preconceito, ter um banheiro sem gênero. Atendo, pessoas circulando. Pessoas trans,
pessoas de dentro da comunidade, então acho que tem tudo a ver com a nossa
estratégia, nossa cultura, quem nós somos, nossos valores. Enfim, acho que está tudo
muito atrelado. Eu não conseguia ver diferente assim.
Entrevistador: Isso influencia no próprio cardápio, os drinques que levam
nomes diferentes, de drags. Toda concepção de alimentos e bebidas também no bar.
E8: Sim, com certeza. Inclusive a gente pensa também até nos nomes das
drags, e daqui a pouco ter drags gordas, drags pretas, drags trans, até pode ser uma
coisa que talvez não chame muito a atenção, mas pra nós esse detalhe é importante
também, né? Que essa diversidade ela também se reflita nos produtos, nas escolhas
que a gente faz, que as vezes podem ser pequenas, mas que pra nós tem um
significado. Se uma pessoa percebeu isso, “ah eles tiveram esse cuidado e tal”, pra
nós já é gratificante.
Entrevistador: e na equipe, são quantas pessoas atualmente?
E8: Hoje a gente tá com... eu tenho um segurança, eu tenho a Evelyn e o Igor
no salão, eu tenho o Ademar no bar e mais um barback sextas e sábados. Eu tenho
um cozinheiro, um auxiliar. Eu tenho um sete pessoas.
Entrevistador:Como a diversidade é trabalhada também dentro da tua equipe
de atendimento? Como que você vê essa questão?
E8: A gente procura ter uma diversidade também assim na maioria das dos
colaboradores são pessoas da comunidade LGBT né. a pessoa que me substitui
quando eu não estou aqui ela é uma mulher trans e que faz também atendimento no
183
salão, mas quando não, fica no caixa, a gente tem uma pessoa trans também de
barback o no bar, a gente tem um homem, homem gay no salão também. E acho que
é isso.
Entrevistador: Existe alguma proposta ou foi feito algum treinamento com essa
equipe em relação ao atendimento, a acolhida dos clientes ou é uma coisa mais
natural?
E8: Olha, eu acho que tem muito a ver. Acho que nosso diferencial é o
atendimento, sempre foi, sabe? A gente tem uma cultura aqui de tentar fazer com que
as pessoas se sintam bem acolhidas, por entender que é um espaço, a gente quer
que as pessoas se sintam seguras, à vontade, além do entretenimento. Então isso
está muito enraizado, eu procuro selecionar pessoas também que entendam isso,
então posso te dizer que é um alinhamento que tem, desde a porta até a cozinha. A
gente está bem focado nisso assim. então isso acaba sendo um critério também de
seleção, de conversa, E de constante diálogo durante a operação do negócio. De
discutir algumas questões que aconteceram, de trazer ideias novas, a gente está
sempre conversando.
Entrevistador: Mesmo com todo esse ambiente, a equipe, essa clientela, já
tiveram algum problema de preconceito dentro ou alguma situação mais crítica dentro
da operação?
E8: Olha, eu vou te dizer que preconceito a gente nunca teve. A gente nunca,
e era um receio inicial, até porque quando a gente inaugurou o bar ele teve uma
repercussão dentro da mídia, e a gente ficou com um pouco de receio. Mas
honestamente, eu não lembro de ter nenhuma situação durante esses seis anos.
Entrevistador: Nem minha relação a vizinhos, ou vizinhança?
E8: Olha, pra dizer vizinho, agora que me ocorreu, a gente tem um prédio
vizinho, né? Na esquina, que algum tempo atrás ficavam jogando ovo nas drags, nas
pessoas que estavam aqui, eu não sei se foi por causa que a gente começava a
revidar com gritaria e questionar tudo, que eles pararam, a gente nem sabe quem foi,
quem é a pessoa. daqui a pouco a pessoa até se mudou, sei lá, foi o máximo assim
do que aconteceu.
Entrevistador: Pensando na questão fora da atuação da casa, da operação,
como você vê essa questão de apoio à comunidade?
E8: É eu entendo que é muito essencial. Eu costumo ter uma relação bem
próximas assim com ONGs voltadas pra comunidade LGBTIA+, eu procuro me
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articular com projetos. A parada por ser um evento que tem tudo a ver com os bares,
a gente procura estar sempre presente, até que questões políticas. O bar ele é
apartidário, mas tem questões que, por exemplo, pra nós é fundamental, como lutar
contra o bolsonarismo, né? Que pra nós é uma questão que fala sobre a nossa
identidade, fala contra os nossos interesses, então não tem como não se manter
favorável a lutar contra isso, então a gente acaba levantando uma bandeira, né? E
ações sociais também voltadas sempre, projetos voltados pra travestis, pessoas trans,
que estão vulnerabilidade. Ou uma ONG que está com um projeto, uma campanha de
agasalho que vai ser destinado pra ala de presídios das travestis. entender que, claro,
a gente pode ampliar mais, mas sempre não esquecer que foco é a comunidade
LGBT, acho que é sempre foi assim né? E a cena drag em Porto Alegre é muito legal
de acompanhar, né? Porque realmente eu antes de abrir o bar, eu só via drag em
festas e eram muito eventuais, e às vezes a gente tinha que ficar esperando até de
madrugada pra ver um show, era cansativo também, né? Então hoje, a gente tem o
acesso às pessoas, ah eu quero ver drag, onde ver drag, no work room, sabe? Acho
que já tá meio que naturalizado isso, assim, é muito bacana perceber que as drags
hoje tem um espaço, uma casa, uma segunda casa que elas podem dizer que é o
local de trabalho, que elas vão estar periodicamente aqui, que elas vão estar trazendo
projetos.
Entrevistador: E isso difundiu pra outros espaços, né?
E8: A partir, outros espaços de bares e cafés começaram a sair um pouco do...
acaba que é uma concorrência, mas eu vejo isso como uma coisa muito positiva. Eu
acho que é mais espaço pra elas trabalharem, é mais disseminação da cultura drag,
eu acho que isso só favorece assim, né?
Entrevistador: E aí partindo um pouco pra cenário de Porto Alegre como que
você vê as políticas públicas ou privadas, de associações ou entidades, que trabalhem
um pouco com promoção e treinamento dos espaços em gera para atendimento ao
publico LGBTQIA+.
E8: Logo quando a gente abriu o bar aqui, mesmo tendo uma comunidade, sei
lá, 90% de LGBTs e eu na figura também de um homem gay, esses conduzindo à
frente desse negócio contratou a ONG Somos aqui de Porto Alegre pra obter um selo
de diversidade. É um projeto muito legal que eu que eu descobri na época que era
uma capacitação. Que ele ofertava um consultor, na época era o Gabriel Galli, e o
Guilherme eu acho que é psicólogo, e eles vieram aqui no bar e a gente reuniu todo
185
mundo, a gente discutiu temas, a gente discutiu abordagem, discutiu uma série de
questões que as vezes por mais que não fosse tanta novidade, sempre veio
questionamentos, reflexões, né? E tu tem um selo que te resguarda nesse sentido...
“ó a gente pensou sobre”. é muito bacana esse projeto, ele foi levado depois de alguns
anos pro Cabaret, que a gente achou muito interessante de por ser um espaço
também que tem muito público LGBT né? É uma casa noturna que não sei se tu
conhece, eu comecei a produzir eventos lá e foi uma coisa que me instigou, a maior
parte do público é LGBT e tipo cadê as ações? Cadê a participação na parada? Cadê
o selo? Cadê? E isso é muito legal porque hoje conversando com o gerente de lá, a
gente percebe também essa transformação que teve assim. Esse novo entendimento
de quem eles são, do que que eles representam dentro da comunidade, desse público,
mas o que eu percebo assim é que em termos de política pública assim é está muito
pouco falado, eu vou ser bem sincero assim, eu não vejo muito, eu acho que essa tua
dificuldade em buscar, né? Na pesquisa acho que isso é reflete a realidade, né? Não,
não, não, não tem muito, acaba que fica mais no Pink Money, naquela coisa do nós
apoiamos nós gostamos, nós não temos preconceito, mas eh falta um passo além,
mesmo, de certificação, de incentivos, né? E o que eu percebo hoje, o que tem é de
ONGs, mas que, por exemplo, esse projeto agora ele não existe mais, não sei se teve
pouca adesão das empresas privadas, porque tem um custo, é um investimento né?
não vejo iniciativa privada também, oferecendo muitos tipos de consultoria. e isso até
me já me ocorreu também, de daqui a pouco tentar capitanear alguma coisa nesse
sentido sabe? De oferecer um produto, um serviço de capacitação, sabe? Por que
não?
Entrevistador: Para finalizar então, como o Rodrigo gestor e pessoa LGBT, que
faz parte da comunidade, gestor dum bar que tem um foco na comunidade, mas
também como consumidor e que vive em Porto Alegre e os espaços e tal. O que você
considera importante para os gestores pensarem, para tornar o seu espaço amigável
à comunidade, que as pessoas se sintam à vontade, seguras, acolhidas, pra ser quem
são, expressar sentimentos, afetos.
E8: Olha, eu acho que inicialmente é manter uma cultura muito consolidada
assim, né? Sobre qual e o Como que, como que vocês gostariam de ser tratados. E
esse alinhamento ele tem que ser toda a força de trabalho, assim, toda a equipe. Ah,
eu gostaria, quando eu vou em algum lugar, eu gosto de que as pessoas sejam gentis,
assim como eu na condição de cliente também ser gentil com as pessoas. Eu acho
186
que isso é o principal, acho que ter, mesmo que o óbvio seja óbvio, mas às vezes eu
acho que tu tem um uma placa num lugar, uma bandeirinha, alguma coisa que tipo...
olha esse espaço aqui está dizendo que eu estou seguro aqui dentro, se caso
acontecer, eu posso, tenho a quem recorrer, porque às vezes a gente vai para lugares
onde a gente sabe que a gente não é bem-vindo, mas a gente está lá mesmo assim
e sempre fica aquela coisa de tu ficar meio retraído, se acontecer alguma coisa como
é que a gente vai se portar, quem vai estar do meu lado e quem vai bancar junto,
quem é aliado? Então eu acho que entender que tu está no local e que tem pessoas
aliadas a ti se caso acontecer alguma coisa, acho que isso é muito legal, isso é muito
importante, sabe? Então eu não sei se eu estou fugindo, muitas vezes eu fico
pensando, então eu vejo que primeiro é manter um diálogo com a equipe, ter uma
equipe diversa. E ouvir muito ela, ouvir muito os clientes também, tentar ter essa troca,
esse diálogo aberto. Ahm, e acho que tentar enquanto líder de um do negócio se
articular, por ir com o entorno com projetos, com as pessoas, com a comunidade. Eu
acho muito importante é ter essa relação que eu tenho, por exemplo, com as ONGs.
Acho que foi através disso inclusive que eu consigo estar na Parada e que sou
lembrado às vezes em eventos, né? Em participações. E ter essa leitura, por exemplo,
próxima semana a gente foi contatado por um grande escritório de advocacia aqui da
fazer um bate-papo no dia vinte e oito do orgulho. Legal, acho bacana. Inclusive
conheço a sócia, é uma mulher lésbica. Conheci uma vez num numa entrevista na
RBS que a gente participou junto. Então tem uma proximidade legal, assim sei que
são as melhores intenções, mas OK entendi que vocês querem fazer um evento,
entendi que vocês querem mostrar pra comunidade que a gente tem essa parceria
com a WorkRoom, mas a gente é um negócio também, a gente quer que tenha drag,
a gente quer que nessa roda de conversa tenha pessoas trans, tenham pessoas
pretas. Se a gente vai abrir pro público, a gente quer ter uma garantia de que vai ter
um consumo aqui. Então hoje eu me sinto muito mais à vontade de reivindicar ou meio
que impor essas contrapartidas, porque eu consolidei uma marca que já é conhecida
no mercado por isso assim, sabe? Então pra mim seria muito fora eu aceitar só por
questões comerciais. E eu acho que isso é porque o Rodrigo criou essa bagagem ao
longo desses seis anos, não é? De conversar, se articular, de entender, de
experienciar, de errar também, enfim. Pode estar sempre atento.
Entrevistador: Então, pra encerrar mesmo, se quer a algum pensamento, algo
que te ocorre dessa conversa aqui, que Gostaria de falar ou compartilhar no final.
187
E8: Pois é, tu sabe que hoje curiosamente eu estava participando numa reunião
com o SEBRAE, a gente está com um projeto, e daí no meio da conversa me veio
sobre o diferencial da WorkingRoom, ele é, sempre foi e sempre vai ser um
atendimento, é um conjunto de experiências, é o show, são os drinks e a comida, mas
eu acho que mais do que isso assim, é entender que as pessoas elas vão estar se
sentindo bem acolhidas aqui. E eu bato muito nessa tecla assim, acolhimento,
segurança, sabe? Diversão e de respeito por ser uma casa política também, e quando
eu falo política, não porque de novo nos levantamos uma bandeira, um partido, mas
porque tem um posicionamento muito claro. Então isso dá uma espécie de felicidade,
de realização sabe, de que está construindo uma coisa legal para Porto Alegre e que
reconhecem isso, sabe? E às vezes isso é meio difícil também, porque em pesquisas
que a gente faz de satisfação, que a gente quer saber como precisa melhorar, muitas
vezes, É ótimo receber elogios, e a gente percebe que por conta do carinho que a
gente tem dos clientes fica meio difícil de ter esse acesso, sabe? Geralmente quando
acontece isso, é alguém que está vindo pela primeira vez, não nos conhece e tal, mas
a maioria dos nossos clientes são pessoas que já vieram pelo menos duas, três vezes
aqui, sabe? Isso é muito legal e então se volta, porque tem um carinho pela proposta
do lugar. Então sei lá, fiquei pensando sobre isso, e depois agora que a gente tá
conversando, voltou.
Entrevistador: Eu te agradeço muito a disponibilidade e participação.
188
ANEXO A – TERMOS DE CONSENTIMENTOS
189
Universidade Anhembi Morumbi | Campus São Paulo - Vila Olímpia
Rua: Casa Do Ator, Vila Olímpia, São Paulo, SP
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado(a) Sr.(a), agradeço a atenção e a contribuição para o desenvolvimento
deste projeto científico, orientado pela Profa. Dra. Valéria Ferraz Severini, para o
Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade (Mestrado) da Universidade Anhembi
Morumbi, Instituição do grupo Ânima Educação.
Minha pesquisa, denominada “A HOSPITALIDADE EM ESPAÇOS
GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY DE PORTO ALEGRE (RS)”, visa
compreender a hospitalidade através da disponibilidade de espaços gastronômicos
acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades. Nesse sentido, sua
contribuição é de fundamental importância para a produção de conhecimento científico
sobre o tema aqui apresentado.
O conteúdo desta entrevista será pautado apenas no assunto referente à pesquisa.
As respostas serão gravadas e posteriormente transcritas, analisadas e publicadas.
Asseguro-lhe, porém, que a gravação poderá ser interrompida a qualquer momento, de
acordo com sua determinação e qualquer dúvida com relação à pesquisa poderá ser
esclarecida. Ademais, a identidade da pessoa entrevistada será preservada. Para dar
seguimento ao projeto, peço que selecione a opção a seguir e assine (rubrica) e date este
documento.
Autorizo, por meio do presente termo, o mestrando Filipe Arnoni, RA:
125111379545, a colher o meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a
nenhuma das partes. Não obstante, libero a utilização do depoimento, fornecido
em entrevista, para fins científicos e de estudos (dissertações, teses, livros, artigos
e slides), em favor do estudante, acima especificado.
Nome: ___
Data:_____________________________
_____ ________________
Assinatura
Agradeço e subscrevo-me.
Atenciosamente,
________________________
Filipe Arnoni
Email: filipearnoni@gmail.com
Fone: (51) 981786736
Professora orientadora: Profa. Dra. Valéria Ferraz Severini.
14 de Junho de 2023
190
191
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Rua: Casa Do Ator, Vila Olímpia, São Paulo, SP
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado(a) Sr.(a), agradeço a atenção e a contribuição para o desenvolvimento
deste projeto científico, orientado pela Profa. Dra. Valéria Ferraz Severini, para o
Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade (Mestrado) da Universidade Anhembi
Morumbi, Instituição do grupo Ânima Educação.
Minha pesquisa, denominada “A HOSPITALIDADE EM ESPAÇOS
GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY DE PORTO ALEGRE (RS)”, visa
compreender a hospitalidade através da disponibilidade de espaços gastronômicos
acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades. Nesse sentido, sua
contribuição é de fundamental importância para a produção de conhecimento científico
sobre o tema aqui apresentado.
O conteúdo desta entrevista será pautado apenas no assunto referente à pesquisa.
As respostas serão gravadas e posteriormente transcritas, analisadas e publicadas.
Asseguro-lhe, porém, que a gravação poderá ser interrompida a qualquer momento, de
acordo com sua determinação e qualquer dúvida com relação à pesquisa poderá ser
esclarecida. Ademais, a identidade da pessoa entrevistada será preservada. Para dar
seguimento ao projeto, peço que selecione a opção a seguir e assine (rubrica) e date este
documento.
Autorizo, por meio do presente termo, o mestrando Filipe Arnoni, RA:
125111379545, a colher o meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a
nenhuma das partes. Não obstante, libero a utilização do depoimento, fornecido
em entrevista, para fins científicos e de estudos (dissertações, teses, livros, artigos
e slides), em favor do estudante, acima especificado.
Nome:______________________________
Data:_____________________________
_________________________________
Assinatura
Agradeço e subscrevo-me.
Atenciosamente,
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Filipe Arnoni
Email: filipearnoni@gmail.com
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deste projeto científico, orientado pela Profa. Dra. Valéria Ferraz Severini, para o
Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade (Mestrado) da Universidade Anhembi
Morumbi, Instituição do grupo Ânima Educação.
Minha pesquisa, denominada “A HOSPITALIDADE EM ESPAÇOS
GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY DE PORTO ALEGRE (RS)”, visa
compreender a hospitalidade através da disponibilidade de espaços gastronômicos
acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades. Nesse sentido, sua
contribuição é de fundamental importância para a produção de conhecimento científico
sobre o tema aqui apresentado.
O conteúdo desta entrevista será pautado apenas no assunto referente à pesquisa.
As respostas serão gravadas e posteriormente transcritas, analisadas e publicadas.
Asseguro-lhe, porém, que a gravação poderá ser interrompida a qualquer momento, de
acordo com sua determinação e qualquer dúvida com relação à pesquisa poderá ser
esclarecida. Ademais, a identidade da pessoa entrevistada será preservada. Para dar
seguimento ao projeto, peço que selecione a opção a seguir e assine (rubrica) e date este
documento.
Autorizo, por meio do presente termo, o mestrando Filipe Arnoni, RA:
125111379545, a colher o meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a
nenhuma das partes. Não obstante, libero a utilização do depoimento, fornecido
em entrevista, para fins científicos e de estudos (dissertações, teses, livros, artigos
e slides), em favor do estudante, acima especificado.
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Agradeço e subscrevo-me.
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Morumbi, Instituição do grupo Ânima Educação.
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GASTRONÔMICOS LGBTQIA+ FRIENDLY DE PORTO ALEGRE (RS)”, visa
compreender a hospitalidade através da disponibilidade de espaços gastronômicos
acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades. Nesse sentido, sua
contribuição é de fundamental importância para a produção de conhecimento científico
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O conteúdo desta entrevista será pautado apenas no assunto referente à pesquisa.
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Asseguro-lhe, porém, que a gravação poderá ser interrompida a qualquer momento, de
acordo com sua determinação e qualquer dúvida com relação à pesquisa poderá ser
esclarecida. Ademais, a identidade da pessoa entrevistada será preservada. Para dar
seguimento ao projeto, peço que selecione a opção a seguir e assine (rubrica) e date este
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e slides), em favor do estudante, acima especificado.
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compreender a hospitalidade através da disponibilidade de espaços gastronômicos
acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades. Nesse sentido, sua
contribuição é de fundamental importância para a produção de conhecimento científico
sobre o tema aqui apresentado.
O conteúdo desta entrevista será pautado apenas no assunto referente à pesquisa.
As respostas serão gravadas e posteriormente transcritas, analisadas e publicadas.
Asseguro-lhe, porém, que a gravação poderá ser interrompida a qualquer momento, de
acordo com sua determinação e qualquer dúvida com relação à pesquisa poderá ser
esclarecida. Ademais, a identidade da pessoa entrevistada será preservada. Para dar
seguimento ao projeto, peço que selecione a opção a seguir e assine (rubrica) e date este
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Autorizo, por meio do presente termo, o mestrando Filipe Arnoni, RA:
125111379545, a colher o meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a
nenhuma das partes. Não obstante, libero a utilização do depoimento, fornecido
em entrevista, para fins científicos e de estudos (dissertações, teses, livros, artigos
e slides), em favor do estudante, acima especificado.
___________
Data:_____________________________
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Agradeço e subscrevo-me.
Atenciosamente,
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Filipe Arnoni
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compreender a hospitalidade através da disponibilidade de espaços gastronômicos
acolhedores para a comunidade LGBTQIA+ nas grandes cidades. Nesse sentido, sua
contribuição é de fundamental importância para a produção de conhecimento científico
sobre o tema aqui apresentado.
O conteúdo desta entrevista será pautado apenas no assunto referente à pesquisa.
As respostas serão gravadas e posteriormente transcritas, analisadas e publicadas.
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acordo com sua determinação e qualquer dúvida com relação à pesquisa poderá ser
esclarecida. Ademais, a identidade da pessoa entrevistada será preservada. Para dar
seguimento ao projeto, peço que selecione a opção a seguir e assine (rubrica) e date este
documento.
Autorizo, por meio do presente termo, o mestrando Filipe Arnoni, RA:
125111379545, a colher o meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a
nenhuma das partes. Não obstante, libero a utilização do depoimento, fornecido
em entrevista, para fins científicos e de estudos (dissertações, teses, livros, artigos
e slides), em favor do estudante, acima especificado.
Nome:______________________________
Data:_____________________________
_
Assinatura
Agradeço e subscrevo-me.
Atenciosamente,
________________________
Filipe Arnoni
Email: filipearnoni@gmail.com
Fone: (51) 981786736
Professora orientadora: Profa. Dra. Valéria Ferraz Severini.
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ANEXO B – CARTILHA POA LGBT
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ANEXO B – MAPA TURÍSTICO DE PORTO ALEGRE
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